Pix completa dois anos. Confira os números que confirmam seu sucesso e o que vem pela frente
Com mais de 138 milhões de usuários entre pessoas e empresas, o Pix completa dois anos na próxima quarta-feira e permanece em trajetória de crescimento
Com mais de 138 milhões de usuários entre pessoas e empresas, o Pix completa dois anos na próxima quarta-feira e permanece em trajetória de crescimento, com ampla adesão por parte da população e das instituições financeiras. Embora esteja no centro de discussões sobre segurança de dados e crimes virtuais, é unânime entre especialistas ouvidos pelo Valor que o balanço desse período é positivo.
Desde o lançamento, foram movimentados quase R$ 13 trilhões por meio do Pix, R$ 7 trilhões apenas em 2022, segundo dados do Banco Central (BC). Em setembro, último número disponível, o volume transacionado no mês ultrapassou pela primeira vez a marca de R$ 1 trilhão.
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O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro teve adesão quase imediata, principalmente para transferências e entre trabalhadores informais, mas ainda tem uma extensa agenda de inovações para o futuro. Ao todo, são 523,2 milhões de chaves cadastradas — cada pessoa pode registrar até cinco e empresas, até 20. Podem ser usados CPF ou CNPJ, e-mail, celular ou números aleatórios.
“O segundo ano do Pix pode ser considerado um sucesso do mesmo tamanho que seu primeiro ano. Nos últimos 12 meses mais de 100 mil novas contas foram cadastradas, a quantidade total de transações mais que dobrou, passando de 2 bilhões ao mês, sendo que tivemos um acréscimo de mais de 300 milhões de transações mensais entre pessoas e empresas, consolidando o Pix como uma das formas de pagamento mais usadas no Brasil”, diz o diretor de inovações financeiras da Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac), Rodrigoh Henriques.
Adesão ao Pix entre trabalhadores informais
O Pix teve adesão rápida especialmente por pessoas físicas. Entre as empresas, a adoção foi mais forte entre os trabalhadores informais. O comerciante Danilo Aureliano, 28 anos, é proprietário de uma banca de roupas em Brasília (DF) e aceita pagamentos com Pix desde o lançamento da ferramenta. Hoje, cerca de 25% das vendas dele são feitas por meio do sistema. “Facilitou muito pela rapidez, o dinheiro cai na hora na conta.” Segundo ele, o volume que recebe em espécie caiu drasticamente nos últimos dois anos. “Agora, menos de 5% das minhas vendas são em dinheiro vivo.”
Ione Leila Menezes, de 58 anos, vende frutas na capital federal e também recebe pagamentos pelo sistema de pagamentos instantâneos há dois anos. “Eu perdia muitos clientes porque não aceito cartão e a maioria não anda com dinheiro. Agora uso a conta do meu filho para receber as transferências.”
Também comerciante, Davi Pereira, 41 anos, concorda que o novo meio de pagamento facilitou as vendas e conta que metade dos seus clientes compram com Pix.
Em sentido oposto, José Sebastião Batista, 87 anos, é proprietário de uma banca de produtos artesanais na feira do Cruzeiro, em Brasília, e só aceita pagamento em dinheiro vivo. Ele, que também não usa celular, conta que muitos clientes pedem para pagar com cartão ou Pix. “Meus fornecedores não aceitam outros meios de pagamento e daria muito trabalo ter que ir sempre à agência”, explica.
Golpes com Pix
O meio de pagamento trouxe benefícios para os consumidores, mas também facilitou a ação de criminosos, que aplicam golpes e conseguem pulverizar rapidamente o dinheiro em diversas outras contas para dificultar o rastreio.
Diante do aumento de crimes com o Pix, o BC pretende endurecer as regras de rastreio para coibir a utilização das chamadas “contas laranjas”, utilizadas por criminosos para distribuir o dinheiro das vítimas. Uma das mudanças previstas, ainda sem data para ser implementada, é a notificação automática da ramificação desses valores — quando o criminoso transfere imediatamente o valor recebido pela vítima para várias outras contas, dificultando o rastreio. O item foi incorporado à agenda prioritária do regulador. A ideia é que seja bloqueada até a quinta camada de ramificação e que haja registro de todas as operações realizadas em até 30 minutos após o recebimento do dinheiro, por exemplo.
Felipe Soria, chefe de inovação em pagamentos do Mercado Pago, ressalta que o Pix é um instrumento seguro “utilizado a partir de uma plataforma robusta e supervisionada pelo BC”. “Porém há outros riscos externos que vêm sendo acompanhados de perto pelo regulador e pelas instituições participantes. Um levantamento da Zetta [entidade que representa fintechs maiores] aponta que cerca de 90% das fraudes são fruto de engenharia social, ou seja, quando a vítima é direcionada a fornecer informações, como senhas e contas, fragilizando os seus dados”, diz. Segundo ele, essa tática é usada também em outros meios de pagamento. “Os casos de Pix chamam atenção pois há mais usuários que até então não eram bancarizados.”
A autoridade monetária tem que lidar, ainda, com casos de vazamento de dados. Foram registrados quatro casos no total, em que chaves de clientes ficaram expostas por erro da instituição financeira.
Inovações no Pix
Além das melhorias na parte de segurança, a agenda evolutiva do Pix prevê pagamento off-line, parcelamento de compras, transferências internacionais e uma espécie de débito automático.
De acordo com o BC, apesar do expressivo uso do Pix, “o meio de pagamento ainda não atingiu seu pleno potencial”. “Há bastante espaço para crescimento e existem diversos produtos e novidades previstos em sua agenda evolutiva.”
“Além de aperfeiçoamentos contínuos nos mecanismos de segurança, está priorizado o desenvolvimento do serviço que viabilizará os pagamentos recorrentes de forma automática, mediante prévia autorização do usuário, produto similar ao débito em conta, mas que independe do estabelecimento de convênios entre usuários recebedores e instituições financeiras específicas.
“Além disso, o BC vem acompanhando as iniciativas para interligações de sistemas de pagamentos de diferentes países, o que no futuro viabilizará pagamentos transfronteiriços de forma mais ágil e prática”, complementa.
Para Marcelo Martins, CEO da fintech Iniciador e diretor executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) ABFintechs, o segundo ano consolidou o sucesso do Pix. “Quem não aceita Pix está praticamente fora do mercado, é uma funcionalidade obrigatória. O balanço é super positivo, ninguém pensava que viraria algo do dia a dia do brasileiro, até mesmo da cultura, em menos de dois anos. O sistema vai melhorando com o tempo, tem muita coisa para ser explorada, ainda há espaço para crescimento exponencial”, diz.
Martins afirma que a iniciação de pagamento com Pix, em que o cliente não precisa abrir o aplicativo do banco para fazer a compra, é uma aposta para 2023. “Isso deve agilizar especialmente a venda on-line. Segundo estimativa feita pelo executivo, haverá uma queda de cerca de 50% no tempo de transação. Ou seja, um processo que hoje dura 50 segundos poderá ser reduzido para cerca de 30 segundos.
O professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) Henrique Castro pontua que o Pix viabilizou operações de pequenos valores. Antes, essas transações não eram feitas por conta das tarifas, que muitas vezes eram maiores que o próprio recurso a ser transferido. “É forma barata e sem taxas de se fazer transferências e pagamentos, além de não ter limite de horário”, enfatiza.
Com reportagem de Larissa Garcia, Valor — Brasília