A escassez que gera valor aos clubes de futebol
Você já se perguntou por que alguns times são mais valiosos que outros? Vamos entender como a escassez é crucial e que gera valor aos investidores
Na semana passada vimos que é possível ganhar dinheiro investindo em clubes de futebol. Aliás, isso tudo depende do modelo e do ambiente de negócios no qual o clube está instalado. Esta é a base de qualquer negociação e interesse em clubes de futebol.
Mas é apenas o retorno financeiro que se espera ao comprar um clube?
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Num mercado maduro, como o europeu, há três objetivos mais claros para quem decide comprar um clube de futebol:
- Hobby/status;
- Desenvolvimento do clube,
- Desenvolvimento de atletas
Podemos até combinar os três, mas geralmente um deles se destaca.
Primeiramente, para o caso de comprar por hobby ou status, temos menos “investidores” e mais “donos” de clube. Geralmente buscam opções naquele Top 20 de clubes globais.
Pois bem, foi assim com o Chelsea e está sendo com o Manchester United. Afinal, são clubes mais valiosos, porém que atraem além de qualquer valorização. E valem o quanto pesam.
Ou seja, não há valuation que dê conta deles. Isso porque a maioria atingiu um topo de receitas, e apenas uma expansão generalizada da atividade pode agregar valor.
E há duas características importantes: escassez e valor. Pense nas 6 maiores ligas europeias e seus clubes e verá que no top 20 não existem mais que 4 ou 5 possivelmente negociáveis. Por isso, o preço é alto.
Mas para quem quer desenvolver clubes que vem de baixo, ou mesmo encontrar uma estrutura para desenvolver atletas, a escassez é também um item restritivo.
Se pegarmos os 240 clubes de 1ª e 2ª divisões na Europa, não encontraremos mais que 30 ou 40 “negociáveis”. Seja porque na Alemanha as regras dificultam, seja porque em Portugal há associações, seja porque alguns são clubes de donos históricos, e temos que excluir os bilionários.
Logo, acessar o mercado para comprar um clube europeu nas divisões mais altas não é tarefa fácil. Ainda assim vemos crescer as movimentações de negociações, como mostra o gráfico abaixo, com aumento cada vez maior de compradores corporativos e institucionais, substituindo as figuras dos donos.
Receita que funciona
Essa escassez garante a existência de um mercado futuro. Porque sempre haverá alguém interessado num clube de futebol, e como o custo de iniciar do zero é alto – assim como o risco de não conseguir chegar às divisões mais altas – comprar é sempre a alternativa mais rápida de cortar etapas.
O nível de valorização pode chegar a mais de 5 vezes se o projeto for bem estruturado.
Competições organizadas em ligas, com receitas relevantes pré-estabelecidas, fair play financeiro que funciona, e um equilíbrio quando excluímos os grandes clubes.
Esta é a receita de um mercado que funciona.
Quando pensamos no Brasil ainda estamos alguns passos atrás. Primeiro, a escassez é cada vez menos relevante.
O cenário dos clubes de futebol
A lei da SAF permite a negociação de clubes, alguns começaram o processo, mas ainda existe uma enorme quantidade disponível.
Além de uma série de pequenos clubes de divisões estaduais sendo negociados, ainda estamos engatinhando nas 3 divisões nacionais (Séries A, B e C).
E vejo dois elementos no atual momento: não há escassez e os valores estão elevados.
Dos 60 clubes das 3 principais divisões, podemos excluir uns 15 que não são negociáveis ou já foram negociados. Sobram 45 que aceitariam boas ofertas. E uma boa oferta significa uma garantia de investimentos por certo período.
O que fazer quando chegar na Série A?
Todo clube de Série B e C quer investimentos para chegar à Série A. Legal. O que fazer quando chegar lá? Temos a velha máxima: chegar é uma coisa, permanecer é outra. Com uma enorme quantidade de clubes querendo receber investimentos, e com valores envolvidos elevados, o risco de não atingir o objetivo é grande.
Afinal, se todos forem SAF e receberem investimentos, somente a capacidade de gestão é que fará a diferença entre o sucesso e a frustração.
Mas isso é um tema para uma próxima coluna.
Investidor estrangeiro
Não é à toa que a maioria dos negócios em andamento envolvem investidores brasileiros, porque o estrangeiro olha com certa desconfiança.
E com € 25 milhões é possível comprar e gerir um clube de Ligue 2 francesa, cujo equilíbrio da competição permite levar a equipe à Ligue 1 aplicando gestões eficientes, e ao final multiplicar o investimento por 3 ou 4 vezes. No Brasil ninguém tem a menor ideia para onde o mercado irá, e se irá.
Indústria inflacionária
Estão criando uma indústria inflacionada, e isso não é bom para seu desenvolvimento.
Na Europa vimos muitos casos de abandono de clubes quando os donos perceberam que para serem competitivos precisavam colocar dinheiro o tempo todo. Sobrou expectativa e faltou clareza no entendimento do negócio.
O investidor não precisa se preocupar em “beber água limpa” chegando antes, porque essa água pode ser apenas uma miragem no deserto.