Short Squeeze: entenda o movimento de supervalorização da Gafisa (GFSA3)
A Gafisa (GFSA3) tem chamado a atenção do investidor, diante de uma disputa entre acionistas que causou uma disparada de suas ações
A Gafisa (GFSA3) tem chamado a atenção do investidor, diante de uma disputa entre acionistas que causou uma disparada de suas ações. Em janeiro, a empresa já registrou valorização de mais de 100%. Ou seja, suas ações estão, nesta toada, perto de triplicar de valor.
A companhia, nos últimos dias, voltou a entrar em leilão repetidas vezes por oscilação fora do normal, estendendo o comportamento dos últimos pregões, nos quais suas ações subiram forte, apesar da tendência negativa do setor de construção diante de juros elevados e endividamento da população.
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Essa supervalorização dos papéis vem sendo atribuída a um movimento de mercado conhecido como short squeeze. Isto é, uma pressão de compra que produz uma alta artificial do preço das ações, levando ao descolamento do valor da empresa de seus fundamentos. Em outras palavras: a formação de uma bolha.
Confuso?
Então, vamos por partes. Primeiro é importante entender que o “short” vem do nome dado à operação na qual o investidor vende ações que não tem. Sim, é possível fazer isso pegando emprestado ações negociadas na Bolsa.
O objetivo é vender essas ações a um preço alto pra recomprá-las mais à frente por um preço mais baixo, devolvendo, assim, os papéis ao ‘dono’ original. O short dá lucro, portanto, quando as ações se desvalorizam, de modo que esse tipo de negociação é como ‘apostar contra’ uma ação.
Só que esta é uma operação de risco altíssimo porque nem sempre apostar contra uma ação dá certo. Quando o preço começa a subir muito – na direção contrária da aposta –, o investidor se vê obrigado a recomprar rapidamente as ações, antes que elas fiquem ainda mais caras, para não ficar com um prejuízo gigante. Afinal, é preciso devolver os ativos a seu dono. Com isso, esse investidor contribui para impulsionar ainda mais o valor das ações. Isso é o short squeeze.
Um dos casos mais famosos de short squeeze aconteceu em 2021 com a GameStop. O movimento comprador em torno da companhia foi impulsionado por acionistas minoritários após notícias de mudanças na governança. A chegada de um novo membro do conselho fez com que um grupo de pequenos investidores passasse dias adquirindo papéis da varejista de games.
Como consequência, as ações subiram muito (676%), passando de apenas US$ 19,06 pra US$ 147,98 em apenas um mês. Como você já deve estar imaginando, isso dificultou a vida de quem estava vendido. Os grandes fundos acabaram tendo, então, que zerar posições de short porque começaram a perder muito dinheiro, o que gerou problemas financeiros pra alguns deles.
Disputa de acionistas
O caso GameStop voltou a ser lembrado com a situação da Gafisa. A incorporadora passa há meses por uma disputa de dois acionistas: a minoritária Esh Capital, liderada por Vladimir Timerman, e o majoritário Nelson Tanure.
As discordâncias são muitas, mas as mais recentes vão desde o aumento de capital da companhia em 2022 até o agendamento da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) em 9 de janeiro, quando foram debatidas questões estratégicas da Gafisa.
A teoria no mercado é de que, tendo sido ou não impulsionado pela Esh, os minoritários passaram a adquirir ações para poderem ampliar o poder de voto na AGE. Em paralelo, quem estava em posição vendida passou a buscar as ações da Gafisa no mercado à vista, já que também ficou impossível encontrar outros investidores dispostos a alugar os papéis.
Com isso, Tanure elevou sua participação na construtora de 11% pra 26% poucos dias antes da Assembleia. A Esh fez movimento semelhante e chegou a ter 15% dos papéis da construtora. Como reflexo, o valor de mercado da companhia rapidamente saltou de R$ 200 milhões pra perto de R$ 1 bi.
Vale destacar que a Esh Capital acabou sendo derrotada na AGE. A gestora queria a suspensão do aumento de capital e acabou não comprando as ações que tinha direito por meio de oferta privada. Por isso, teve sua fatia diluída para perto de 13%. Os acionistas não aprovaram nenhum dos pontos que a Esh pleiteava. Para eles, faltou coerência e elemento probatório.
Já pra Esh a derrota vem de uma questão mais prática. A gestora argumenta que perdeu porque Tanure, ao ir comprando ações no mercado, já detém de forma direta e indireta mais de 50% da companhia, com grande poder de voto.
Próximos capítulos
Durante a AGE, a Esh convocou uma nova assembleia pedindo a suspensão dos direitos políticos de acionistas da companhia, incluindo a MAM Asset Management, veículo de investimento de Tanure, a corretora Planner, a Trustee Distribuidora e o Banco Master.
A alegação é que estes acionistas são, na prática, todos ligados a Tanure e não lançaram, como pede a legislação, uma oferta pública de aquisição (OPA) das ações da Gafisa quando atingiram a participação acionária de, pelo menos, 44,33% do capital social da companhia –mecanismo conhecido no mercado como “poison pill”. Na última terça-feira (17), o conselho de administração da Gafisa aprovou a convocação assembleia geral extraordinária para o próximo dia 10 de fevereiro.
Texto originalmente publicado no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.