Mudanças no Bradesco (BBDC4) devem respingar na Cielo (CIEL3), diz BTG Pactual

Plano estratégico do banco para recuperar rentabilidade pode envolver mudanças importantes na governança da empresa, da qual é sócio com o BB

Fachada de prédio da Cielo (CIEL3) - Foto: divulgação
Fachada de prédio da Cielo (CIEL3) - Foto: divulgação

Acionistas da Cielo (CIEL3) têm bons motivos para acompanhar os próximos movimentos do Bradesco (BBDC4), segundo analistas do BTG Pactual.

Isso porque a Cielo, uma das líderes em pagamentos eletrônicos no Brasil, tem um papel central nos planos do Bradesco no inevitável caminho de ganhar eficiência e recuperar a rentabilidade, machucada por anos de queda nos lucros.

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Com 30% do negócio, o banco com matriz na Cidade de Deus (SP) divide o controle da Cielo com o Banco do Brasil (BBAS3), que tem 28,65% do capital.

O redesenho estratégico e societário da Cielo é alvo de debates dentro e fora da companhia há anos.

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Com o passar do tempo, no entanto, uma solução para o negócio foi ficando ao mesmo tempo cada vez mais necessária e complexa.

“Acreditamos que uma ajuste entre Bradesco e Banco do Brasil em relação à Cielo é inevitável”, resume o relatório do BTG desta sexta-feira (2).

Porém, um caminho viável para a Cielo envolve resolver um emaranhado de questões regulatórias, concorrenciais e uma boa dose de ousadia.

De todo modo, pistas sobre o futuro da gigante em pagamentos eletrônicos desta vez podem estar prestes a ser conhecidas.

É certo que Marcelo Noronha, que ascendeu à presidência-executiva do Bradesco em novembro, será questionado por analistas e investidores quando, além dos resultados do quarto trimestre, apresentar um prometido “plano estratégico”.

Histórico

Criada em 1995 como Visanet, a empresa por muitos anos foi a única responsável por processar pagamentos com cartões Visa.

Enquanto isso, a Rede (então Redecard) – do Itaú Unibanco – fazia o mesmo com os cartões de débito e de crédito da Mastercard.

Esse duopólio durou até 2009, quando uma lei foi aprovada no Congresso Nacional, pondo fim aos acordos de exclusividade.

No mesmo ano, a empresa foi rebatizada com o seu nome atual e fez sua estreia na B3.

Com a abertura do mercado, as marcas de ‘maquininhas’ começaram a se multiplicar, trazendo nomes como Stone, PagSeguro, GetNet, Mercado Pago, etc.

Como consequência, frisaram os analistas do BTG, o Itaú Unibanco entendeu que a tendência natural era que bancos cada vez mais unificassem a oferta de serviços para clientes.

Nesse processo, um grupo financeiro eventualmente poderia ser levado a tomar decisões mercadológicas que beneficiariam o banco, em prejuízo da adquirente.

Por isso, para evitar conflitos de interesse, o Itaú decidiu em 2012 incorporar a Rede, tirando-a da bolsa de valores.

Outros caminhos

Bradesco e BB, no entanto, entenderam que a Cielo listada tinha vantagens comparativas de ter dois sócios fortes.

Assim, os sócios não só mantiveram o modelo de governança, como também estenderam a parceria.

Em 2014, criaram a Cateno, uma joint venture para fazer a gestão das operações de cartão de crédito e débito emitidos pelo BB.

Como resultado da crescente concorrência e da menor flexibilidade de gestão da companhia, a Cielo começou a se desvalorizar na bolsa.

E nunca mais se recuperou.

Atualmente, o valor de mercado da Cielo (R$ 9,5 bilhões) é cerca de 80% menor do que o pico atingido em meados de 2016.

Após anos perdendo participação de mercado, margens e lucratividade, a companhia finalmente teve alguma recuperação nos últimos dois anos.

Dono enfraquecido

Porém, isso coincidiu com uma período incomum entre seus maiores acionistas.

Com uma postura de mercado mais preventiva durante a pandemia da Covid-19, o BB seguiu crescendo de forma rentável.

Em contrapartida, o Bradesco reforçou a aposta no financiamento ao consumo, operação duramente atingida pela combinação de juros e inflação alta no Brasil.

O resultado é um ciclo prolongado de queda nos lucros devido a crescentes perdas com calotes.

Dessa forma, a lucratividade do Bradesco caiu para cerca de metade dos níveis de BB e Itaú.

Esse ciclo culminou em novembro passado com a demissão do presidente Octavio de Lazari, substituído então por Noronha.

Para Eduardo Rosman e equipe, que assinam o relatório do BTG, Noronha tem uma condição privilegiada para tentar desembaraçar a questão da Cielo.

Isso porque é um dos executivos que mais conhecem a empresa.

Como representante do Bradesco, chegou a ser presidente do conselho de administração da Cielo.

“Porém, redefinir a parceria entre Cielo, Bradesco e BB é, sem dúvida, complexo”, admite o BTG.

Entre os caminhos possíveis listados pelos analistas para a Cielo estaria a incorporação da Cielo.

Contudo, essa solução poderia tirar da empresa a Cateno, uma importante fonte de caixa para a Cielo.

“Eles (BB e Bradesco) poderiam estabelecer uma subsidiária subadquirente e continuar usando a Cielo como espinha dorsal?”, questionam.

Balanço

Enquanto respostas para essas questões não chegam, o investidor de Cielo também aguarda os resultados trimestrais da companhia, previstos para segunda-feira (6).

Como as ações da Cielo subiram cerca de 40% desde o final de outubro, “nosso entusiasmo agora é menor”, afirmaram Rosman e equipe.

Adicionalmente, eles esperam que a Cielo apresente resultados trimestrais mais fracos do que seus concorrentes de meios de pagamentos.

Um elemento que poderia contribuir para dar suporte às ações poderia ser a Cielo decidir aumentar a distribuição de dividendos.

Até aqui, a preferência da gestão da Cielo liderada por Estanislau Bassols, tem sido uma postura mais conservadora com os lucros da empresa.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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