Ministro ataca banqueiros após divulgação de manifesto pela democracia

Ciro Nogueira sugere que documento é uma reação ao Pix

Integrante da coordenação da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), atacou nesta terça-feira (26) banqueiros que assinaram um manifesto em defesa da democracia.

No mesmo dia em que a Faculdade de Direito da USP divulgou um manifesto contra os recorrentes ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e às instituições do país, Ciro publicou seis mensagens no Twitter com críticas aos banqueiros.

Entre os signatários do manifesto, estão nomes como Roberto Setubal, Pedro Moreira Salles e Candido Bracher, do Itaú Unibanco.

“Presidente Jair Bolsonaro, sabe porque [sic] os banqueiros hoje podem assinar cartas inclusive contra o presidente da República, ao invés de se calarem com medo nos congelamentos de câmbio do passado? Porque hoje, graças ao desprendimento do poder do senhor e à visão de país do ministro Paulo Guedes, o Brasil passou a ter um Banco Central independente. Antes, o Banco Central podia ser o chicote ou o bombom dos governos para os banqueiros”, afirmou Ciro, pela rede social.

Na sequência, o ministro continua com as críticas. “Agora, graças ao senhor, o Banco Central não obedece ao presidente. É independente. E agora os banqueiros podem até assinar manifestos contra o presidente pois sabem que não serão perseguidos. Eles podem assinar manifestos contra porque estão livres da perseguição, sim, mas o Banco Central independente coloca em prática o Pix, que por ano transferiu mais de 30, 40 bilhões de reais de tarifas que os bancos ganhavam a cada transferência bancária e hoje é de graça”, publicou Ciro.

Diferente da fala do ministro, o BC iniciou o processo de criação da plataforma em 2018, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), quando o economista Ilan Goldfajn chefiava a autoridade monetária.

“Então, presidente, se o senhor faz alguém perder 40 bilhões por ano para beneficiar os brasileiros, não surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor. Mas os beneficiários, presidente, as dezenas de milhões de beneficiários do Pix vão assinar o manifesto deles também, no dia da eleição, apoiando o seu nome”, escreveu.

Entenda o ‘Manifesto da USP’

O manifesto organizado pela Faculdade de Direito da USP conta com a assinatura de mais de 3 mil juristas, banqueiros, empresários, artistas e intelectuais, e defende o respeito ao resultado das urnas.

Sem citar diretamente Bolsonaro, o texto alerta sobre os riscos às instituições, a pouco mais de dois meses das eleições, e diz que o país está passando por um “momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições”.

“Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”, diz o manifesto.

“Clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.”

O texto deve ser lançado oficialmente no dia 11 de agosto, em um ato em defesa da democracia na Faculdade de Direito da USP, na capital paulista. O documento é inspirado na “Carta aos Brasileiros”, lida pelo professor Goffredo da Silva Telles Junior, em agosto de 1977, para denunciar a falta de legitimidade da ditadura militar no país.

Entre os signatários estão também Jose Olympio Pereira, Horácio Lafer Piva e Walter Schalka, Pedro Malan, Armínio Fraga e Celso Lafer. Entre os juristas há ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como Carlos Ayres Britto, Sepúlveda Pertence e Celso de Mello.