Michael Saylor, CEO da MicroStrategy (M2ST34), tem no balanço US$ 14 bi em bitcoin. Lunático ou visionário?
Inteligente, intenso e carismático, Saylor é um dos mais fervorosos defensores do bitcoin. Sob seu comando, a MicroStrategy botou em seu balanço 214 mil bitcoins desde 2020. Ele falou à Inteligência Financeira
Michael Saylor, fundador e presidente do conselho da MicroStrategy (M2ST34), é um daqueles empreendedores capaz de despertar admiração ao mesmo tempo que produz enormes dúvidas sobre a estratégia de investimentos que adotou para sua empresa de software de inteligência de negócios.
Inteligente, intenso e carismático, Saylor é um dos mais fervorosos defensores do bitcoin. Sob seu comando, a MicroStrategy botou em seu balanço 214 mil bitcoins desde 2020. Saylor anunciou naquele ano que a MicroStrategy começaria a estocar Bitcoin porque tinha maior potencial de valorização a longo prazo do que reter dinheiro.
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Em entrevista à Inteligência Financeira, ele disse que a decisão veio como uma proteção contra a inflação e uma alternativa para reter caixa. Até agora, estima-se que ele tenha investido US$ 7,5 bilhões do caixa da MicroStrategy em bitcoins.
A estimativa é de Jason Zweig, autor de “Your Money and Your Brain”, sobre a neurociência do investimento, e editor da versão revisada de “The Intelligent Investor”, de Benjamin Graham, o texto clássico que Warren Buffett descreveu como “o melhor livro sobre investimentos já escrito.”
Últimas em Ações
O atual valor de mercado da MicroStrategy é US$ 25 bilhões, segundo cotação de fechamento na sexta-feira (12). Segundo a Bloomberg, a aposta no bitcoin elevou o valor de mercado da companhia acima de quase metade das empresas do índice S&P 500.
Estratégia se sustenta?
Os críticos de Saylor questionam desde a postura do conselho de administração da empresa, que aprova a compra de grandes quantidades de criptomoedas, até os riscos para o negócio dada a volatilidade do bitcoin, e sua tênue ligação com o principal negócio da empresa, que é uma plataforma de software.
Atualmente, Saylor detém quase 14% das ações da MicroStrategy, mas preside o conselho da empresa.
Alguns analistas veem em sua estratégia uma ferramenta de marketing, o que não afeta as perspectivas fundamentais dos negócios da MicroStrategy. Em outras palavras, as ações são infladas pelo resultado financeiro decorrente das operações com bitcoin, e menos pelos ganhos decorrentes de maior eficiência operacional, crescimento de receita e inovação.
Buffett digital
Saylor, aliás, é um crítico de Buffett. O motivo é óbvio, já que Buffett é um detrator das criptomoedas, tendo dito que sua gestora, a Berkshire Hathaway, “nunca terá uma posição neles”.
“Eu acredito que se Buffett não estivesse na casa dos 90 anos, se estivesse na casa dos 60, ele provavelmente pararia, gastaria algum tempo para aprender (sobre bitcoin). Ele é um grande adepto da estratégia de comprar e manter (buy and hold). E é provavelmente o maior ‘holder’ (investidor de longo prazo) de sua geração. Investir em bitcoin é comprar um ativo para manter por dez anos”, disse Saylor à Inteligência Financeira.
Em comum, Saylor e Buffett têm um apetite por alocar capital em ativos subvalorizados. No caso de Saylor, este ativo é, de tempos em tempos, o bitcoin. O fundador da MicroStrategy identifica momentos em que o preço das ações da empresa está sobrevalorizado em relação ao bitcoin.
Nestas ocasiões, vende ações da MicroStrategy e usa os lucros para comprar bitcoin, relativamente subvalorizado. Para isso, emite notas conversíveis para tomar empréstimos a taxas baixas e usa os recursos para adquirir bitcoin. Até agora, sua estratégia tem beneficiado os investidores da MicroStrategy.
A ação da MicroStrategy se valoriou mais de 930% desde que Saylor anunciou ao mercado que a empresa começaria a estocar bitcoin, em 2020.
Michael Saylor fala à Inteligência Financeira
Na quarta-feira (10), Saylor conversou, por uma hora, com a Inteligência Financeira. Ele gosta de fazer contas para provar seus pontos. Formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o prestigioso MIT, ele é hábil com números e diz conhecer e estudar códigos. Mesmo seus críticos reconhecem que ele é um estudioso do protocolo do bitcoin, a plataforma que opera a criptomoeda.
Sobre o Brasil, Saylor diz que a entrada dos grandes bancos vai fomentam o mercado de bitcoin. “O Brasil é mais progressista em relação ao bitcoin do que os Estados Unidos. Aqui, o investidor tem maior apoio institucional. O Banco Central do país está engajado nesta discussão e os grandes bancos também. Então você tem uma vantagem inicial”, disse.
Confira trechos editados da entrevista, cujo vídeo na íntegra será disponibilizado aqui no site em breve.
ETFs de BTC
“Os ETFs (de bitcoin) tornaram 100 vezes mais fácil comprar bitcoin. Eles permitem que tanto os investidores institucionais quanto os investidores convencionais comprem bitcoins de forma rápida e fácil. A verdadeira revolução, no entanto, virá quando a Apple, Microsoft e Google incorporarem o bitcoin às suas plataformas. Não estamos longe disso.”
O papel dos reguladores
“Os reguladores precisam ajudar os bancos a descobrir como administrar isso (criptomoedas). Há questões de responsabilidade pela custódia. Há necessidade de ter controles apropriados para administrar riscos e todas as questões legais. O que acontece se eu morrer e alguém reivindicar meu bitcoin?
Penso que outro papel importante dos reguladores é a educação. A maioria das pessoas não entende a diferença entre commodities e um título. Um título, diferentemente do bitcoin, tem um emissor. E, portanto, os reguladores têm o papel de explicar quais são as responsabilidades éticas de alguém que manuseie as criptomoedas.”
Buffett
“Eu acredito que se Buffett não estivesse na casa dos 90 anos, se estivesse na casa dos 60, ele provavelmente pararia, gastaria algum tempo para aprender (sobre bitcoin). Ele é um grande adepto da estratégia de comprar e manter (buy and hold). E é provavelmente o maior ‘holder’ (investidor de longo prazo) de sua geração. Investir em bitcoin é comprar um ativo para manter por dez anos.”
Bitcoin é um patrimônio
“A maioria das pessoas que são céticas, ou cínicas, sobre investir em bitcoin pensam que é uma moeda que vai substituir o sistema bancário.
Outras pensam que o bitcoin é uma ameaça ao dólar.
Se você estudar mais profundamente, perceberá que é uma propriedade.
É uma ativo que estou comprando em vez de comprar um apartamento. A diferença é que a possibilidade de ganhos com bitcoin são muito maiores e as taxas, muito menores.”