Após caso Roberto Jefferson, analistas veem volatilidade do mercado até o dia da eleição

Analistas veem volatilidade do mercado até o dia da eleição

Ibovespa e dólar: confira o desempenho dos ativos de risco - Foto: Arquivo / B3
Ibovespa e dólar: confira o desempenho dos ativos de risco - Foto: Arquivo / B3

O dólar comercial registrou na segunda-feira sua maior alta desde abril, enquanto a Bolsa desabou. Houve fatores externos, como a China, mas teve peso maior o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson, que no domingo resistiu à prisão e disparou contra agentes federais. Além da avaliação de que isso pode atrapalhar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Jefferson, analistas começam a ver risco de instabilidade institucional.

O dólar subiu 3,02%, a R$ 5,3024, a maior alta desde os 4,04% de 22 de abril. Já o Ibovespa caiu 3,27%, aos 116.013 pontos. Foi o pior desempenho desde 26 de novembro de 2021, quando caiu 3,39%.

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Com isso, só segunda-feira a Bolsa perdeu R$ 135,5 bilhões em valor de mercado, segundo dados do TradeMap levantados por Einar Rivero. A cifra equivale à capitalização de mercado do BTG Pactual.

“Esse episódio, independentemente de ele ter ou não uma relação direta com o Bolsonaro, pode gerar essa percepção negativa. Estamos no campo da suposição, mas como existe esse potencial com relação ao Bolsonaro, que vinha muito forte nos últimos dias, é normal o que aconteceu no pregão”, destaca o presidente do conselho da Jive|Maua e ex-diretor do Banco Central (BC), Luiz Fernando Figueiredo.

Na semana passada, o Ibovespa subiu 7% diante da percepção, por parte do mercado, de uma melhora de Bolsonaro nas pesquisas, o que impulsionou as ações de estatais. Agora, com a reviravolta negativa, teriam aproveitado para embolsar lucros.

Estrangeiros surpresos

Mas, segundo a analista de um banco privado que tem contato direto com investidores estrangeiros, o cenário base lá fora ainda é a vitória do ex-presidente Lula. Os investidores europeus, explica ela, não se incomodam com a ausência de sinalizações claras na economia por parte do petista. A maior demanda sobre nomes da equipe vem dos americanos.

Essa analista, que esteve ontem com investidores estrangeiros, conta que o receio de que a contestação do resultado eleitoral possa levar a episódios violentos, como o ocorrido nos Estados Unidos, aumentou.

Sob a condição de não ser identificada, ela disse que, ao contar o episódio, os investidores estrangeiros “arregalavam os olhos.” Ela ressalta que os estrangeiros só esperam as incertezas com as eleições passarem para comprar ativos no Brasil.

“O gringo não é tão preocupado com quem vai ganhar, mas ele é mais preocupado com o que pode acontecer se o Bolsonaro perder. Eles estão loucos para comprar no Brasil, já que não dá para investir no Leste Europeu e na China.”

Para o estrategista-chefe da WHG, Tony Volpon, também ex-diretor do BC, o mercado considerou o episódio “um evento negativo para a campanha do Bolsonaro”:

“Haverá várias pesquisas até domingo, mas, de qualquer maneira, a primeira reação é de que foi um evento negativo, e aquele prêmio que estava sendo colocado em alguns ativos em função dessa tese de vitória do Bolsonaro está sendo, parcialmente, retirado.”

Estatais desabam

Isso pôde ser observado especialmente no desempenho das estatais. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras desabaram 9,89%, a R$ 37,45, e as preferenciais (PN, sem voto) perderam 9,20%, a R$ 34,25. Já Banco do Brasil ON caiu 10,03%, a R$ 40,20.

“O investidor, não sabendo o impacto que vai ter ao longo dos próximos dias e vendo que esse episódio pode interromper um bom momento da campanha, realiza lucros”, afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Parte do mercado, segundo analistas, tende a ver a vitória de Bolsonaro como mais favorável para a agenda liberal. No atual governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou a reforma da Previdência e a privatização da Eletrobras, em que pesem os jabutis presentes no texto.

Por outro lado, a regra do teto de gastos, principal âncora do arcabouço fiscal brasileiro, foi quebrada algumas vezes, com destaque para as aprovações das propostas de emenda à Constituição dos Precatórios e Eleitoral.

“A garantia de Lula é o seu passado responsável quando foi presidente, mas parte do mercado não quer dar esse cheque em branco”, diz Volpon, da WHG.

Para analistas, a volatilidade prosseguirá até o dia do pleito. No caso de vitória de Lula, pode haver uma realização de ganho nos primeiros dias, até que a agenda econômica seja apresentada de forma mais clara.

A China também impactou o mercado local, principalmente nos papéis ligados às commodities metálicas. Segundo Rostagno, há uma percepção de que a China vai continuar desacelerando.

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