Semana política: PEC “vale-tudo” une governo e oposição por votos

Enquanto isso, em campanha, Lula acena a empresários e ao mercado, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Faltando 3 meses para o primeiro turno das eleições, o governo e o Congresso se uniram para aprovar um grande pacote de medidas de alcance social que desorganiza ainda mais as contas públicas e dribla algumas regras básicas da Justiça Eleitoral.

Apesar das críticas de especialistas e até de ministros do Supremo, a classe política se entende MUITO BEM nessas horas em que o objetivo é buscar votos, melhorar a popularidade.

E é esse o foco da PEC que virou uma espécie de vale-tudo, incluindo aumento do auxílio brasil, vouchers para setores específicos da economia e até subsídios para o transporte.

Uma mudança constitucional votada a toque de caixa no Senado e ao que tudo indica também na Câmara, com praticamente nenhuma oposição.

É uma boa notícia para Bolsonaro, que vai tentar capitalizar ao máximo essas bondades para tentar melhorar sua posição nas pesquisas. Resta saber a efetividade dessas iniciativas na melhora da imagem do presidente, que está abalada com a escalada da inflação e os escândalos recentes que afetam seu governo, como o do MEC e da Caixa Econômica Federal.

Enquanto isso, Lula, que lidera as pesquisas, resolveu antecipar alguns acenos para o empresariado e o mercado, de olho numa possibilidade de voto útil para tentar resolver a disputa no primeiro turno, o que ainda parece improvável.

O ex-presidente, que estava refratário a antecipar o seu plano econômico e vinha evitando se expor para essas plateias, passou a organizar encontros com empresários, industriais e representantes do sistema financeiro. Basicamente, o petista procura dizer que não haverá sustos e solavancos num eventual terceiro mandato. Se, por um lado, essas reuniões ajudam a distensionar o ambiente nesses segmentos importantes do PIB nacional, ainda resiste a interrogação quanto a nomes de uma futura equipe econômica e detalhamento do programa para os novos marcos fiscais, para a política monetária e também como será a relação com o novo Congresso.

São respostas que Lula só dará objetivamente durante a campanha se estiver realmente pressionado e com dificuldades para formar maioria.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)