Torcedor do Galo e salário de até R$ 60 milhões: o que já sabemos sobre o novo CEO da Vale
Cerca de 80% da remuneração do novo chefe da mineradora dependem de atingir metas, em especial as ligadas ao meio ambiente
Eleito na semana passada pelo conselho de administração, Gustavo Duarte Pimenta assume nesta terça-feira (1º) para um mandato de três anos como presidente-executivo da Vale (VALE3). Trata-se da terceira maior empresa brasileira listada em bolsa, com valor de mercado de quase R$ 300 bilhões.
Segundo interlocutores, Pimenta tem um perfil tipicamente mineiro: tem fala mansa, porém firme. É torcedor do Atlético Mineiro.
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Nascido em Minas Gerais em 20 junho de 1978, Pimenta começou a carreira em 2004 como auditor da KPMG, onde permaneceu por quase três anos.
Depois, foi executivo do Citi durante quase seis anos em Nova York, incluindo aí o período da crise de 2008.
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No ano seguinte, chegou à operação brasileira da AES, onde trabalhou como vice-presidente de serviços e depois como vice-presidente financeiro e de relações com investidores.
Em seguida, passou a exercer a mesma função em operações internacionais da companhia norte-americana de energia.
Pimenta também foi membro de conselhos de empresas como AES Gener no Chile e AES Clean Energy nos Estados Unidos.
Isso até migrar para a Vale (VALE3) como vice-presidente financeiro (CFO) por dois anos e onze meses, antes de agora assumir a presidência-executiva da mineradora.
Lá, também tem sido responsável pelos temas de energia e descarbonização. Logo, uma de suas responsabilidades é a de liderar os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa da empresa em 33% até 2030.
Pimenta é formado em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e tem mestrado em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ademais, o executivo tem cursos de extensão em outras universidades incluindo Fundação Dom Cabral, Georgetown, Virginia e Nova York.
Remuneração
No novo cargo, Pimenta deve ter remuneração da ordem de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões por ano, entre salário fixo, bônus, ações e benefícios.
Esta, segundo documentos regulatórios de 2021 a 2023, foi a faixa de remuneração anual de Eduardo Bartolomeo, que presidia a companhia desde 2019.
Pelo menos 30% da remuneração de curto prazo para executivos da Vale (VALE3) depende de atingir metas de segurança, gestão de riscos e sustentabilidade.
Para remuneração de longo prazo, desde 2022 pelo menos 25% das metas de desempenho devem ser baseadas em métricas sociais, ambientais e de governança (ESG).
Para efeito de comparação, no ano passado, de R$ 5 pagos pela companhia aos seus executivos, R$ 4 foram de remuneração variável.
A remuneração total dos executivos da Vale em 2024 prevista é de R$ 200 milhões, incluindo fixa e variável. Esses dados fazem parte do formulário 20-F.
Conversas com o governo
A eleição de Pimenta resultou de um trabalho que a Vale contratou para organizar a sucessão no mandato de Bartolomeo, que terminava em maio passado.
Porém, a tentativa do governo Lula para emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o cargo teve rejeição dos demais acionistas da Vale.
Isso levou o conselho a contratar a empresa de headhunter Russel Reynolds para buscar candidatos dentro e fora da companhia.
A pressão do governo ocorreu após mudanças na composição societária da mineradora nos últimos anos.
Mesmo após sua privatização, em 1997, a Vale manteve participação significativa do governo entre os acionistas. Isso por meio do BNDES e de fundos de pensão de estatais.
Dessa forma, durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003-06 e 2007-10), o governo conseguiu ter maior influência sobre a companhia.
Em 2020, contudo, o governo do presidente Jair Bolsonaro decidiu vender uma fatia na empresa.
Assim, a parcela do governo na Vale caiu de 26,5% para os atuais 8,7%, detidos pela Previ (caixa de previdência dos empregados dos Banco do Brasil).
Assuntos espinhosos para a Vale (VALE3)
Pimenta tem agora a missão de liderar a companhia num momento de crescente pressão global para reduzir o impacto ambiental das atividades da companhia, especialmente após dois desastres ambientais de grande repercussão causados pela empresa.
Um deles é o do rompimento da Barragem do Fundão, operada pela Samarco em Mariana (MG), em 2015.
A Vale e a BHP, sócia da empresa no caso, fizeram oferta de R$ 140 bilhões ao governo, mas as conversas seguem em andamento.
O outro é o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), em 2019, que deixou 267 mortos e três desaparecidos.
Adicionalmente, o governo cobra da companhia valores adicionais já pagos pela renovação de outorgas das estradas de ferro Carajás e Vitória-Minas.
Isso porque a administração atual não concorda com o valor acertado no governo Bolsonaro e quer receber valores extras, o que segundo a mídia local, pode girar em torno de R$ 20 bilhões.