ECONOMIA
Plano Real foi dividido em três fases principais e contou com muitos fracassos e sucessos; confira
O Plano Real foi um conjunto de medidas adotadas a partir de 1993 para estabilizar a economia
Foram três grandes fases. Primeiro, adotou-se um ajuste fiscal, com corte de gastos públicos, desvinculação de receitas e negociação das dívidas dos estados.
Em março de 1994 entra em vigor a Unidade Real de Valor (URV), um modelo engenhoso através do qual se pretendia controlar a chamada inflação inercial. A especialista Carla Beni, professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que inflação inercial é aquela que se dá pela própria dinâmica da correção dos preços segundo os índices passados.
“A ideia da URV era zerar a memória inflacionária. Se adaptou toda a economia para calcular a URV, que era o equivalente a um dólar. O objetivo era ter um modelo em que fosse controlada a inflação inercial antes da adoção da nova moeda”, explica, em entrevista à Inteligência Financeira. Desta forma, diariamente o Banco Central calculava o valor da URV, que começou em CR$ 647,50 e chegou a valer o equivalente a CR$ 2.750 no seu último dia de vida em 30 de junho.
Por fim, tivemos a adoção do real em si a partir de 1º de julho de 1994. Aqui, além de distribuir e adotar a nova moeda, o governo implementou também a âncora cambial, estabelecendo um teto para a taxa de câmbio a fim de evitar que os preços voltassem a subir.
“O Plano Real foi resultado de um longo e doloroso aprendizado”, resume o cientista político Sérgio Fausto em entrevista à Inteligência Financeira. Diretor-geral da Fundação FHC, ele atribui o sucesso do real a uma série de fatores, com destaque para a presença de economistas e lideranças que carregavam uma bagagem, tinham boas relações com o mercado internacional e souberam aproveitar um cenário político ineditamente favorável.
Para o jornalista e ex-ministro Thomas Traumann, de fato é impossível entender o Plano Real sem considerá-lo “resultado de uma série de fracassos”. “O Plano Cruzado era para ter um congelamento de preços de só três meses. No primeiro momento, teve um sucesso muito grande, mas durou pouco. Por isso, a equipe do Plano Real olha e diz: não vai ter congelamento de preços. São pessoas que apanharam muito, receberam muitas críticas, mas olharam para os erros anteriores e decidiram fazer diferente”, argumenta, em conversa com a Inteligência Financeira.
Os especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em considerar que há uma conjunção única de fatores que contribuíram para o sucesso do Plano Real. Desde a atuação dos políticos e economistas envolvidos e os esforços de comunicação do governo até fatores que estavam fora do controle na largada, como o resultado das eleições presidenciais de 1994.