Ação da Gol (GOLL4) tem forte queda após pedido de recuperação judicial nos EUA

Para analistas, não é provável que a companhia venha a falir, mas deve enfrentar um mercado bem mais concorrido

Avião da Gol (GOLL4), gigante de aviação no Brasil que pediu recuperação judicial nos EUA. Foto: Divulgação

Após protocolar um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, as ações da Gol (GOLL4) estão em queda livre no mercado financeiro. O papel da companhia aérea brasileira no Ibovespa caía 8,07% no fim da tarde desta sexta-feira (26), com receio do mercado sobre as condições que a empresa deve enfrentar ao renegociar dívidas de seus principais credores.

À medida em que a ação preferencial da Gol despenca, o mercado pesa os riscos da dívida da aérea. Para analistas, não é provável que a companhia venha a falir, mas deve enfrentar um mercado bem mais concorrido. E o papel na bolsa de valores vai continuar sentindo o impacto de um risco de diluição, dizem especialistas.

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O que explica a queda da ação da Gol (GOLL4)?

O pedido de recuperação judicial da Gol (GOLL4) é “preocupante” do ponto de vista da Genial Investimentos. Ao mesmo tempo em que a reestruturação de capital é “um passo importante” na reestruturação financeira da empresa, a Genial afirma que “o cenário permanece incerto” para a aérea.

Na largada da recuperação judicial, a empresa afirmou que contará com uma injeção de capital de US$ 950 milhões do grupo Abra, acionista de referência da Gol no exterior. O financiamento depende da aprovação do Tribunal de Falências de Nova York.

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De acordo com a Gol em fato relevante, o financiamento do grupo Abra “juntamente com o caixa gerado pelas operações em curso, fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações”. Os voos, a operação logística da Gol e o programa de milhas Smiles vão continuar funcionando normalmente, informou a empresa.

Na análise de Phil Soares, analista-chefe da Órama, a Gol “tem tudo para ser bem-sucedida na recuperação judicial”. Mas ele também avalia que o mercado aéreo hoje é mais competitivo, com a volta de atividade do setor no ‘pós-pandemia’.

“Hoje temos um mercado aéreo mais apertado. Por um lado é bom, porque ajuda a companhia a botar o operacional no eixo. Por outro lado, os arrendadores de aeronaves veem muito mais vantagem em reaver aviões e colocá-los para arrendamento com preços cada vez mais vantajosos”, afirma Soares.

A Gol tem hoje cerca de 20 aeronaves paralisadas por conta de falta de reposição de peças, diz o analista da Órama. “Devolver essas aeronaves é algo que, a princípio, não mexeria com o operacional da companhia”, diz. “É uma possibilidade.”

Além disso, ele acredita que o passivo da Gol (GOLL4) ainda é grande demais para a entrada do investidor na bolsa. Mesmo que a recuperação judicial seja bem-sucedida, Soares também espera “uma diluição de capital” para acionistas da Gol.

Concorrentes podem ganhar mercado da Gol?

O mercado ainda acredita que, enquanto a Gol enfrenta a recuperação judicial, concorrentes podem se beneficiar de um eventual “encolhimento” das operações da rival.

É o caso da Azul (AZUL4) e da Latam (LTMAY). O banco BTG Pactual aponta as duas rivais diretas da Gol no Brasil como favoritas para capturar a demanda de passageiros que vai deixar de ser absorvida pela companhia.

“Inevitavelmente, como esperamos uma pequena contração de capacidade para a Gol durante o processo, acreditamos que concorrentes diretos como Azul e Latam devem se beneficiar de um ambiente competitivo um pouco mais favorável e capturar a menor capacidade da Gol”, afirmam analistas do BTG em relatório.

Ao mesmo tempo em que as ações da Gol caíram no Ibovespa, as ações da Azul subiam 1,42%. Já o ADR da Latam na bolsa de valores de Nova York avançava 1,68%.

Conforme analistas do BTG apontam, a expectativa é de que a capacidade operacional da Gol seja reduzida em um dígito, o que “é um pressuposto razoável” na visão do banco.

“A Latam tem a maior sobreposição de rotas com a Gol, especialmente nos hubs mais movimentados do Brasil, como Congonhas, Santos Dumont e Brasília”, diz o relatório.

“No entanto, acreditamos que a Gol possa priorizar as rotas mais lucrativas, deixando os ajustes de capacidade para rotas de menor densidade que se sobrepõem com a Azul”, prosseguem os analistas

Contudo, para Ygor Araujo, analista da Genial Investimentos, as competidoras “não tem muita capacidade” de aumento de oferta de assentos.

“A Azul vai receber novas aeronaves agora, mas vai devolver aviões de maior capacidade à Airbus ao mesmo tempo”, diz. A Latam está em situação parecida, sem estofo para capturar tantos passageiros. “Isso apenas se Gol perdesse sua fatia (de mercado).”

A Gol (GOLL4) vai acabar?

Provavelmente não, a Gol não vai acabar. Analistas afirmam que a companhia não está em vias de falir. Na verdade, o processo é visto como natural porque a Gol acumulou dívidas superiores em três a quatro vezes o próprio patrimônio, destaca Charo Alves, analista da Valor Investimentos.

“Os juros altos mundo afora foi impactando o caixa da empresa. A margem de petróleo também impactou a Gol de forma negativa”, diz. Ele completa dizendo que o mercado de aviação, de forma geral, “vivi um momento positivo” após a pandemia de covid-19.

“A estratégia da Gol foi errada nos últimos anos ao ter um investimento maior do que deveria para um retorno que não aconteceu”. Apesar de a reestruturação assustar o investidor no curto prazo, Alves diz que a tendência para a empresa “é positiva”.

A recuperação judicial, neste caso, “não é o caminho para a Gol acabar”, faz coro Gustavo Cruz, analista-chefe da RB Investimentos. “É importante saber o risco de dívida da empresa, e não apenas da ação”, conclui

“Não caminhamos para um duopólio de Azul e Latam. A Gol não vai deixar de existir”

Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos
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