O que pode acontecer com as ações das varejistas brasileiras?

Analistas avaliam o recuo da taxação das empresas asiáticas

Varejo de roupas. Foto: Pixabay
Varejo de roupas. Foto: Pixabay

A decisão do governo de recuar em relação à taxação de importação das varejistas asiáticas ainda repercute no mercado. Empresários do setor falam em uma onda de demissões e evasões fiscais bilionárias. Mas o que fazer em relação às ações do varejo: é hora de vender, comprar ou esperar?

Além disso, com a decisão da Shein de começar a produzir no Brasil, a concorrência com as varejistas nacionais vai seguir as mesmas regras? Analistas ouvidos pela Inteligência Financeira avaliam as repercussões para quem investe ou pensa em aplicar no setor. 

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Aliás, não é só a Shein que preocupa o empresariado nacional. Empresas como Shopee e AliExpress também têm grande relevância nas vendas locais. Em 2022, 55% compraram pela Shopee e 40% pela Aliexpress, segundo pesquisa da NIQ Ebit- Webshoppers.

O levantamento mostra também que 72% dos consumidores brasileiros fizeram compras em sites estrangeiros no ano passado. Há 5 anos, eram 48%.

O que muda para os investidores das ações do varejo nacional?

Para Pedro Azeredo, sócio da Matriz Capital, o cenário é muito preocupante para os investidores das varejistas brasileiras, em função da diferença dos gastos tributários e trabalhistas nos dois países.

“No longo prazo, há uma competição desleal com as varejistas brasileiras. Ou seja, em a devida regulamentação, não poderão competir com os baixíssimos preços dos produtos advindos da China”, diz.

Aliás, Marco Monteiro, analista CNPI da CM Capital diz que com o recuo na taxação das varejistas chinesas, e o aumento progressivo no market share nacional, perde-se a projeção de aumento nos consumos locais voltando para patamares já projetados anteriormente. 

“Com isso, analisando mais profundamente, ainda temos a questão da taxa de juros. Ainda está elevada fazendo com que as varejistas nacionais percam ainda mais a atratividade para os investidores”, afirma.

Também Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, diz que o cenário atual não é positivo para as ações do varejo nacional. “O cenário de juros altos, renda real sendo corroída pela inflação e altas taxas de inadimplência não é hora de ficar posicionado nestas ações”, diz.

Desde que a escalada dos juros começou, em meados de 2021, as empresas de varejo perderam quase 90% de seu valor de mercado. A expectativa é que uma nova onda de cortes de juros ocorra a partir do segundo semestre após sinais de recuo na inflação.

É hora de vender suas ações do varejo?

Apesar do cenário desafiador, o analista acredita que a queda dos juros está no horizonte, o que pode melhorar os resultados das varejistas nacionais. “Não acredito que seja a hora de vender, visto que no último ano, os principais papéis do mercado varejista, Magazine Luiza (MGLU3), Via Varejo (VIIA3) e Americanas (AMER3), já amargam perdas de 40,54%, 42,04% e 95,73% respectivamente”, afirma Pedro Azeredo.

Ele diz que o mais recomendado, para quem está posicionado, é aguardar. “Na renda variável, nunca sabemos antecipadamente a mínima histórica no preço de uma ação. Portanto, caso o investidor ainda esteja em posição nos papéis citados acima, saiba do ainda cenário desafiador para o varejo brasileiro. Mas que no longo prazo e com a eventual queda dos juros, resultados melhores são previstos”, afirma.

Marco Monteiro também diz que não vê a necessidade de quem tem ações do varejo se desfazer da posição, mas para quem não tem o papel, é melhor aguardar.  “Para os investidores que se encontram sem posições nos ativos, recomendo que analisem os ativos e esperem por pontos de entradas. Ou seja, pelo menos que os ativos deem indícios de reversão desta tendência de baixa, para a tomada de posição”, diz.

Vale a pena comprar ações do varejo neste momento?

Pedro Azeredo diz que ainda não é possível saber se os papéis das varejistas estão nas mínimas e a tomada de compra é para quem tem perfil mais arrojado.

”Para quem quer entrar no papel hoje, pagará em Magazine Luiza e Via varejo quase 50% a menos no valor do ativo e no caso de Americanas, 95% a menos, comparando a um ano atrás. Se esta é a mínima histórica dos ativos, não dá para saber, porém ao investir, espere bastante volatilidade nesses papéis”, afirma.

Segundo ele, com o recuo na taxação das varejistas chinesas, uma maior competição pelo market share no mercado brasileiro e uma ainda elevada taxa básica de juros no país, certamente o varejo brasileiro ainda possui desafios pela frente.

Já Fernando Ferrer diz que a melhor opção no momento de compra é Arezzo (ARZZ3). “É uma empresa bem diversificada, atua em uma classe mais alta e é mais resiliente. Ela faz o design dos produtos e pode alterar a matéria prima como controle de custos, quando necessário”, afirma.

Qual a situação das ações do Varejo?

Para Pedro, analisando o resultado do último trimestre de 2022, a Via Varejo (VIIA3) está em um pior cenário quando falamos das grandes varejistas brasileiras. “Empresa responsável por marcas como Casas Bahia e Ponto, antiga Ponto Frio, tiveram um prejuízo de 163 milhões no 4T22 e anunciou também a saída do Helisson Lemos, VP de inovação Digital da empresa”, afirma.

Marco Monteiro também não vê boa situação para a Lojas Marisa (AMAR3). “Uma ação que vem me chamando atenção negativamente, pela sua desvalorização, é as Lojas Marisa (AMAR3). Aliás, desde seu topo em meados de fevereiro de 2020, já acumula uma desvalorização nos seus preços de mais de 95% e vem repertoriando aumento dos prejuízos nos últimos anos”, diz.

Produção nacional da Shein impacta ações do varejo?

A decisão da Shein de realizar a maior parte de sua produção vendida no Brasil em território nacional mexeu com o mercado. As ações da Coteminas (CTNM4), da Companhia de Tecidos Santanense (CTSA3) e da Springs Global (SGPS3) dispararm cerca de 360%, 130% e 100% nos dois primeiros dias após o anúncio de um memorando de entendimentos com as empresas têxteis.

Pedro Azeredo diz que os investimentos no Brasil são uma nova opção ao consumidor e contribui para fomentar a concorrência, porém só é válida quando essas empresas partem de uma mesma largada. 

“Certamente é positivo a criação de novos empregos e a busca por investimento exterior ao Brasil, porém no caso da Shein em específico, só haverá de fato uma concorrência saudável, caso sejam aplicadas as mesmas regras fiscais para a gigante varejista chinesa”, diz.

Os desafios das varejistas brasileiras

Aliás, ele lembra os desafios que as varejistas brasileiras atualmente sofrem. “Hoje, a Shein parte à frente de concorrentes brasileiras pelo fato de não pagar uma série de impostos que as demais empresas brasileiras pagam como o IPI, o ICMS. Assim, conseguindo fazer a preços que as demais não conseguem pela elevada carga tributária. Continuando da forma como está hoje, não é uma competição honesta”, diz.

Diferenças entre os modelos de produção

Já Gustavo Lipschitz, operador de Renda Variável da InvestSmart, diz que os desafios não terminam por aí. “Vale lembrar que a tributação não era o único fator que tornava o produto da Shein mais barato do que o de players como a Renner (LREN3). Há uma diferença entre modelo de produção e posicionamento, por exemplo a ausência de lojas físicas que continuarão independente das novidades que a produção doméstica trará”, diz.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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