Reserva de oportunidade: saiba o que é e como criar a sua

Reserva de oportunidade é uma forma de poupar dinheiro visando eventuais descontos e boas propostas de compra; veja como compor a sua carteira

Ilustração: Renata Miwa
Ilustração: Renata Miwa

Fazia dois anos que Jenni Almeida procurava uma sala comercial para estabelecer seu escritório. Até o momento, nenhum imóvel em São José dos Pinhais (PR), na região metropolitana de Curitiba, onde ela mora, coube no seu bolso ou atendeu às suas necessidades.

Eis que, em fevereiro de 2022, uma surpresa: no mesmo prédio onde ela já alugava um espaço para trabalhar, uma nova sala entrou em leilão. Foi a hora de usar a reserva de oportunidade. 

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A consultora de investimentos CVM já tinha um montante guardado, mas não era o bastante para arrematar o espaço. “Mas nada como uma boa conversa, né?”. Falou com a anunciante do imóvel e conseguiu algo que, à época, ainda era raro: o parcelamento de metade de uma compra leiloada.

Um nome: oportunidade

Dentre as possibilidades da reserva de oportunidade, esse foi só um caso de sorte e, como o nome sugere, de oportunidade. A ideia por trás deste tipo de fundo é que o dinheiro poupado venha a ser usado quando um bem caro, mas muito almejado, entre em desconto ou se barateie. 

“São recursos que você vai acumular sem um destino definido”, explica Almeida. E, aí, as possibilidades são infinitas. Pode ser aquele vinho caro cuja safra está se aproximando; um jogo de videogame que vai ser lançado a qualquer momento; o próximo modelo de um celular moderno; ou uma peça de roupa caríssima que, de repente, entrou no saldão. 

“Para se manter no exemplo da oportunidade dentro do mercado imobiliário”, ela exemplifica, “já aconteceu com alguns clientes o seguinte: a pessoa mora de aluguel há anos e, de repente, o locatário decide vender o imóvel. Vai que a grana aperta para ele? Nessa hora, quem tem a reserva de oportunidade pode dar uma entrada na casa que já mora”.

O que é reserva de oportunidade?

Portanto, a reserva de oportunidade é um dinheiro guardado em uma aplicação com muita liquidez e segurança, que excede o valor da reserva de emergência. Basicamente, os dois fundos funcionam da mesma forma: precisam ter baixo risco e apresentar resgate imediato.

A diferença são as aplicações: enquanto a reserva de emergência é usada para quando der ruim (como no caso de uma demissão), a reserva de oportunidade é usada para quando der bom. 

“Se você já tem sua segurança, com o orçamento em dia, com poder de poupança mantido e você ainda guarda recursos, mas ainda não tem um destino muito certo para eles, você pode começar a formar sua reserva de oportunidade”, recomenda Fagner Marques, planejador financeiro pela Planejar.

Ele afirma que, no final das contas, a estratégia de investimento vai ser a mesma: “o que vai mudar é o valor — se a sua reserva de emergência já estiver completa, o restante pode ser usado para aplicar na economia real ou em investimentos mais arrojados quando a oportunidade aparecer”.

Com ela também é preciso ter cautela: ainda que as classes de investimentos sejam parecidas, seus objetivos são muito distintos. Marques afirma que gastar a reserva de emergência como se fosse a de oportunidade é um “tiro no pé”.

“As duas opções se misturam porque os produtos são muito parecidos, mas é preciso ter muito claro onde um acaba e o outro começa”, alerta. 

Como gastar a reserva de oportunidade?

Os destinos mais frequentes da reserva de oportunidade são os ditos “gastos supérfluos”. Eles incluem as despesas sociais, que são as idas ao restaurante, os eventos culturais e as festas, por exemplo, e os bens de consumos, sejam eles roupas, joias, mobília ou entretenimento. 

Apesar da denominação, os gastos supérfluos são necessários para o investidor sentir que seus esforços valem a pena. “Para que eu vou guardar, guardar e guardar se eu não consigo colher os frutos de tudo isso, das coisas que o dinheiro permite?”, questiona Jenni Almeida.

Igualmente, Fagner Marques complementa: “poupar não é algo natural, e se você não aproveitar o mínimo dos seus resultados, sua disciplina vai acabar – uma hora você vai pensar ‘poxa, mas para que é que eu guardo tanto dinheiro?’, então é preciso deixar um percentual de gastos livres”.

Além disso, os ditos luxos também se traduzem em verdadeiras melhorias de vida. Não que a reserva de oportunidade seja uma licença para a gastança, mas sim um refresco em meio às pressões financeiras e inseguranças da economia.

“Um carro não é só um carro e um apartamento não é só um apartamento – eles são conforto, segurança, mobilidade e a sensação de que os seus esforços não estão sendo em vão”, afirma Marques.

Mercado de ações 

Outra tática frequente de utilização da reserva de oportunidade é na Bolsa de Valores. À espera de uma queda do mercado, o investidor usaria seus recursos poupados para comprar ações quando “atingirem a mínima”.

Especialistas ouvidos pelo Bora Investir desaconselham este método, visto que é necessário entender muito de análise de mercado para fazer previsões, no mínimo, realistas. “O investidor precisa fugir da tentativa de tentar prever o futuro”, diz Marques.

Almeida diz que somente traders experientes podem arriscar usar seu fundo de oportunidade na Bolsa, visto que eles são capazes de lidar melhor com as perdas, caso ocorram. Além disso, é muito difícil prever o futuro do mercado. 

“Nada cai tanto que não possa cair mais – e o contrário também é verdadeiro”, diz um ditado da Faria Lima. 

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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