O que eu aprendi colecionando discos de vinil? No fundo, no fundo nada; e isso basta
Colecionar vinis no fundo é esperar pelo próximo disco pra comprar. Não se aprende nada, exceto que eles são o máximo.
O motivo inicial deste texto, o gancho no jargão jornalístico, seria descobrir quanto eu já gastei colecionando discos. De vinil, que fique claro. Acontece que fazer essa conta se tornou uma coisa difícil. Primeiro que aplicativos cobram para você fazer esse cálculo – e de quebra você precisa cadastrar toda a sua coleção.
Ou vai ver que eu tornei as coisas mais difíceis com medo de achar um número que fosse muito maior do que aquele que eu imagino.
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Então, esse texto passou a ter a pretensão de ser sobre o que eu aprendi colecionando álbuns. Mas eu também desisti. Afinal, as pessoas têm milhares… Não, milhares é exagerado. As pessoas têm centenas… Também é muito! Na verdade, acho que todo mundo tem dezenas de motivos. Tá, vamos dar o braço a torcer: talvez se tenha um ou dois motivos para colecionar discos.
Tá bom, admito. No meu caso, são dois motivos.
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Nostalgia explica gosto pelo vinil
O primeiro deles é a nostalgia. Uma das primeiras memórias que eu tenho é a do meu pai colocando um disco para tocar no sábado à tarde. Ou no domingo pela manhã. O primeiro presente que ele me deu quando eu passei por uma intervenção médica sem anestesia – com a cara e a coragem – foi um vinil. Assim, é impossível essas coisas não ficarem marcadas na gente.
Então, toda vez que eu coloco um disco de vinil para tocar é também dele que eu me lembro.
O segundo motivo não tem a ver com nada específico. Nick Hornby escreve em ‘Febre de bola’ que você acorda com uma sensação diferente, meio inexplicável quando é dia de jogo de futebol importante. Com vinil é mais ou menos isso, mas todo dia.
É meio como o personagem principal de outro livro dele, o ‘Alta Fidelidade’. Só que quem coleciona vinis talvez se sinta hoje menos como aquele personagem masculino e mais como Zoe Kravitz. É ela quem interpreta a protagonista da série sobre o livro que infelizmente terminou com apenas uma temporada.
Na série, a atriz coloca para tocar na sala de sua casa ‘I can’t stand the rain’, de Ann Peebles. E quando a música começa a tocar, tudo fica para trás. Tudo fica menor. Você se concentra na música. Não vou te contar o disco que me faz desligar, mas todo mundo que coleciona vinil tem uma música dessas. pode perguntar.
Discos de vinil: não são apenas dois motivos
Colecionar discos tem a ver também com outros motivos. Você conhece gente interessante. E gente meio maluca também. gente que passa meses atrás daquele disco específico, lançado no Japão na década de 1980. E não importa se a pessoa tem o mesmo disco lançado na Europa ou nos Estados Unidos. Isso importa muito pouco, na verdade.
Também é uma experiência muito bacana frequentar as feiras de vinil que se espalham quase clandestinamente por São Paulo. Fui em uma que ocorria no andar de cima de um restaurante por quilo. Era só passar pelas sobremesas.
Dessa forma, lá encontrei gente muito bacana. O cara que vende tudo de heavy metal, o especialista em música brasileira. E até o tiozinho que me trouxe para mostrar um vinil com os hinos dos principais times de futebol do Brasil só porque eu vestia a camisa do meu clube de coração. Essa é outra influência do meu pai.
Vinil: valores gastos x valores adquiridos
Então, acho que colecionar discos tem mais a ver com isso do que com os valores gastos. Tem a ver com paixão, mesmo. E acredite, não há nada melhor na vida (tá bem, tem coisas melhores, sim) do que chegar em casa, plugar o fone de ouvido, tirar o vinil do plástico e colocá-lo para tocar.
Sempre haverá o próximo disco a comprar, e no fim, é sobre isso. Não se aprende nada colecionando discos de vinil, exceto que eles são o máximo.