Possível calote de títulos da Rússia coloca holofotes sobre o Citigroup

Banco recebe e processa pagamentos nas contas dos detentores de títulos em dólares emitidos pela Rússia

A confusão sobre se os detentores de títulos estrangeiros da Rússia receberão os pagamentos devidos na quarta-feira (16) colocou os holofotes no banco no centro de tudo isso: o Citigroup. O banco atua como agente pagador, encarregado de receber e processar pagamentos nas contas dos detentores de títulos para os dois títulos denominados em dólares emitidos pela Rússia.

O Ministério das Finanças da Rússia disse nesta quinta-feira que havia repassado fundos para o serviço desses títulos para a filial do Citi em Londres. Os detentores de títulos deviam US$ 117 milhões até quarta-feira.

Os investidores que detêm os títulos disseram que não receberam o pagamento. Um disse que não havia notícias do Citigroup na quarta-feira sobre se o banco havia recebido os fundos da Rússia e se eles seriam repassados ​​aos credores.

Uma porta-voz do Citigroup se recusou a comentar.

Tem havido pouca clareza sobre quando e se os investidores podem esperar o pagamento. O ministro das Finanças da Rússia disse que não tinha certeza se os pagamentos seriam realizados, culpando as sanções dos EUA por colocar o país no caminho do calote.

O Departamento do Tesouro disse que as atuais sanções dos EUA não proíbem a Rússia de fazer pagamentos de dívidas.

Independentemente de quem seja o responsável pelo atraso, a falta de pagamento iniciará o relógio do calote. Os títulos têm um período de carência de 30 dias, ou seja, se os credores ainda não tiverem recebido os fundos até meados de abril, eles podem declarar um default oficial.

Os preços dos títulos subiram na quinta-feira na esperança de que os pagamentos sejam realizados. Os títulos da Rússia com vencimento em 2023 foram negociados a cerca de 41 centavos de dólar na quinta-feira, em comparação com 26 centavos na quarta-feira, segundo a AdvantageData. Aqueles com vencimento em 2043 foram comprados e vendidos por cerca de 32 centavos na quinta-feira, ante cerca de 22 centavos na quarta-feira. Eles negociavam acima de US$ 1 antes da guerra.

A última vez que a Rússia renegou suas dívidas externas foi após a Revolução Bolchevique em 1918. A Rússia deu calote em sua dívida interna em 1998, enquanto a economia pós-soviética lutava para se equilibrar.

O Citigroup é um dos maiores bancos dos EUA no exterior e fica no meio de uma importante infraestrutura financeira, liquidando transações e ajudando investidores e empresas a movimentar dinheiro além-fronteiras.

O papel do banco na coleta de dinheiro para os detentores de títulos da Rússia destaca as relações complexas que se construíram ao longo dos anos entre os bancos ocidentais e a Rússia. Muitos bancos se apressaram após o fim do comunismo, mas reduziram sua presença após o default de títulos de 1998 e a anexação russa da Crimeia em 2014.

As sanções dos EUA que entraram em vigor em 2019 impediram os bancos americanos de ajudar a Rússia a levantar dinheiro nos mercados de dívida, mas afetaram apenas novas emissões. Os títulos russos em dólar no centro dos pagamentos perdidos foram vendidos em 2013.

Em teoria, a Rússia tem muito dinheiro. A caminho da guerra com a Ucrânia, acumulou mais de US$ 630 bilhões em reservas em moeda estrangeira, que em tempos normais pode usar para pagar suas dívidas. Mas as punitivas sanções dos EUA ao banco central e ao Ministério das Finanças da Rússia colocaram em questão o que Moscou tem permissão para fazer com as reservas.

Nos caso de dois títulos, o pagamento só pode ser feito em dólares. Um pagamento alternativo em rublos, que o governo russo levantou como uma opção se um pagamento em dólar não puder ser dado, violaria os termos de emissão, também estabelecendo motivos para um default.

O Citigroup tem uma presença maior na Rússia do que outros bancos dos EUA, com cerca de US$ 10 bilhões em exposição total e 3 mil pessoas. Seu diretor financeiro disse que poderia perder quase metade dessa exposição no pior cenário.

O Citigroup disse no início desta semana que sairá de outros negócios além do banco de varejo que já planejava se desfazer e não adicionaria novos negócios na Rússia.

(Do Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico)