Azul (AZUL4) negocia com bondholders e planeja dívida garantida com TudoAzul
Alex Malfitani, CFO da aérea, quer concluir renegociações até junho; Rothschild assessora credores
Após renegociar a dívida com arrendadores das aeronaves, em março, a Azul (AZUL4) agora foca na negociação com os detentores de títulos de dívida da companhia emitidos no exterior com vencimento em 2024 e 2026.
As tratativas ainda estão em uma fase inicial, mas o CFO da Azul, Alex Malfitani, antecipa que a proposta da companhia deve envolver um alongamento dos prazos de vencimento dos títulos e uma nova captação, que teria como colateral recebíveis do programa de fidelidade da empresa aérea, o TudoAzul.
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“A ideia é levantar um capital adicional por meio de uma nova oferta de bond, que vai depender do momento e do custo e ainda não definimos de quanto será”, disse Malfitani ao Pipeline, site de negócios do Valor.
Um grupo de bondholders que representa cerca de dois terços dos papéis contratou o banco Rothschild para assessorá-lo nessa negociação. A Azul tem US$ 400 milhões em bonds que vencem em outubro de 2024 e mais US$ 600 milhões em títulos que vencem em 2026.
Enquanto negocia com os detentores de títulos de dívida, a Azul também tenta alcançar 100% dos arrendadores das aeronaves na renegociação anunciada em março – naquele momento, a companhia já tinha um acordo com 80% arrendadores, afastando o temor do mercado de que a empresa buscasse uma recuperação judicial como aconteceu com a Latam após a pandemia.
A dívida com arrendadores representa 90% do passivo da companhia, o que representa cerca de R$ 15 bilhões a valor presente, de acordo com o CFO.
“Estamos bem encaminhados nessas conversas”, disse Malfitani. “Queremos finalizar a negociação com os arrendadores das aeronaves e bondholders até o fim de junho.”
A Azul renegociou com a maioria dos arrendadores e fabricantes de aeronaves o pagamento de dívidas que tinham sido postergadas por conta da pandemia e teriam um impacto no caixa de cerca de R$ 3 bilhões, além de uma redução no valor do aluguel das aeronaves.
Pelo acordo com esse grupo, 40% do total renegociado será quitado com a emissão de um título em dólar com vencimento em 2030, cujo custo ainda será anunciado ao mercado, e 60% será pago em ações, cujo preço de conversão ainda não foi revelado. A diluição dos atuais acionistas vai depender do preço de conversão da ação.
No momento do anúncio, a ação da Azul foi avaliada a um múltiplo de oito vezes o Ebitda. Hoje, a ação negocia a um múltiplo de cinco a seis vezes o Ebitda, e Malfitani espera que a conversão fique mais perto de um múltiplo entre sete a oito vezes.
A Azul espera encerrar 2023 com um Ebitda recorde de mais de R$ 5 bilhões, o que representa um crescimento de 56% em relação a 2022. Com isso, a companhia deve interromper a queima de caixa e atingir o breakeven da operação neste ano, devendo ter geração de caixa positivo em 2024, explica o CFO.
Com a reabertura das fronteiras desde o ano passado, a demanda por voos internacionais tem crescido acima da doméstica, ainda que ambas já estejam acima dos níveis pré-pandemia. Em março, a Azul registrou um aumento de 8,1% no tráfego de passageiros em relação ao mesmo período do ano passado, puxado pelo mercado internacional, cuja demanda cresceu 89,7% e representa 20% do negócio da empresa aérea.
Em 26 de abril, a companhia começa a operar voos diários do aeroporto de Viracopos, em Campinas, para Paris. A empresa já tem voos para Orlando, Miami, Lisboa, Uruguai e Curaçao e pode acrescentar neste ano mais um ou dois destinos internacionais, afirma Malfitani.
No mercado doméstico, a Azul atende 158 destinos e pretende ampliar esse número para 200, sem prazo definido. Um movimento relevante para a operação local foi efetivado em março, quando a Azul mais que dobrou sua operação em Congonhas, na cidade de São Paulo, o aeroporto mais rentável do país.
No Rio, o governo tem discutido reduzir o movimento no aeroporto de Santos Dumont para abaixo de 10 milhões de passageiros em 2023 com o objetivo de incentivar o movimento no Galeão, aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Malfitani acredita que o problema do Galeão não é a competição com outro aeroporto. “A Azul acredita na soberania do cliente”, disse.
A companhia está acompanhando também a discussão sobre um programa do governo federal para vender passagens a R$ 200 a um público específico como aposentados, funcionários públicos e estudantes. Malfitani afirma que tudo que ajuda a desenvolver o mercado de aviação no Brasil é bem-vindo.
“Precisamos ver quais os detalhes do programa. O Brasil tem potencial grande de aumentar a penetração de transporte aéreo no país”, avalia, ressaltando que a média no país não chega a um voo por pessoa, enquanto nos EUA a média é de três voos.
Por Silvia Rosa, do Valor Econômico