Ação da Vale (VALE3) está a salvo, mas possível aquisição da Anglo American traz dois riscos

Analistas de commodities veem possível compra da Anglo American pela BHP como ameaça à Vale (VALE3) por dois motivos; veja quais

Como a possível aquisição da Anglo American pela BHP pode afetar a operação da Vale (VALE3)? Analistas veem dois riscos. Foto: Washington Alves (Reuters)/Alpha Photos (Flickr)
Como a possível aquisição da Anglo American pela BHP pode afetar a operação da Vale (VALE3)? Analistas veem dois riscos. Foto: Washington Alves (Reuters)/Alpha Photos (Flickr)

O mercado financeiro global chacoalhou com a possível compra da mineradora inglesa Anglo American (AAL) pela australiana BHP Group (BHP). A operação, caso se confirme, será uma das principais aquisições do mundo até o momento. E pode trazer novos riscos para a Vale (VALE3). Apesar de não ‘fazer preço’ nas ações da companhia no curto prazo, o M&A estrangeiro pode causar pelo menos dois impactos na operação da brasileira, enxergam analistas ouvidos pela Inteligência Financeira.

O primeiro deles é no campo de especialidade da Vale: o minério de ferro. Analistas do mercado financeiro enxergam a aquisição da Anglo American como uma tentativa da BHP de produzir um minério mais puro por meio da operação da inglesa no complexo Minas-Rio.

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O outro risco envolve a transição energética, corrida na qual a Vale (VALE3) pode ficar para trás.

Compra da Anglo American e o cobre da Vale (VALE3)

O acordo da BHP para tentar comprar a Anglo American não funcionou. Por enquanto. A oferta de US$ 39 bilhões pela mineradora inglesa em uma troca de ações foi rejeitada em decisão unânime pelo conselho de administração, de acordo com comunicado da empresa emitido nesta sexta-feira (26).

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No curto prazo, analistas não veem impacto negativo nas ações da Vale (VALE3) – o estrago no papel nesta quinta-feira (26), por exemplo, foi feito pelo resultado ruim na ótica de investidores. Diante da pergunta sobre o impacto da aquisição nos papéis da empresa brasileira, a resposta de Vitor Mafra, da Doxos Capital, foi curta: “Não”.

Contudo, analistas destacam que esta pode ser a primeira etapa de um longo processo de vai e vem entre BHP e Anglo American.

Para a Vale (VALE3), um dos principais riscos elencados por especialistas é que, com a aquisição, a BHP aumentaria a capacidade de produção de cobre em 900 milhões de toneladas ao ano. O número equivale à operação da Anglo American para o minério.

O cobre, por sua vez, é considerado um dos principais minérios de transição energética do mundo. Mais do que isso: os chineses estão de olho no material. É o que destaca João Ascioli, analista e trader especializado em commodities.

“Cobre é uma commodity metálica que, com a demanda por veículos elétricos e transição energética, é supernecessária”, diz Ascioli. “O próprio fluxo do mercado chinês mostra beta maior para cobre”, destaca. Isso significa que hoje há espaço maior para a valorização do cobre do que de outros metais.

Dessa forma, o especialista vê a possível aquisição como “ameaça competitiva” para a Vale (VALE3).

“A BHP pode ter poder de barganha maior para cobre com a aquisição. Isso porque ela deve aproveitar a aquisição para controlar os preços do minério, refletindo o ganho de escala e custos adicionais na lei de oferta e demanda”, completa.

Vitor Mafra, gestor da Doxos Capital, também ressalta que a BHP, caso compre a rival inglesa, assumiria a liderança em produção de cobre no mercado.

“O foco do deal está em metais básicos”.

O segundo risco que o mercado enxerga para a Vale

Existe um segundo risco na opinião de analistas.

E, dessa vez, é um que atinge a operação da Vale em cheio no longo prazo: a pureza do minério de ferro da BHP pode aumentar caso a operação se concretize.

Isso porque a mineradora australiana seria a nova proprietária de 85% do complexo Minas-Rio. Em fevereiro, a Vale abocanhou os outros 15%, numa transação de caixa de US$ 157 milhões.

Minas-Rio produziu 24 milhões de toneladas de ferro em 2023, conforme números da Vale.

Na visão de Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, a BHP “teria alguns ativos com qualidade de minério (de ferro) um pouco melhor” que o da Vale, caso a compra da Anglo American ocorra efetivamente.

De acordo com Chinchila, pode haver um impacto em “novos projetos e financiamento internacional” para a Vale.

“Isso poderia ser um entrave, além do poder de barganha nos preços e novos negócios”, pontua.

“A BHP ganharia uma fonte de minério high grade para concorrer com a Vale porque a brasileira tem como estratégia de ser uma mineradora premium”, diz Frederico Nobre, head de investimentos da Warren.

A principal preocupação, contudo, é o mercado de cobre. O CEO da Vale (VALE3), Eduardo Bartolomeo, descartou alterações no contrato da Anglo American quanto à Minas-Rio caso a BHP compre a rival.

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