Por que voltar a subir a Selic pode ser um equívoco?

FOCO NOS JUROS

O Banco Central (BC) pode cometer um equívoco se subir a taxa Selic em setembro, segundo o JPMorgan. O ciclo de aumento de 1,5 ponto percentual é a principal aposta do mercado no momento, o que levaria os juros dos atuais 10,5% para 12% ao ano.

Isso em tese provocaria alguma convergência das expectativas de inflação em direção à meta. A previsão do BC para a inflação daqui a 18 meses, que orienta as suas decisões de juros, está em 3,2%, acima da meta de 3%.

Mas para o JPMorgan, essa estratégia seria um erro. Isso porque cortes das taxas pelo Federal Reserve (Fed, BC dos Estados Unidos) devem contribuir para valorização do real.

Se isso acontecer, o receio de inflação pressionada no Brasil devido ao efeitos da escalada do dólar devem diminuir. Além disso, diz o documento do banco americano, o custo de apertar a política monetária pode não compensar. E ainda não dar o resultado esperado.

“O risco é que (…) o aperto pode ser excessivo, prejudicando o crescimento do PIB mais do que o necessário”. Isso é o que diz trecho do documento da equipe liderada por Cassiana Fernandez.

Para o JPMorgan, em vez de subir a Selic, o Copom deve ter paciência. Primeiro porque o banco acredita que o Fed fará dois cortes de 0,5 ponto nas próximas duas reuniões.

Em tese, isso concorreria para uma valorização do real contra o dólar. “Isso provavelmente reduzirá as previsões de inflação do BC para a inflação dos próximos 18 meses e sugerirá que não há necessidade de aumentar as taxas no curto prazo”, diz trecho do relatório.

Além disso, acrescentou o banco, o crescimento do PIB também deve desacelerar, uma vez que a taxa de juros atual já é restritiva. Ademais, o efeito de gastos públicos sobre a inflação está moderando, considerou o JP.

"Esperamos que o BC espere até que esses três fatores – um Fed de corte de taxa, um impulso fiscal negativo e uma política rígida – comecem a afetar decisivamente a economia, a inflação e a taxa de câmbio. Em conjunto, esses fatores naturalmente vão levar a inflação a perder força, levando o BC a recomeçar o ciclo de cortes da taxa em algum momento de 2025."

Então, subir a Selic agora pode até reforçar o compromisso do novo colegiado do Copom de combate à inflação. Mas a relação custo-benefício não compensa. “Nossa aposta é de que o BC manterá (a taxa de juros), e depois fará cortes em direção a 9,5% até o final do ano que vem”, conclui o JPMorgan.