Americanas negocia com fornecedores para evitar desabastecimento das lojas

Fabricantes teriam que receber, a partir de janeiro, as vendas feitas no Natal, e isso não está sendo pago

Foto: Leo Martins/Agencia O Globo
Foto: Leo Martins/Agencia O Globo

A indústria de alimentos e bebidas está sendo afetada pela crise na Americanas no pior momento do ano, relativo ao pagamento da venda de Natal, o que deve gerar um efeito cascata de perdas. Há risco de desabastecimento com a redução de linhas da indústria para a empresa, algo que alguns fornecedores já começaram a definir internamente, apurou o Valor.

Fabricantes teriam que receber, a partir de janeiro, as vendas feitas no Natal, e isso não está sendo pago.

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Com a paralisação de pagamentos aos fornecedores da empresa por 30 dias, como determina a cautelar obtida pela empresa na Justiça dias atrás, os pagamentos que teriam que ocorrer entre metade de janeiro e metade de fevereiro foram congelados.

Varejistas pagam esses fabricantes num período entre 30 a 40 dias após a data da entrega dos produtos de Natal. Em certas negociações, chega a, no máximo 60 dias, da entrega feita entre fim de novembro e começo de dezembro.

De qualquer forma, esse período para pagamento cairia num período nebuloso para a companhia.

“Se for para uma recuperação, judicial muito da venda de Natal feita vai virar dívida, e se não for, vão cobrar a fatura já vencida no dia ‘um’ após o prazo da medida da cautelar, de 30 dias [esse prazo termina na metade de fevereiro]”, diz um superintendente de uma fabricante de sucos.

“Como o valor de contas a pagar deles deve estar gigantesco agora, todo mundo vai fazer a mesma coisa e cobrar a empresa passando o prazo da cautelar”, diz ele.

Novas faturas emitidas, após a publicação da cautelar, podem ser pagas pela Americanas e estão fora desse prazo de paralisação de pagamentos. “Acontece que o fornecedor que tem fatura em atraso, mesmo que feche novo acordo de pagamento à vista agora, de novos produtos, quer saber como vai ficar a dívida não paga. E isso tudo vai afetando o fluxo”, diz uma fonte ligada a uma varejista.

Caso a empresa entre em recuperação judicial, a dívida com fornecedores relativa ao Natal, a data comercial mais forte do ano, entra na renegociação com credores.

Segundo dois executivos do setor, a Americanas está contatando seus fornecedores de alimentos e bebidas mais estratégicos para tentar pagar entregas novas para pagamento à vista e manter o ritmo de venda nas lojas e sites — isso apesar do caixa limitado (R$ 800 milhões atualmente). “Eles têm venda acontecendo, não sabemos se a receita caiu, a empresa já disse que não caiu venda, e isso de alguma forma pode aliviar esse caixa.”

A Americanas é conhecida no mercado já há anos por atrasar pagamentos das faturas e renegociar novos prazos, o que acabou gerando um modelo de extensão longa nas liquidações de dívidas — é possível que compras fechadas em novembro também estivessem em aberto para quitação em janeiro e fevereiro, diz uma fonte.

A reação de fornecedores em relação à política de vendas para a empresa deve começar a afetar as lojas, dizem fontes ouvidas do varejo, com possível desabastecimento de determinadas mercadorias por causa dos prazos de estoque em alimentos e bebidas.

Ocorre que o nível de estoque desse setor é curto, em relação a outros setores, na faixa de 20 dias a 25 dias, pelo alto giro.

A empresa precisa manter algum nível de entregas de novos lotes para evitar problemas.

“Isso [crise na rede] está ‘matando’ o fluxo das empresas, não poderia ser em pior hora”, diz um atacadista que compra produtos desses fabricantes. “Há alguns com menor dependência da Americanas e outros com maior, como doces, guloseimas e chocolates”, afirma ele.

No setor de bebidas, a Ambev é fornecedora da Americanas e tem como acionistas diretos o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, os mesmos sócios da Americanas — a dependência comercial da Ambev para a rede é baixa, dizem fontes.

Com essa paralisação no fluxo de pagamentos, há fornecedores que já congelaram ou reduziram a linha de crédito da Americanas.

O Valor apurou que a Mondelez, fabricante de chocolates, está adotando essa medida de reduzir a linha e vai pulverizar a venda de produtos para Páscoa, a data mais importante do ano para essa indústria.

“As contas do mercado é que a Mondelez vende ao ano para eles R$ 500 milhões só em chocolates. Na Nestlé, o mercado estima R$ 300 milhões”, diz uma segunda fonte.

Por Adriana Mattos

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