MERCADO FINANCEIRO
John Maynard Keynes, um dos economistas mais importantes do século XX, propunha uma metáfora para compreendermos o mercado de ações: você seria um jurado em um concurso de beleza e deve votar na pessoa mais bonita. Caso acerte a pessoa vencedora você receberá uma remuneração mais alta do que se não acertar.
Para acertar e levar a remuneração superior então, na verdade, você não deve votar na pessoa que considera a mais bonita, mas sim naquela que você acredita que a maioria dos jurados irá considerar a mais bonita. Contudo, todos os jurados irão pensar exatamente desta forma e ficarão uns tentando adivinhar as opiniões dos outros.
Para Lorde Keynes, o mercado de ações funcionava como na metáfora. As ações que subiam não eram necessariamente as melhores, mas aquelas que as pessoas achavam que os outros investidores diriam ser as melhores. George Soros aprimorou a observação de Lorde Keynes.
Após um relativo sucesso inicial na carreira financeira, George Soros decidiu criar o Quantum Fund em 1973, um dos primeiros Hedge Funds do mundo, os quais adotam estratégias mais sofisticadas, e muitas vezes arriscadas, com o objetivo de obter altas rentabilidades.
Essa decisão o transformaria em uma celebridade do mundo de investimentos, quando em 1992 fez uma “singela” aposta de US$ 10 bilhões contra a libra esterlina e ganhou US$ 1 bilhão apenas com esta aposta. Ficou então conhecido como “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”.
De acordo com o The Wall Street Journal, Soros conseguiu o incrível retorno médio de 32% ao ano de 1969 a 2000. Warren Buffett obteve “apenas” 21% ao ano de 1965 a 2018 e que a média do S&P500 foi da ordem de 10% ao ano neste período.
É muito difícil explicar o sucesso dos gênios. No entanto, Soros mesmo coloca como uma de suas vantagens competitivas em relação aos concorrentes uma visão de mundo diferenciada, proporcionada pela sua teoria da reflexividade.
Ele diz que é difícil, em certo sentido, explicar a sua estrutura conceitual. Essa estrutura trata da relação entre pensamento e realidade, mas o pensamento dos participantes faz parte da a realidade que eles têm que pensar, o que torna a relação circular. Círculos não tem começo nem fim, o que complica a explicação.
Funciona muitas vezes como uma profecia autorrealizável – aquilo que o mercado acredita acaba acontecendo justamente porque o mercado acredita. Esse é o caso que geralmente ocorre em corridas bancárias, por exemplo.
O mercado acredita que determinado banco está em situação de risco e pode falir. Então, os seus investidores sacam ao mesmo tempo os recursos das contas bancárias, o que deixa a instituição sem recursos e efetivamente precisa pedir falência. Uma profecia que se autorrealizou.
A teoria da reflexividade de Soros acredita que esse tipo de fenômeno ocorre com alguma frequência no mercado financeiro, mas não sempre. Em alguns momentos o mercado fica próximo ao comportamento previsto pela teoria econômica clássica, situações próximas do equilíbrio.
Em outros momentos, a situação se torna reflexiva, levando o mercado para longe do equilíbrio. Para essa teoria, as bolhas e crises de mercado são causados por um processo reflexivo que saiu do controle. O método de Soros consiste em tentar identificar esses processos e ganhar dinheiro com isso.
Não é necessário ser um investidor arrojado para utilizar a essência do pensamento de Soros. As mesmas ideias valem para os arrojados e conservadores. A grande lição é que os mercados, algumas vezes, deixam de seguir estritamente os fundamentos micro e macroeconômicos, entrando em uma espiral reflexiva.
Ao desconfiar que esta situação está ocorrendo, é uma boa ideia que os investidores conservadores aumentem suas proteções e os que investidores arrojados aumentem sua procura por bons investimentos com risco controlável. Este é um momento de maiores riscos, mas também de maiores oportunidades.