Nosso colunista, César Grafietti, fala dos riscos de uma negociação e a importância de se fazer perguntas quando um novo projeto é apresentado.

Negociação de jogadores de futebol: nem todo business plan é simples como parece

FUTEBOL

Grafietti diz que em sua experiência no mercado financeiro, em muitas apresentações de novos projetos há falta de sinceridade com os riscos do negócio. "200 páginas de pitch e nada que apontasse os riscos do negócio. Daí, vinha o chato e começava a apontar riscos e fazer perguntas. Pronto! O projeto já nem era tão bom assim. Mas você fica com a imagem de quem não quer fazer negócio, quando na verdade o que se busca é justamente reconhecer os riscos, entendê-los, mitigá-los..."

O colunista diz que isso se aplica ao futebol, ainda mais em tempo de SAFs e investimentos. Todos têm a ideia certa e o caminho para o sucesso. "Mas poucos param para ouvir o som do que pode dar errado. E, olha, estamos falando de um negócio em que o acaso conta muito, a favor e contra", diz . Pra ele, gestores precisam minimizar os impactos do acaso no caso da negociação de jogadores de futebol e, para isso, é necessário conhecer os riscos.

Minimizar os riscos

Há diversas dificuldades no investimento em formação de atletas. Seja pela necessidade de infraestrutura adequada, pela fragilidade da lei, etc. E, depois, todo o controle e monitoramento para ter o melhor aproveitamento na estrutura e no encaminhamento dos atletas para outras equipes, de forma a retornar o investimento feito.

Minimizar os riscos

Segundo César, há projetos de desenvolvimento de “clubes de formação”, cuja tese é encontrar atletas, formá-los e negociá-los, criando um círculo virtuoso e gerando valor para o acionista e para o atleta. E é o sonho de todo jogador jovem, migrar de um pequeno para um grande clube.

A negociação dos jogadores

Os investimentos parecem simples, mas a realidade é difícil. Na última janela de transferências, entre junho e setembro de 2023, os clubes brasileiros negociaram 455 atletas com o exterior, arrecadando cerca de € 170 milhões. Isso dá, em média, € 375 mil por atletas. Agora, se descontarmos as negociações de Matheus França e Ângelo, a média já vem abaixo de € 300 mil. São informações da FIFA, que estão no relatório de setembro de 2023.

A negociação dos jogadores

Segundo a coluna de Grafietti, primeiro encontra-se o atleta. Depois, a formação dele. Porém antes de perdê-lo para um clube maior, já se faz um acordo de transferência. Assim, se garante um pedaço dos direitos econômicos, apostando em uma negociação maior. Ou então faz-se o acordo com um clube maior, mas por valores menores

Como clubes menores negociam jogadores de futebol

Ser formador de pequeno porte é difícil e competitivo, os clubes grandes têm enorme força e destaque, e o retorno financeiro é de difícil mensuração. Além disso, em um relatório da FIFA, 10.125 atletas foram negociados, e apenas 1.985 tiveram algum tipo de compensação financeira. Ou seja, mais de 80% foram empréstimos ou transferências de atletas sem vínculo. Em 2021, o Brasil negociou internacionalmente 1.749 atletas, com média de € 250 mil por atleta.

Como clubes menores negociam jogadores de futebol

"Tudo isso não é para desencorajar. Mas serve para mostrar que a ideia de montar um modelo de negócios baseado em formação e negociação de jogadores de futebol parece promissor, mas tem inúmeros desafios. Desafios que valem para outros modelos de negócio. Levar um clube de uma divisão menor para uma divisão maior é um modelo de negócios.",  afirma.

Como clubes menores negociam jogadores de futebol

O colunista ainda diz que, em ambientes regulados com investimentos financeiros e aplicação de bons modelos de gestão, é possível obter resultados interessantes. Isso tem sido pensado para vários clubes de Série C no Brasil (ainda que o mercado não tenha qualquer regulação). E claro, há riscos.

Como clubes menores negociam jogadores de futebol

Mas, para ele é preciso ter a capacidade de reconhecer antecipadamente os riscos, planejar as soluções, pensar em alternativas e ter um leque de opções à mão,. E se o processo for feito da maneira correta, mais cedo ou um pouco mais tarde o resultado chega. "Como em qualquer projeto, ou então não haveria empresas e negócios novos surgindo a todo instante. "

O negócio do futebol

O futebol tem inúmeras oportunidades, com mais ou menos risco e retornos. "O importante é trabalhar com as premissas certas, traçar todos os cenários, e se cercar de gente capacitada. Como em qualquer negócio.", conclui Grafietti.

O negócio do futebol