Embraer (EMBR3): ‘Vislumbramos um crescimento de 20% este ano’, diz CFO
Em entrevista à Inteligência Financeira, Antonio Carlos Garcia, diretor de finanças da Embraer, diz que empresa faz um trabalho de recuperação do negócio para ter uma base forte de investidores
As ações da Embraer (EMBR3) terminaram 2019 encostando no patamar de R$ 20, com o mercado recebendo da melhor maneira possível o acordo para a fusão entre a empresa brasileira e a norte-americana Boeing, fechado no ano anterior.
Porém, o cenário virou de cabeça para baixo logo no início de 2020.
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Antes de anunciado o fim do acordo entre as gigantes do setor de aviação, que surpreendeu negativamente o mercado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou o estado de emergência relacionado à pandemia de coronavírus, o que paralisou especialmente o setor de aviação.
Depois do acúmulo de notícias negativas, os papéis da Embraer perderam dois terços do seu valor, chegando perto dos R$ 6,00 no final de outubro de 2020, meses depois de Antonio Carlos Garcia assumir como CFO e diretor de relação com investidores da empresa.
Mais tarde, durante a gestão de Garcia, a Embraer começou a sair do estado de letargia em seus balanços. O segundo trimestre de 2023, por exemplo, mostrou alta de 20% no lucro, que chegou a R$ 279 milhões.
Com o bom desempenho, as ações da empresa voltaram, gradativamente, a patamares próximos dos registrados antes da dissolução do acordo. No fechamento da bolsa no dia 30 de agosto de 2023, os papéis operavam acima de R$ 19,30.
Segundo Garcia, a recuperação da empresa está amparada em dois fatores principais: geração de resultados e solidez.
Leia a entrevista concedida para a Inteligência Financeira em 28 de julho.
O senhor chegou à Embraer meses antes do fim do acordo com a Boeing e início da pandemia. Como foi recuperar a credibilidade ante o investidor?
A gente teve dois eventos. A covid, em março, e o fim do acordo, em abril, que impactaram de forma brutal a aviação comercial. O grande desafio relacionado ao fim do acordo foi mostrar para o investidor que o case Embraer era sustentável e não precisava de parcerias para sobreviver e recuperar a credibilidade do investidor, que ficou abalada. Eu acho que a gente segue fazendo isso nos últimos anos, é só olhar os resultados.
Por que havia tanta desconfiança do mercado com relação à companhia?
São vários os motivos, mas a performance financeira dos últimos anos não ajudou. Se você pegar o histórico da Embraer, que ano que vem completa 30 anos de listagem na bolsa, o faturamento andou de lado ao longo desse período, estagnado entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, sem registrar crescimento de receita. De 2017 em diante, com a margem não sendo das melhores. Além disso, não pagou mais dividendos por não ter resultado líquido. Hoje, a empresa continua num trabalho de recuperação para ter uma base de investidores forte.
Como a área de finanças atuou para contornar o cenário negativo?
Basicamente, gerando resultado positivo e caixa, mostrando solidez. A gente começou a dar guidance em 2021, cumprindo o que promete para o mercado. Acho que são esses os principais fatores.
A melhoria da performance operacional da companhia ficou clara e, com uma situação mais equilibrada de resultados, o investidor começa a voltar. A Embraer está inserida em mercados maduros e não tem por que não ter um resultado positivo que não seja constante.
Portanto, estabilidade, geração de caixa e resultados, cumprindo as guidances para o mercado, estão trazendo interesse maior para o papel, ainda longe da nossa expectativa. Nós estamos em processo de recuperação.
Como está acontecendo essa recuperação na prática?
A Embraer foi a empresa que mais desenvolveu novos aviões nos últimos 10 anos. Então, se a companhia investiu dinheiro, parte-se do princípio que esse dinheiro comece a monetizar em vendas e entregas para que retorne ao acionista. Então, a recuperação trata de voltar volumes ao investidor, de preferência, acima do histórico da Embraer.
Em 2019, a Embraer fazia US$ 5,4 bilhões de venda, com o resultado de caixa negativo. No ano passado, a companhia fez US$ 4,5 bilhões com resultado positivo e US$ 500 milhões de caixa, então, é uma diferença brutal. Daí vem a recuperação.
E agora é uma recuperação com crescimento que a gente está vislumbrando, de 20% esse ano e mais 20% no ano que vem.
Qual o papel da Eve (aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical) nessa recuperação?
Aí não é recuperação, na verdade. A Eve traz hoje um risco maior para a Embraer que resultado, mas é um novo mercado, com crescimento estratosférico. Quando o assunto é inovação, há a vantagem de haver mercados em desenvolvimento ou em crescimento muito acelerado. Outro exemplo, além da Eve, é da empresa de cyber security Tempest (adquirida pela Embraer), que vem nessa mesma onda de inovação. A receita da empresa cresce em torno de 30% ao ano, algo que no mercado de aviação você não vê com facilidade. Isso tudo cria valor para o acionista.