Mercado está otimista com dividendos da Vale (VALE3) e pessimista com os de Gerdau (GGBR4)

China é essencial para alta nos dividendos da Vale (VALE3) e queda nos de Gerdau (GGBR4); analistas, contudo, aguardam resultados com cautela

Mina da Vale em Itabira (MG). Foto: Janaina Duarte/Divulgação Vale
Mina da Vale em Itabira (MG). Foto: Janaina Duarte/Divulgação Vale

As duas maiores empresas de seus respectivos setores, a mineradora Vale (VALE3) e a siderúrgica Gerdau (GGBR4), são favoritas entre os investidores para uma carteira de dividendos. O mercado está otimista com as ações de ambas, mas existe uma preferência quando o assunto é dividendos.

Para analistas, é mais provável que a ação ordinária de Vale dispare na bolsa nos trimestres a seguir, com alta expectativa de que a empresa, finalmente depois de trimestres decepcionantes, irá aumentar as margens operacionais. Além disso, a venda de uma fatia de cerca de 10% da divisão de metais básicos também deve gerar dividendos “extraordinários”. Já para a Gerdau, o cenário à frente é mais “desafiador”.

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Por que os dividendos de Gerdau (GGBR4) podem cair…

Os dividendos de Vale (VALE3) e Gerdau (GGBR4) devem ter um descolamento um do outro nos próximos dois trimestres, de acordo com analistas de mercado. Se para a mineradora o cenário é um pouco mais otimista com perspectiva de estabilidade dos preços de ferro, a siderúrgica, por sua vez, sofre com concorrência interna.

A vilã que pode cortar dividendos da Gerdau é, ao mesmo tempo, a heroína que pode jogar os dividendos da Vale para cima: a China.

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O gigante asiático é o principal parceiro comercial do Brasil e, simultaneamente, o maior mercado da Vale. Mas o país é incapaz de extrair o minério de ferro em seu próprio território. Por outro lado, a China concentra um grande número de siderúrgicas como a Gerdau e vem exportando todo o aço que não está utilizando em seu setor imobiliário – atualmente em crise – para o Brasil.

“A China produz mais aço plano e tem permissão para exportá-lo. Entre outros mercados, ela visa o brasileiro, o que acaba impactando a Gerdau”, diz João Abdouni, analista de commodities da Inside.

Quanto mais aço injetado no mercado pelos chineses, pior para as operações de Gerdau. Não somente no Brasil, mas também nos Estados Unidos, onde a empresa surfa um bom momento de demanda.

Por ser um momento mais desafiador para a produtora de aço, o mercado estima uma queda nos dividendos de Gerdau (GGBR4). Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, afirma que essa expectativa mais pessimista considera que a oferta de aço deve se manter alta, prejudicando a margem de vendas da siderúrgica.

E os dividendos de Vale (VALE3) podem subir?

Em contrapartida, a Vale “tem uma perspectiva positiva para dividendos futuros”, diz Chinchila. O analista enfatiza que as vendas da empresa devem ter um bom desempenho neste trimestre, “considerando um ambiente de preços mais saudável para o minério de ferro”.

“No caso de Vale ON (VALE3), devemos ver uma melhora de resultados à frente, visto que tivemos uma manutenção da produção de aço na China, o que deve apoiar o preço do minério de ferro em patamares maiores que o projetado pelo mercado” concorda João Cardoso, head de renda variável da Renova Investimentos.

“Isso consequentemente pode significar mais dividendos distribuídos”, complementa.

Dividendos ‘extraordinário’ de Vale

Além da performance positiva, um grande trunfo na manga da Vale para aumentar os dividendos é a venda de uma fatia de sua divisão de metais básicos.

Em julho, a mineradora vendeu 13% de seu braço de extração de cobre e níquel para a Manara Minerals e a Engine No. 1. O negócio comprometeu as empresas a investirem R$ 3,4 bilhões.

O lado do mercado que está posicionado nos papéis (VALE3), o tal do “sell side”, acredita em um aumento no yield de dividendos em 2023 de 6% no mínimo para 8%. Esta é a avaliação de Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos. “A diretoria informou que vai agregar a venda da divisão de metais básicos como um ‘dividendo extraordinário'”, diz.

Segundo Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, é possível que tanto Vale quanto Gerdau distribuam mais um dividendo ainda neste ano.

Mercado está ‘dividido’ sobre balanço de Vale (VALE3)

Apesar da possível alta nos dividendos, o mercado encara o próximo resultado de Vale de forma mais conservadora. Especialistas ouvidos citam que a companhia deve divulgar números “mornos”.

O lado positivo deve ser o incremento de receita da companhia. Durante o primeiro semestre, destaca Gabriel Rech, estrategista-chefe da Macro assessoria, o minério de ferro jogou contra a Vale. O cenário tem sido o inverso neste segundo semestre.

Ele frisa que até o final do ano “o preço do minério deve subir” por recomposição dos estoques chineses até o ano novo do país. Se a economia chinesa crescer acima do projeção, a balança da commodity favorece ainda mais a Vale.

“Na última recomposição tivemos minério a quase US$ 200 por tonelada (de minério de ferro)”, diz Rech. A Macro tem preço-alvo de US$ 120 a US$ 140 para a commodity entre novembro e janeiro.

O mercado, portanto, projeta um resultado melhor que o trimestre anterior. “Vale ressaltar que ela divulgará nesta terça-feira (17) sua prévia operacional, que já nos dará um bom indicador de como foi o trimestre em termos operacionais. O resultado deve vir melhor do que em trimestres anteriores”, destaca João Abdouni, da Inside.

O balanço financeiro da Vale, contudo, deve vir pressionado pelo frete de transporte do ferro para a China.

“Esperamos que o resultado da Vale seja neutro, com as receitas impulsionadas pelo preço do minério de ferro sendo negociado em patamares mais altos em relação ao trimestre anterior e volume de produção acelerando, após início de ano complicado para a extração. Por outro lado, esperamos que os custos de extração do minério para o porto e do frete sigam pressionando as margens da empresa”, diz Chinchila, analista da Terra Investimentos.

Já Gerdau (GGBR4) deve ter resultado fraco, aponta mercado

As estimativas para a Gerdau (GGBR4) não são das melhores. O mercado aguarda um resultado mais fraco e pressionado pela concorrência com o aço chinês. A Empiricus Research prevê um resultado da siderúrgica no terceiro trimestre inferior ao trimestre anterior e pior do que igual período em 2022.

A competição com o aço chinês não atrapalha apenas a operação da Gerdau no Brasil, diz Rech. “A concorrência atrapalha a operação dos EUA, inclusive, porque ela consegue jogar muito aço vergalhão na região de Índia e Europa. É uma sobre-oferta que impacta na exportação de aço dos EUA atingindo a operação da Gerdau no país.”

O lado positivo é de que a companhia pode se beneficiar do programa habitacional Minha Casa Minha Vida. O mercado aposta no investimento em alojamentos habitacionais para aumentar a demanda doméstica pelo aço produzido pela Gerdau. A própria companhia aguarda um efeito positivo do programa do governo federal na operação.

“O que segundo o ‘sell side’ é que podemos ver de melhor é um comunicado do governo de que haverá programa de incentivo à habitação e isso aumentaria a demanda de produtos da Gerdau”, diz Lemos, da Fatorial.

Mesmo assim, a margem operacional “deve se manter apertada entre 2023 e 2024”, continua. Isso porque a Gerdau deve sofrer impacto no fluxo de caixa e usá-lo para “se preparar para um 2024 mais desafiador”. Por hora essa parte de remuneração pode se preparar para um 2024 mais desafiador.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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