Putin desiste de acordo com Ucrânia e planeja avançar na tomada de território

Ucranianos sempre duvidaram do compromisso de Putin com as negociações de paz, suspeitando que com isso ele pretendia ganhar tempo para uma ofensiva

Vladimir Putin perdeu o interesse nos esforços diplomáticos para acabar com a guerra na Ucrânia. Em vez disso, ele parece determinado a tomar o máximo de território ucraniano possível, segundo afirmam três fontes a par de conversas com o presidente russo.

Putin, que vinha considerando seriamente um acordo de paz com a Ucrânia depois que a Rússia sofrer reveses no campo de batalha no mês passado, disse às pessoas envolvidas nas tentativas de por um fim no conflito, que não vê perspectivas de um acordo.

“Putin acredita de fato nas bobagens que ouve da televisão russa e quer uma grande vitória”, disse uma fonte a par das discussões.

Embora Moscou e Kiev tenham chegado a um acordo quanto ao primeiro esboço de comunicado de uma reunião que tiveram em Istambul no fim de março, as discussões empacaram depois que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusou a Rússia de cometer crimes de guerra contra civis nas cidades de Bucha e Mariupol.

Putin disse que os esforços de paz estão num “beco sem saída” e ficou furioso depois que a Ucrânia afundou o Moskva, nau capitânia da frota russa no Mar Negro, segundo disseram duas das fontes. “Havia esperança de um acordo. Putin estava indo e voltando. Ele precisa encontrar uma maneira de sair disso como vencedor”, afirmou uma das fontes.

Depois que o Moskva afundou, “Putin passou a recusar qualquer coisa em que ele não pareça o vencedor, porque isso seria humilhante”, acrescentou a fonte.

Autoridades ucranianas e ocidentais sempre duvidaram do compromisso de Putin com as negociações de paz, suspeitando que com isso ele pretendia ganhar tempo para uma ofensiva.

Fontes informadas sobre as conversas com o presidente russo disseram que ele parece ter uma visão distorcida da guerra, conforme demonstrado por seus generais à televisão russa.

Elas acrescentaram que ele insiste, apesar de todas as evidências em contrário, que suas forças não atacaram civis durante o cerco à siderúrgica Azovstal, último reduto das forças ucranianas na cidade de Mariupol, que foi em grande parte destruída.

Intermediários como o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o bilionário Roman Abramovich, presidente do clube de futebol Chelsea FC, vêm tentando convencer Putin a se encontrar com Zelensky, na esperança de acabar com o impasse.

Negociadores russos e ucranianos colocaram a maioria das outras questões em segundo plano enquanto tentam chegar a um acordo sobre garantias à segurança de Kiev se o governo ucraniano declarar neutralidade e abandonar sua tentativa de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Mas Putin disse a Michel em uma telefonema na sexta-feira, que as negociações empacaram porque a Ucrânia “ergueu um muro” e disse que “não é o momento certo” para se encontrar com Zelensky, segundo afirmou uma fonte a par da conversa.

Os negociadores interpretaram isso como um sinal de que a Rússia acredita que pode capturar mais território, em vez de ser uma indicação de que as conversas precisam de mais tempo para encontrar pontos de acordo.

Putin está evitando se encontrar com Zelensky “com todas as suas forças”, disse uma fonte envolvida nas discussões de paz. “Ele quer que tudo seja decidido antes da reunião pessoal dos dois.” Zelensky disse no sábado que deseja a continuidade das negociações, mas afirmou que a Ucrânia não continuará negociando se pessoas forem mortas em Mariupol, ou se as autoridades russas na região ocupada de Kherson, no sul do país, realizarem um referendo separatista.

Em Kiev, autoridades temem que Putin possa ir além do objetivo declarado da Rússia de capturar a região da fronteira oriental de Donbas e, em vez disso, tentar tomar todo o sudeste, isolando a Ucrânia do Mar Negro.

A Ucrânia confia que poderá empurrar as tropas russas para trás, depois de derrotar o plano inicial de Putin de tomar rapidamente o país, mas autoridades temem cada vez mais que Moscou possa recorrer a armas táticas nucleares se sofrer grandes reveses, disseram duas fontes.

Em um encontro com Michel em Kiev na semana passada, Zelensky disse que a opinião pública ucraniana não apoia a continuação das negociações de paz, acrescentando estar consciente de que lutar contra Putin lhe dá mais popularidade do que fazer concessões, segundo disse uma fonte a par da conversa.

Erdogan falou com Zelensky neste domingo, num esforço para retomar as negociações emperradas. O líder turco disse que Ancara está pronta para ajudar, segundo afirma um comunicado. Erdogan disse na sexta-feira que também espera conversar com Putin nos próximos dias.

Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, e um representante de Abramovich não responderam imediatamente a pedidos para comentários.