FUTEBOL
Na última semana, o Flamengo divulgou as demonstrações financeiras – e de dívidas. O resultado: Receita elevada, boas margens e endividamento controlado. Veja detalhes da análise de César Grafietti, economista e colunista aqui da Inteligência Financeira.
O Flamengo passou da fase de pagar contas do passado e está olhando para o presente e o futuro. O objetivo aqui, porém, não é analisar os números do clube, mas sim a evolução das dívidas.
É muito comum ouvirmos aqui e ali que o Flamengo pagou mais de R$ 1 bilhão em dívidas desde 2013. Usam cálculos incomuns e malabarismos para mostrar um esforço hercúleo e uma saúde financeira que está mais para click bait que realidade. Não foi tudo isso, mas foi enorme o tamanho do esforço feito.
Meu critério usa como referência de dívidas os passivos que precisam ser pagos em dinheiro e que interferem o caixa do clube. Nesse sentido, excluo dos cálculos as Antecipações que representam apenas o registro de luvas e as Provisões para Contingências, que são registro de potenciais problemas. No caso das antecipações, há dois tipos: a que citei acima, e as antecipações efetivas de direitos de TV, contratos publicitários.
Aqui temos a primeira surpresa: a dívida não caiu quando comparamos 2013 a 2023. Mas ela sofre uma redução relevante até 2017, quando volta a subir. Estamos falando de dívida bruta, sem redução pelo valor que o clube carrega em caixa.
De fato, o grande segredo do Flamengo está em manter uma posição de caixa elevada, acima dos R$ 200 milhões. Isso lhe permite um enorme respiro do ponto-de-vista de gestão do fluxo de caixa. Então, se a dívida bruta entre 2013 e 2023 aumentou 7%, a dívida líquida caiu 30% no período, puxada pela forte posição de caixa.
Lá em 2013, 62% das dívidas do Flamengo eram com impostos e acordos trabalhistas diversos. Ou seja, dívida formada no passado que consumia caixa e esforço de pagamento no presente, sem qualquer tipo de benefício de longo prazo.
O resumo dessa conversa toda é simples: o Flamengo pagou R$ 600 milhões em dívidas caras, mas manteve o total de dívida bruta inalterado no período. Entretanto, o perfil é saudável: trocou dívidas do passado por dívidas que representam o presente e o futuro, além de serem mais baratas.
O segredo está no crescimento das receitas, a ponto de clube conseguir formar um colchão de caixa que lhe dá o conforto suficiente para gerias as oscilações estruturais de fluxo de caixa. E a dívida atual é totalmente compatível com a capacidade de pagamento, o que não acontecia lá em 2013.