Analistas avaliam aquisição de participação na Vale (VALE3) com ceticismo e Cosan (CSAN3) perde R$ 5 bilhões

Especialistas questionam a falta de experiência da Cosan no setor de mineração

Mina da Vale em Itabira (MG). Foto: Janaina Duarte/Divulgação Vale
Mina da Vale em Itabira (MG). Foto: Janaina Duarte/Divulgação Vale

O mercado recebe com ceticismo a compra de participação na Vale que a Cosan anunciou na tarde da última sexta-feira. Por volta das 14h30, as ações tinham queda de 6,19%, cotadas em R$ 15,62. Levando em conta o número de ações da empresa, ela já perdeu quase R$ 5 bilhões em valor de mercado desde o fechamento da quinta-feira (6), quando valiam R$ 18,24.

Analistas avaliam que a entrada de um acionista de referência é interessante estrategicamente para a Vale, mas questionam a falta de experiência da Cosan no setor de mineração e se a empresa está realmente empenhada no operacional da companhia ou se enxerga a participação que pode chegar a 6,9% como aplicação financeira.

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Os analistas do J.P. Morgan liderados por Lucas Ferreira escrevem que historicamente a Cosan é uma boa alocadora de capital, mas que a maior parte dos seus investimentos são em empresas com sinergias claras ou que possam contribuir para sua reestruturação, o que não é o caso da Vale.

“Neste sentido, a aquisição da participação nos parece até o momento como um investimento financeiro e de valor, com a Cosan vendo potencial de alta nas ações da Vale”, comenta o banco americano. Mesmo assim, a indicação de um conselheiro pode ser positivo para a mineradora.

No curto prazo, o impacto da chegada da Cosan deve ser limitado, na opinião do Itaú BBA. Os analistas liderados por Daniel Sasson apontam que a contribuição da companhia na estratégia da Vale precisará ser provada. A Cosan não deve abandonar suas próprias iniciativas em mineração, como o Porto São Luís, apontam.

“Acreditamos que os investidores veem com bons olhos a chegada de um acionista de referência para auxiliar no planejamento estratégico, mas mesmo com o histórico positivo da Cosan em outros setores, ela ainda é novata nos negócios de minério”, afirma o Itaú BBA.

Para o BTG Pactual, a compra da participação indica sim que a Cosan planeja participar ativamente do processo de tomada de decisões da Vale, o que implica em uma representação de longo prazo no conselho da mineradora. O movimento, que aconteceu em um momento de baixa do mercado, mostra que a Cosan está atenta às oscilações.

Os analistas Leonardo Correa, Caio Greiner e Bruno Lima escrevem que há potencial para a Cosan agregar um diálogo construtivo na empresa ao adicionar um ativo que diversifica seu portfólio e levando em consideração sua expertise e histórico na criação de valor em uma multitude de setores.

Outro ponto que investidores e analistas ficaram receosos é sobre o impacto que a complexa operação, envolvendo operações de pares de opção de compra e venda (“collar”) e derivativos pode ter na alavancagem da Cosan, que terminou o segundo trimestre em 2,7 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda.

O Bradesco BBI afirma que as opcionalidades e a exposição limitada ao risco oferecidas pelo contrato de “collar”, juntamente com a reiteração da administração de suas metas de alavancagem, os fazem acreditar que o balanço da Cosan está protegido, afirma o Bradesco BBI.

O analista Vicente Falanga aponta que a reação negativa do mercado se dá por conta da exposição da Cosan ao negócio cíclico do minério de ferro, a redução do fluxo de dividendos no curto prazo, aumentando a duração da tese de investimentos, além da complexidade do investimento, com detalhes ainda não divulgados aos acionistas.

O Credit Suisse avalia que a grande questão da operação é a materialidade em relação à exposição ao risco, alavancagem e custos de financiamento. Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero apontam que essas preocupações derivam da estrutura de transação que envolve financiamento sem recurso com duração flexível.

Para o banco, a Cosan está usando alavancagem para adquirir uma exposição patrimonial na Vale, e se isso agrega valor dependerá de como a tese se desenrola. A companhia planeja exercer influência sobre a Vale, mas será limitada e não há sinergias claras entre os dois grupos, dizem os analistas. (Colaboraram Cristiana Euclydes e Victoria Netto).

Por Felipe Laurence, do Valor Econômico
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