Como a Apple levou o Facebook ao nocaute de US$ 10 bilhões
Apple introduziu mudanças de privacidade de software no ano passado, prejudicando o modelo de negócios da controladora do Facebook
Ontem, quando a Meta perdeu mais de US$ 200 bilhões de seu valor de mercado, seu CEO, Mark Zuckerberg, responsabilizou a concorrente TikTok, o aplicativo de vídeos curtos, pela queda nos lucros e pela perda de usuários.
A Meta também perdeu cerca de US$ 10 bilhões em receita desde que a Apple introduziu mudanças de privacidade de software no ano passado, prejudicando o modelo de negócios da controladora do Facebook, baseado em anúncios dirigidos.
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“O que é tão extraordinário é que a TikTok já é tão grande como um concorrente e, além disso, continua a crescer a um ritmo bastante acelerado a partir de uma base que já é grande”, disse ele ontem. “Embora estejamos crescendo de forma extremamente rápida, temos também um concorrente que está crescendo a um ritmo bem rápido também.”
Além do TikTok e da Apple, fatores macroeconômicos, como inflação e cadeia de insumos desequilibrada, comprimem os orçamentos dos anunciantes.
Os usuários mais jovens estão fugindo para plataformas como a TikTok, controlada pela chinesa ByteDance. Pela primeira vez desde que a Meta abriu o capital, os usuários frequentes diários de toda a sua linha de aplicativos caíram ligeiramente, enquanto o número de usuários frequentes mensais permaneceu estagnado.
“Este foi um dos mais chocantes resultados de meus 27 anos de carreira”, disse Rich Greenfield, um dos sócios da consultoria LightShed. “Não há outra maneira de reagir a isso a não ser considerar que o Facebook está sendo existencialmente ameaçado pela TikTok.”
Zuckerberg tenta diversificar a receita para além dos anúncios publicitários. Mas uma iniciativa comandada pelo Facebook de lançar uma moeda digital global foi abandonada nesta semana após esbarrar em obstáculos regulatórios. Restou ao CEO perseguir o metaverso, um mundo on-line, preenchido por avatares e respaldado por tecnologia de realidade virtual e de realidade aumentada.
O Facebook derrotou anteriormente contestações à sua hegemonia em redes sociais por meio de aquisições, como quando arrebatou rapidamente o aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram e a plataforma de troca de mensagens WhatsApp. Por outro lado, sua divisão de anúncios tem ficado, em grande medida, a salvo de danos causados por concorrentes como o Twitter e a Reddit, que não tiveram o mesmo acesso a dados detalhados dos usuários.
Mas as mudanças determinadas pela Apple para o software iOS que ativa iPhones estão tendo impacto devastador sobre o modelo da Meta. Isso contrasta de forma marcante com a disparada imprevista dos anúncios no Google. Os executivos do Google disseram estar assistindo a uma sólida demanda da parte de anunciantes de todas as categorias, especialmente das varejistas, e que o nível de atividade dos consumidores tem se mostrado robusto.
Alguns analistas sugeriram, após os resultados do Google, que a empresa estaria se beneficiando indiretamente das mesmas mudanças de privacidade adotadas pela Apple que prejudicaram o Facebook. Sua busca patrocinada – a principal fonte de seu recente desempenho acima da média – é menos dependente de dados pessoais reunidos nos aparelhos da Apple.
Os resultados de ontem também cristalizaram suspeitas alimentadas há muito tempo de que a Meta está perdendo a guerra por atenção para as concorrentes, ao transitar de crise em crise em torno de privacidade e de moderação durante os últimos dez anos.
Pesquisa realizada pela Forrester detectou que a utilização semanal da TikTok ultrapassou a do Instagram entre jovens de 12 a 17 anos nos Estados Unidos em 2021. A Meta tenta clonar a TikTok com sua funcionalidade de vídeo de formato curto Reels.
A mudança está obrigando a Meta a mudar para um modelo de negócios menos lucrativo, em que os anúncios colocados no “feed” (lista de atualização de conteúdo) de vídeo atraem menos dinheiro do que anúncios colocados em um “feed” de notícias ou em sua funcionalidade efêmera Stories.
Pela primeira vez em seus resultados, a Meta arrolou em separado sua divisão Facebook Reality Labs, que responde por seus produtos de realidade virtual e aumentada bem como por seu empenho na área do metaverso. Isso mostrou que a divisão incorporou US$ 2,3 bilhões em receita em 2021 após o recorde de vendas de seu dispositivo Oculus VR. Está longe de ser lucrativa, ao contabilizar um prejuízo operacional de US$ 10,2 bilhões para o ano como um todo.