Americanas (AMER3): Plano de recuperação pode levar até dois anos para ser aprovado, dizem credores

Expectativa é que varejista ofereça corte entre 80% e 90% no valor da dívida de bancos

Fachada de unidade da Lojas Americanas. Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
Fachada de unidade da Lojas Americanas. Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Após a aprovação do pedido de recuperação judicial da Americanas (AMER3), os credores e os acionistas já começam a se articular para avaliar a proposta que será feita pela varejista para reduzir o nível de endividamento de R$ 43 bilhões, conforme revelado no pedido apresentado ontem à Justiça do Rio.

De acordo com fontes, já é esperado entre os credores financeiros que a rede varejista ofereça um corte entre 80% e 90% do valor total da dívida.

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As fontes destacaram que já estão em andamento as conversas com a Rotschild, empresa contratada para atuar na intermediação entre os acionistas da Americanas e os credores no Brasil e no exterior.

Segundo uma das fontes ouvidas pelo GLOBO, sob condição de anonimato, o clima será de uma extensa e estressante negociação. Ninguém espera que o plano de recuperação judicial da Americanas seja aprovado antes de dois anos.

Segundo classificou a fonte, esse é o período esperado hoje no cenário razoável. “Será um longo período de discussões”, explicou esse executivo que não quis se identificar.

Acionistas de referência da Americanas

O consenso inicial dos credores é que seria necessário um aporte da empresa de cerca de R$ 15 bilhões. Mas, de acordo com diversos credores, é quase “zero” a possibilidade de que os acionistas de referência façam uma proposta nesse primeiro momento. “Haverá uma pressão inicial neste primeiro momento seguindo a estratégia dessa última semana”, lembrou.

A Americanas tem os acionistas de referência – o trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, fundadores da 3G Capital – com a maior fatia do capital, com 31,13% das ações. Em seguida aparecem as gestoras Capital Group (9,91%) e BlackRock (5,05%), além do TIAA Cref (fundo de pensão dos EUA formado por professores, com 6,05%).

Porém, tanto do lado dos credores como da empresa, há uma entendimento, endossado por advogados, de que “todos vão ter que ceder” para se chegar um acordo.

Ao longo da tarde de quinta-feira, começaram a circular informações no mercado de que os acionistas da Americanas poderiam buscar um novo investidor para a empresa, mas a hipótese é vista como pouco provável pelos credores.

Reforço de caixa

Em paralelo ao desenvolvimento do plano de recuperação judicial, a Americanas também trabalha em um plano para reforçar seu caixa, que caiu de R$ 800 milhões para R$ 250 milhões em apenas dois dias.

A empresa vai tentar viabilizar a venda de alguns ativos, embora haja uma percepção de que o dinheiro não será suficiente para cobrir o rombo.

Uma outra fonte lembrou que a venda de qualquer ativo vai precisar passar pelo crivo da Justiça, que determinou também o desbloqueio de valores por parte dos bancos. Segundo a petição enviada na quinta-feira à Justiça, a Americanas disse que foram retidos R$ 100 milhões do Banco Safra, R$ 474 milhões do Bradesco, R$ 50 milhões do Itaú e R$ 1,4 bilhão de BTG e Votorantim.

Para os credores, ainda há uma série de perguntas sem resposta para se iniciar as discussões em relação ao caminho para recuperação da empresa. Eles relatam dúvidas sobre a real situação de caixa da companhia, o valor total da dívida e a lista de credores, que ainda precisa ser apresentada.

Por Bruno Rosa, do GLOBO
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