Análise: Sachsida abre cartilha liberal, silencia sobre combustíveis e tenta mudar a pauta

Novo ministro defendeu aprovação do novo marco do setor elétrico e mudança do regime de partilha nas licitações do pré-sal

Em seu primeiro discurso, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, silenciou sobre o problema dos combustíveis, tão caro para seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, e abriu sua cartilha liberal para dar ênfase à agenda de melhoria regulatória, privatizações e à necessidade de o país aproveitar o processo de revisão das cadeias globais de produção com medidas “estruturais”, que atraiam capitais privados.

A uma semana da votação do processo da Eletrobras pelo Tribunal de Contas da União (TCU), disse que a venda, criticada pelas candidaturas oposicionistas ao Planalto, é fundamental para essa atração de capital internacional. E anunciou como primeiros atos como ministro pedidos para incluir no programa de privatizações a PPSA, estatal que recebe os barris do modelo de partilha de produção, e para que sejam feitos estudos para uma possível venda da Petrobras ao setor privado.

O gesto é meramente político. É virtualmente impossível vender a PPSA neste ano e, a empresa em si, nada vale, o que tem valor são os barris que são da União e na qual a estatal é meramente uma instância de passagem.

Propor a discussão de que medidas legislativas seriam necessárias para venda da Petrobras, por sua vez, só serve agora para marcar diferença com a oposição, que defende uma empresa que atue para conter os preços dos combustíveis. Em meio à crescente pressão de Bolsonaro para intervir na empresa, é uma clara tentativa de mudar de assunto.

O novo ministro defendeu a aprovação do novo marco do setor elétrico e a mudança do regime de partilha nas licitações do pré-sal. E fez a propaganda usual das medidas do crédito. No discurso, foi o Sachsida de sempre. A ver como será na prática diária de ministro, na pasta que hoje carrega os maiores desafios para o governo atual e cujos temas são pedras no caminho da tentativa de reeleição de Bolsonaro.

(Por Fabio Graner, analista de economia do JOTA em Brasília)