O cenário de juros altos que o país vem vivenciando nos últimos dois anos é um ambiente desafiador para investimentos de risco e para a economia real.
INVESTIMENTOS
Com o custo de dívida mais elevado, as empresas seguram os investimentos, cortam custos e sentem a despesa financeira impactar seus lucros. E, então, sem investimentos, a economia desacelera.
No entanto, a proximidade do início do ciclo de cortes de juros começa a alterar as expectativas dos agentes econômicos. A lógica é simples: se o pior já passou, as coisas só podem melhorar.
A política monetária menos restritiva contribui para a atividade econômica. Afinal de contas, isso melhora as condições de crédito, o que melhora o consumo, incentiva as empresas a investirem, melhora o emprego, a renda e temos crescimento econômico.
Na reunião de agosto, o Copom deu início ao ciclo de cortes de juros, e reduziu a taxa Selic em 0,5%, indo de 13,75% para 13,25%.
Era o que o mercado queria ouvir. Sinal verde para aumentar o risco das carteiras de investimento e para o crescimento econômico do país. Só que o que vimos desde então foi uma performance ruim de ativos de risco. O índice Ibovespa caiu e as curvas de juros abriram.
Quando se cria uma expectativa sobre um evento, os investidores começam a se posicionar para esse evento. Quanto mais convictos e mais seguros os investidores estiverem, mais provável que todos se posicionem da mesma forma.
No caso do Ibovespa, vimos uma grande mudança de posicionamento da indústria de fundos multimercados desde o início do ano. Antes da reunião do Copom, praticamente toda a indústria estava comprada em bolsa brasileira. O corte da Selic não surpreendeu ninguém, já era esperado.
O grande vilão para os ativos de risco brasileiros neste mês foi o ambiente externo.
Um dos gatilhos para a bolsa brasileira é a perspectiva de crescimento de lucros das empresas. O ciclo de cortes de juros que se inicia é bastante animador neste sentido, mas precisamos ver alguma confirmação dessa expectativa.
Outro gatilho é do lado técnico: posicionamento e fluxo. O investidor local tem bastante espaço para comprar ações, mas com o CDI ainda rendendo mais de 1% ao mês, ainda precisamos ver o capital alocado em fundos de renda fixa migrar para fundos de ações.
Em relação ao investidor estrangeiro, esperava-se um fluxo maior a partir do início do ciclo de cortes de juros locais. Mas a má notícia é que talvez esse fluxo demore para se interessar por ativos brasileiros.