Crise do cacau: chocolate não é mais o mesmo e precisa do cliente; conheça dez marcas premium

O mercado vive uma crise, mas ainda há muito chocolate bom por aí.

Cacau passa por problemas no mundo todo. Crise climática ajuda a explicar. Foto: Ana Paula Boni

Uma barra traz chocolate branco misturado a chocolate 65% de teor de cacau com café, como um café pingado. Outra é puro chocolate branco com flocos de arroz e especiarias como canela, simulando o arroz doce. Ainda tem barra de chocolate ao leite com framboesa e raspas de limão, ou com leite de coco, ou com caramelo queimado.

Pura indulgência.

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Mas aí você descobre que o chocolate está mais caro. E a inflação atingiu o seu produto preferido. Bem, não é uma inflação simples – e, atenção, essa não é uma coluna de economia.

Chocolate está mais caro

Dessa forma, se você não está atento ao cacau nas principais bolsas de valores globais, foi pego de surpresa e não está entendendo como o chocolate está mais caro.

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Assim, se ele é de categoria especial, bean ou tree to bar, como as barras descritas no começo desse texto, um produto premium sem as intervenções da indústria, ela pode até ter sumido da prateleira.

Dessa forma, a expressiva queda na produção, detonada pela crise climática que vem esquentando o planeta, fez o preço da saca subir mais de 300%.

Ah, mas a crise climática é um assunto distante, de COP e líderes de Estado, coisa para o futuro?

Só que não.

Três questões importantes antes de prosseguirmos
Especialistas estimam que a crise nas produções globais de cacau deve durar mais uns dois ou três anos, impactando os preços da indústria e dos produtores artesanais. Mas ela vai passar.
Ainda que ela passe, produtores de chocolate bean ou tree to bar não deverão retroceder no posicionamento de seus produtos como artigo premium, como merecido para esse nicho. E você, por favor, deve continuar pagando por ele.
Se você encontrar chocolate com o mesmo preço do ano passado,é porque a indústria tirou massa de cacau (produto nobre) e entupiu sua barra de açúcar, leite e outros aditivos. Ou porque algum outro ator nessa cadeia de produção está sofrendo para o seu bolso não sofrer.

Mas o que está acontecendo com o cacau?

Os dois maiores produtores de cacau do mundo, Costa do Marfim e Gana, que respondem por em torno de 60% da produção global de cacau, enfrentam desde o ano passado uma série de problemas nas produções por questões climáticas, além de falta de regulação, e atividades ilegais como mineração (que afetam terras produtivas de cacau). Existe até falta de investimentos.

Detalhes das sacas de café da Fazenda Bonança. Foto: Ana Paula Boni

Resultado: perderam produção e isso impactou o mercado inteiro. Na Bolsa de Nova York, a tonelada do cacau atingiu em abril a marca recorde de US$ 12 mil (a média do ano está entre US$ 8 mil e US$ 9 mil). Em agosto de 2022, o valor era US$ 2.394.

Outros locais afetados

Então, outras localidades também sofrem com questões climáticas. E falta de investimento para lidar com o problema.

Dessa forma, no sul da Bahia, Estado que colabora para o Brasil ser o sexto maior produtor de cacau do mundo, as mudanças secam o clima quando ele deveria estar mais úmido. Então, encharcam a terra quando deveria estar seco. Assim, a bagunça na formação das flores e frutos faz o cacau ficar imprevisível.

Então, a crise não é só na África.

Mission é mais uma marca de chocolate premium destacada. Foto: Divulgação

Mas é bom para os produtores venderem cacau a preço de ouro e lucrarem? Até poderia ser. Se houvesse cacau.

“Perdemos quase metade da produção neste ano. Não estamos numa situação privilegiada. Estamos na mesma crise”, diz Juliana Aquino, cacauicultura no sul da Bahia (Fazenda Vale Potumuju). Ela é sócia da marca de chocolates Baianí em São Paulo. “Se fazendas na África perderam 60% de sua produção, na Bahia foram 40% pelo menos.”

Claudia Gamba, da fazenda baiana Bonança e da marca de chocolates Mestiço, é a mesma coisa.

“Desde junho não tenho cacau para vender para meus parceiros de cacau fino. A Mestiço também ficou com o estoque no limite.”

Assim, como Juliana e Claudia, todo mundo perdeu parte da produção.

Dessa maneira, o pouco que sobra é levado pela grande indústria, que paga com ágio e mantém os valores lá em cima. Se um ou dois anos atrás o quilo do cacau especial na Bahia custava em torno de R$ 40, agora pode chegar a R$ 90.

A crise chega ao consumidor

As pequenas marcas de chocolate bean to bar e tree to bar, que não têm a margem e os investimentos da indústria, estão aumentando os valores de suas barras. Cerca de 10% para produtos que custam em torno de R$ 25 a R$ 30 (80g a 100g).

Barra de chocolate Gallette, uma das marcas que vale a pena conhecer. Foto: Divulgação

Gislaine Gallette, da marca Gallette em São Paulo, pagava R$ 30 no quilo do cacau e agora paga R$ 75. Aumentou em 12% o valor de suas barras. “Se a gente repassa o preço todo, o mercado não compra. O chocolate vai se tornar um produto ainda mais premium, mas isso não é legal pois muitos não vão pagar. Muitos chocolateiros menores vão quebrar.”

No caso da Mission Chocolate, de Arcelia Gallardo, a solução foi reduzir a equipe e também tirar algumas barras menos vendidas de linha. Para as que estão no catálogo, o preço foi de R$ 30 a R$ 34.

“Paguei R$ 90 no quilo do cacau. A manteiga de cacau, que eu comprava a R$ 56, agora está R$ 220. Nunca tinha visto chocolate como item de luxo. Sempre pensei meu chocolate para ser acessível. E nem está chovendo dinheiro para os produtores, porque eles não têm cacau para vender.”

A expectativa das marcas é que o mercado estabilize em dois ou três anos, mas muito provavelmente os preços das barras não devem recuar.

No nicho bean to bar, em que as barras são feitas desde as amêndoas do cacau pelo mesmo chocolateiro, com pagamentos justos em toda a cadeia e cuidado total com os ingredientes, o chocolate é um produto premium. Sensorialmente vale essa mudança de patamar.

É como degustar uma barra de chocolate branco caramelizado como doce de leite, com café e flor de sal (da Mission), ou um chocolate de “caipirinha”, com raspas de limão e cacau ‘infusionado’ na cachaça (da Baianí).

Experimente esse próximo passo.

10 marcas para você conhecer

Quem faz chocolate especial dos nichos bean to bar e tree to bar
Baianí (SP) – tree to bar – Fazenda Vale Potumuju (BA)
Cacau do Céu (BA)
Casa Lasevicius (SP)
Cuore di Cacao (PR)
Gallette (SP)
Luisa Abram (SP)
Majucau (SP)
Mestiço (SP) – tree to bar – Fazenda Bonança (BA)
Mission (SP)
Modaka (BA) – tree to bar – Fazenda São José

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