Leonardo Coelho, CEO da Americanas: ‘O que aconteceu é manipulação dolosa dos controles internos da companhia’
No pregão de quinta (16), o papel subiu 6,25%, mas valendo apenas R$ 0,85
Onze meses após a divulgação de um dos maiores escândalos contábeis do País, a Americanas (AMER3) divulgou na quinta (16) o seu balanço de 2022.
Com prejuízo de R$ 12,9 bilhões, depois de perdas de R$ 6,23 bilhões em 2021, e dívida líquida de R$ 26,28 bilhões, salto de 85% em um ano, a empresa reconheceu um rombo de R$ 25,2 bilhões como resultado de fraudes.
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O balanço, que foi divulgado depois de quatro adiamentos, saiu sem o aval da BDO RCS, empresa de auditoria contratada pela Americanas para fazer a análise dos seus números.
Segundo afirmou a auditoria em relatório que acompanhou os resultados, diante do “contexto de incerteza relevante de continuidade operacional” da varejista, que está em recuperação judicial desde meados de janeiro, “não resta outra opção aos auditores que uma abstenção de opinião enquanto a companhia não aprovar seu plano (de recuperação)”.
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Processos administrativos na CVM
Além do trabalho da auditoria, a Americanas está na mira de processos administrativos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de investigações do Ministério Público Federal. Em uma apresentação com 31 páginas, a Americanas reconstituiu como se deram as fraudes, feitas por meio do “risco sacado”, um tipo de empréstimo com bancos.
A diretoria da empresa concluiu dizendo ter sido vítima de uma “fraude sofisticada, baseada na manipulação dolosa de seus controles internos por parte de sua antiga gestão” – que tem negado qualquer responsabilidade pelo rombo financeiro.
‘Manipulação dolosa’
Após a apresentação, o CEO da varejista, Leonardo Coelho, acusou a antiga diretoria de “manipulação dolosa”. “O que aconteceu é manipulação dolosa dos controles internos da companhia, e isso não tem a ver com métricas de desempenho, mas com caráter daqueles que deveriam ser os maiores defensores da Americanas”, disse Coelho.
“A Americanas tinha uma estrutura de governança certificada por todas as principais (entidades) do mercado brasileiro e internacional. Não estava no Novo Mercado (da Bolsa de Valores) de graça, tinha uma estrutura de governança.”
AMER3 na bolsa
No pregão de quinta (16), o papel subiu 6,25%, mas valendo apenas R$ 0,85. Apesar da recusa dos auditores, o conselho fiscal da Americanas decidiu aprovar as demonstrações financeiras.
Segundo o comando da varejista, como o seu plano de recuperação judicial ainda não foi aprovado, a companhia de auditoria teria mesmo de se abster.
Falando a analistas, a diretora financeira da Americanas, Camille Faria, garantiu que os números publicados foram todos auditados, os de 2021 e de 2022.
“Vocês vão ver que houve uma abstenção de opinião, que está essencialmente ligada ao fato de a companhia estar em recuperação judicial.”
Referência
Os balanços divulgados, relativos aos resultados do 3T23 são considerados essenciais pelos credores, para que eles possam decidir se aprovam ou não as condições propostas para a recuperação da companhia.
O último balanço divulgado pela Americanas havia sido o do terceiro trimestre de 2022, em que reportou perdas de R$ 447 milhões em nove meses, valor seis vezes maior que o do mesmo período de 2022.
O endividamento no final de setembro do ano passado, segundo o demonstrativo, era de R$ 5,3 bilhões, número quase cinco vezes menor do que o revelado agora para todo o ano de 2022.
Conforme os dados divulgados ontem, o lucro operacional (Ebitda, que é o lucro antes do pagamento de impostos e amortizações) foi negativo em R$ 2,9 bilhões em 2022, enquanto a companhia terminou o ano com R$ 2,5 bilhões em caixa. A receita líquida, de R$ 25,809 bilhões, cresceu 14,6% em um ano.
Acordo com os credores
Com os números do balanço publicados, a prioridade da direção agora é tentar chegar a um acordo com os credores para salvar a varejista. As demonstrações contábeis são peça essencial para avaliação da viabilidade operacional da empresa, segundo especialistas.
Após o rombo, revelado em 11 de janeiro, a publicação do balanço de 2022 havia sido anunciada para março. Foi postergada para agosto, em seguida, para outubro, e depois para 13 de novembro. Na madrugada do dia 13, foi novamente adiada para ontem. Já a troca de auditores da Americanas ocorreu em junho.
A BDO entrou no lugar da PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes, que era responsável por auditar as contas até então. Camille informou ainda que a empresa decidiu não fazer revisão dos balanços anteriores a 2021. “Quanto mais para trás for a revisão, mais difícil corrigirmos.”
Novo plano de cargos e salários
De acordo com o CEO da Americanas, um novo plano de cargos e salários, mais aderente ao varejo, está sendo desenhado para implementação até o fim do ano. Além disso, há ainda em curso um redesenho da remuneração variável dos executivos e que se tornará oficial nas próximas semanas. Com a publicação dos dados de 2022 e de 2021, Camille disse que a equipe da Americanas vai mergulhar no balanço de 2023, e a ideia é divulgar os números até fim do ano.
Para avaliar melhor os impactos da fraude em suas operações, a nova gestão informou que fará em uma próxima etapa a reapresentação dos resultados trimestrais de 2022, o que deve ocorrer quando for reportar os números trimestrais de 2023.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.