The White Lotus e o ‘set-jetting’: como as séries estão redefinindo o turismo e economias locais
De cenário a destino dos sonhos, o turismo inspirado em séries, ou set-jetting, cresce ao redor do mundo e movimenta milhões
‘The White Lotus’, da HBO, não é apenas um sucesso de audiência, mas também um fenômeno que movimenta o turismo ao redor do mundo. Cada temporada da série se passa em um local distinto e o impacto dessa escolha vai além da tela. Os hotéis onde as gravações foram feitas, como o Four Seasons Resort Koh Samui, na Tailândia, e o Four Seasons San Domenico Palace, na Sicília, viram suas taxas de reserva dispararem.
Esse movimento faz parte do chamado set-jetting, termo que descreve o turismo inspirado por filmes e séries. O fenômeno parece ganhar força nos últimos anos. Contam a favor o crescimento das plataformas de streaming e a busca dos espectadores por experiências imersivas. E ‘The White Lotus’ tem sido um dos maiores exemplos.
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O impacto direto de The White Lotus no turismo e na economia
Na terceira temporada, que estreou em fevereiro, a série leva os espectadores para o Four Seasons Resort Koh Samui, na Tailândia, onde as diárias custam cerca de US$ 2 mil. Desde o anúncio da locação, de acordo com o site Robb Report, as reservas no hotel aumentaram 40%.
O mesmo aconteceu na temporada anterior, filmada no Four Seasons San Domenico Palace, na Sicília. O impacto foi tão grande que o hotel teve reservas esgotadas por seis meses consecutivos após a exibição da série. Isso segundo o The Washington Post.
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Além de lotar hotéis, ‘The White Lotus’ também impulsiona a economia local. De acordo com a Oxford Economics, a produção da segunda temporada injetou mais de 38 milhões de euros no PIB da Itália, gerou 1,5 mil empregos e contratou serviços de 700 empresas locais. Os trabalhadores italianos envolvidos na série receberam um total de 8 milhões de euros em salários.
O set-jetting está em alta e vai além de The White Lotus
O turismo motivado por filmes e séries é um fenômeno crescente. De acordo com relatório da Expedia, dois terços dos viajantes afirmam que filmes e séries influenciam suas escolhas de viagem. E 36% disseram que o impacto da televisão e do cinema aumentou em suas decisões no último ano. O relatório foi divulgado em novembro de 2024.
O mesmo estudo aponta ainda que em 2025 ‘The Real Housewives of Dubai’ deve substituir ‘Emily em Paris’ como uma das principais inspirações de viagem. O efeito da série já é visível: desde seu lançamento, o interesse por Dubai aumentou mais de 30%.
Além de Dubai, outros destinos que devem receber um fluxo maior de turistas por causa das produções audiovisuais incluem:
- Montana e Wyoming (‘Yellowstone’)
- Nova York (‘And Just Like That’)
- Cidade do Cabo (‘One Piece’)
- Escócia (‘The Traitors’)
No Reino Unido, esse fenômeno parece consolidado. Turistas, todos os anos, procuram experiências relacionadas a ‘Bridgerton’, ‘Harry Potter’, ‘Game of Thrones’ e ‘Outlander’, com centenas de passeios temáticos disponíveis.
Produções também se beneficiam dos destinos
Para Amanda Noventa, co-fundadora da agência de viagens Fuga, o set-jetting é um jogo de mão-dupla. “As produções recebem incentivos para serem filmadas em destinos específicos, e esses lugares, por sua vez, se beneficiam da exposição que as produções oferecem”, explica.
A Tailândia, por exemplo, ofereceu isenção de impostos e outros incentivos fiscais para atrair ‘The White Lotus’. Isso, segundo Amanda, cria um ciclo vantajoso tanto para as produções, que economizam na filmagem, quanto para os destinos, que ganham visibilidade e atraem turistas.
Esse modelo de parceria já foi usado em diversas produções. O filme ‘Sex and the City 2’, por exemplo, promoveu Abu Dhabi. O Canadá também é um dos países que mais se beneficiam desse modelo, servindo como locação para produções ambientadas nos Estados Unidos mas com custos reduzidos.
Tendência de crescimento
Com o crescimento das plataformas de streaming e o aumento do número de séries e filmes lançados anualmente, o set-jetting só tende a ganhar mais força. Para Amanda, esse fenômeno não é passageiro.
“As pessoas estão assistindo cada vez mais séries e filmes, e acabam sendo influenciadas pelos destinos que veem na tela. Isso é ainda mais forte no caso de franquias geeks, como ‘O Senhor dos Anéis’, que transformou a Nova Zelândia em um destino obrigatório para os fãs, ou ‘Game of Thrones’, que movimentou diversas locações na Europa”, diz.
Além disso, a busca por incentivos financeiros faz com que mais produções sejam filmadas fora dos Estados Unidos. “Produzir um filme ou série nos EUA é caro, então cada vez mais vemos gravações acontecendo em países que oferecem benefícios fiscais, como Canadá e Tailândia”, explica Amanda.
