’38 estrelas’ conta história da maior fuga de um presídio de mulheres da história; e mais que isso

Livro discute também o protagonismo das mulheres na luta armada contra a ditadura no Uruguai

Imagem de roupas usadas por presos políticos no Uruguai. Elas estão expostas no Museo de la Memoria. Foto: Daniel Fernandes

Um livro potente, mas aparentemente pouco comentado, compõe as prateleiras das livrais virtuais e físicas sem nenhum alarde no Brasil. O livro se chama ’38 estrelas’, tem um subtítulo que indica que a obra trata da ‘maior fuga de um presídio de mulheres da história’. Mas vai além. É também um constante diálogo entre a autora, Josefina Licitra, e o leitor sobre outro tema: a falta de protagonismo feminino nos movimentos que pegaram em armas contra as ditaduras da América do Sul entre as décadas de 1960 e 1970.

É a história de mulheres que integravam o movimento Tupamaro e de outros de menor monta no Uruguai. É a história de Alicia Rey Morales, Yessie Arlette Machi e das irmãs Topolansky, mais conhecidas do público. Lucía Topolansky e María Topolansky. A primeira é casada com o ex-presidente do Uruguai Jose Mujica e integrava o movimento terrorista para uns, revolucionário para outros. María era conhecida como Parda. E era especialista em bombas.

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Assim, a obra de Licitra é pequenina. Daqueles livros que se acabam em dois, três dias. Mas isso é uma pena. Dessa maneira, ao fim da leitura fica a sensação de que tudo poderia ser maior e mais detalhado. Mas talvez essa seja a própria razão do livro ser bonito. Não à toa ele foi escolhido ainda em 2018 como indicação de leitura do The New York Times.

Então, a página dedicada ao livro no site da Relicário Edições informa que Licitra realizou uma extensa pesquisa e entrevistou muitas das protagonistas da fuga do presídio.

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E o texto de apresentação da obra ainda informa que a reconstrução dessa história por meio do livro é dotada de habilidade cinematográfica. É verdade. Assim, a leitura é dinâmica e envolvente. E sóbria, o que não significa que o leitor não vai se empolgar com o fato da fuga por um túnel que ‘cobria’ 10 quarteirões de Montevidéu deu certo (e isso não é, definitivamente, um spoiler).

’38 estrelas’ e mais: a coleção Nos.Otras

O livro aqui resenhado faz parte de uma coleção de nome Nos.Otras. Pretende-se dar espaço para obras que nem sempre tem visibilidade na Relicário. Assim, todos são escritos por mulheres e a curadoria e coordenação editorial é de Mariana Sanchez e Maíra Nassif.

Assim, quando se navega pela página virtual da coleção, logo de cara uma outra obra desperta a atenção. É o livro ‘Tornar-se Palestina’. Foi publicado inicialmente em 2013 e escrito por Lina Meruane. O trecho inicial, as duas primeiras linhas, são muito mais que um belo cartão de visitas (até porque ninguém mais os têm na carteira hoje em dia). A autora escreve: “Retornar. Esse é o verbo que me assalta toda vez que penso na possibilidade da Palestina”.

Uma visita à memória

Vista da entrada do museu. Foto: Daniel Fernandes

No ano passado, este jornalista visitou o Museu da Memória no Uruguai. Ele fica na Av. de las Instrucciones. Que vem a ser uma rua bastante afastada do centro de Montevidéu. Têm grandes propriedades no caminho e árvores e pequenos campos por todos os lados. Ao chegar ao local se tem de andar um belo pedaço a pé até chegarmos a uma casa no alto de uma pequena elevação.

Por lá, de maneira muito simples e eficiente, como tudo no Uruguai, se tem uma visão do que foi a ditadura e a luta contra a ditadura no Uruguai. O espaço que mais impressiona é aquele onde estão uniformes de presos políticos detidos. Pendurados no teto, em um espaço de passagem entre uma sala e outra, é impossível não ser impactado.

Agora, após terminar o livro, é desse lugar que eu lembro quando releio a citação inicial de Licitra em ’38 estrelas’. “É nessa urgência, de antes e agora, que homens e mulheres estamos unidos. Porque todos nós sobrevivemos a mais de uma coisa e todos fugimos de mais de um lugar”.

Onde encontrar o livro
’38 estrelas’ está à venda no site da editora Relicário (o prefira se quiser comprar online em detrimento de gigantes do comércio virtual). Ele conta com tradução de Elisa Menezes e custa R$ 65. Vale cada centavo gasto.
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