‘Quiet quitting’: a demissão silenciosa chega aos escritórios brasileiros
Tema virou debate nas redes sociais e questiona o comportamento de ‘vestir a camisa’ sem o devido cuidado com a saúde (inclusive financeira)
A pandemia fez com que grande parte das pessoas repensasse diversos valores, inclusive no trabalho. Tanto que, recentemente, um termo ganhou força nas redes sociais: ‘quiet quitting’. A expressão, que em português quer dizer “demissão silenciosa”, significa algo como “fazer apenas o que o trabalho exige, e nada mais”.
Surgido nos Estados Unidos, ‘quiet quitting’ é uma atualização de ‘quitting-in-place’ (desistir sem sair do lugar). O movimento ganhou força no TikTok, onde a hashtag acumula mais de 75,9 milhões de visualizações. Trata-se basicamente da tentativa de redefinir as relações de trabalho, derrubando a cultura da alta performance. É sobre impor limites e priorizar a sua saúde; é pensar a vida para além da profissão.
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Alguns especialistas dizem que esta é uma espécie de tentativa de redefinir as relações de trabalho. Ou seja, não fazer nada que seja extra expediente. Não sendo necessário ajudar com tarefas adicionais, como verificar os e-mails fora do horário de trabalho, ou responder mensagens de áudio sábado de manhã.
Quiet quitting virou febre no TikTok
Nascido nos Estados Unidos, o ‘quiet quitting’ é tido como uma atualização de outra expressão: quitting-in-place (desistir sem sair do lugar). Aliás, esse movimento ganhou evidência no TikTok, onde a hashtag tem até o momento mais de 108 milhões de visualizações. Inclusive, o termo pode ter sido inspirado nas redes sociais da China. Isso porque, por lá, havia surgido a hashtag #TangPing (deitado), que tem relação com o sistema de trabalho chinês.
E não é á toa que esse termo esteja tão em evidência. Afinal de contas, de acordo com o relatório da empresa de pesquisa de opinião Gallup, apenas 9% dos trabalhadores no Reino Unido estavam entusiasmados com seu trabalho.
‘Quiet quitting’ já chegou no Brasil
Por aqui, já são observados sinais da demissão silenciosa. A pesquisa Randstad Workmonitor, divulgada em abril, feita em 34 países com 35 mil profissionais entre 18 e 67 anos, mostrou que, especificamente para os brasileiros, um fator importante é a flexibilidade.
Já o quesito ‘ter mais liberdade’ é considerado fundamental para 85% dos brasileiros. E ainda de acordo com o estudo, 97% dos brasileiros entrevistados disseram que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é primordial na hora de decidir por ficar ou mudar de trabalho.
Como as empresas estão se preparando
Algumas empresas já estão se adequando ao fenômeno que está ganhando mais adeptos. Tanto que algumas decidiram ajustar as funções para que os colaboradores se sintam orgulhosos de seu trabalho, além, claro, de um salário e condições de trabalho mais equilibradas. Agora, precisa entender se os profissionais vão perceber esse novo movimento das companhias e o que farão diante disso.
Desmotivação ou chefe ruim?
Segundo alguns estudos, o fenômeno da demissão silenciosa geralmente tem menos a ver com a falta de disposição de um funcionário de trabalhar mais e de forma mais criativa e mais com a falta de capacidade de um gestor de construir um relacionamento de confiança com sua equipe.
É o que aponta uma pesquisa desenvolvida pela consultoria de desenvolvimento de liderança Zenger/Folkman, a partir de dados coletados sobre 2.801 gestores, que foram avaliados por 13.048 subordinados diretos. As informações são da Harvard Business Review.
Os pesquisadores levantaram a seguinte questão: o que faz a diferença para aqueles que veem o trabalho como uma prisão diurna e outros que sentem que isso lhes dá significado e propósito?
Para o estudo, em média, cada gestor foi avaliado por cinco subordinados diretos em relação a dois pontos:
• Capacidade de “equilibrar a obtenção de resultados com a preocupação com as necessidades dos outros”.
• Até que ponto seu ambiente de trabalho é um lugar onde as pessoas querem ir além e fazer um esforço extra.
A pesquisa mostrou que os gestores avaliados como menos eficazes têm três a quatro vezes mais subordinados que se enquadram na categoria de “desistência silenciosa” em comparação com os líderes mais eficazes. Esses gestores tiveram 14% de seus subordinados diretos desistindo silenciosamente e apenas 20% estavam dispostos a fazer um esforço extra.