Estudo estima que China pode ter 1,6 milhão de mortes se abandonar política de ‘covid zero’

País tem implementado lockdowns para conter 'tsunami' de casos da doença

A China pode enfrentar um “tsunami” de casos e registrar 1,6 milhão de mortes se abandonar a rígida política de “covid zero” adotada pelo governo, de acordo com um novo estudo divulgado nesta terça-feira.

Pesquisadores da Universidade Fudan, de Xangai, estimaram que uma disseminação não controlada da variante ômicron poderia resultar em 112 milhões de casos sintomáticos da doença, o que faria com que 2,7 milhões de pessoas precisassem de atendimento em unidades de terapia intensiva (UTI), sobrecarregando o sistema de saúde do país.

Os cientistas da Universidade de Fudan fizeram os cálculos com base em modelos estatísticos. O estudo, divulgado pelo jornal britânico “Financial Times”, ressalta os temores das autoridades de Pequim caso a China fosse atingida por um grande surto de covid-19.

A ômicron começou a se espalhar com rapidez pela China em março. Desde então, autoridades de várias cidades, como Xangai e Pequim, renovaram a aposta na política de “covid zero” para conter o surto.

Lockdowns parciais ou totais foram decretados em várias partes do país, com a realização de programas de testagem em massa para detectar contágios. Pessoas infectadas pelo vírus e seus contatos próximos estão sendo levadas a centros de quarentena do governo.

Com a insatisfação popular com as restrições, especialmente em Xangai, onde houve dificuldades para comprar alimentos e outros produtos básicos durante o lockdown, as autoridades chinesas e a mídia estatal têm ressaltado o risco de que o país tenha um grande número de mortes se as medidas de controle forem flexibilizadas.

O estudo sugere que a China poderia sofrer um grande surto de contágios causado pela ômicron devido às baixas taxas de vacinação entre os idosos. Segundo dados oficiais, apenas 61,5% das pessoas com mais de 60 anos no país já receberam a terceira dose da vacina.

Outro fator que poderia facilitar a propagação da ômicron é o fato de a China utilizar apenas as vacinas desenvolvidas por farmacêuticas locais, como a Sinovac e a Sinopharm, que são menos eficazes na prevenção de contágios do que os imunizantes ocidentais.

Apesar do alerta feito pelo estudo, considerando a natureza altamente transmissível da ômicron, os pesquisadores da Universidade Fudan ressaltaram que é preciso avaliar até quando a política de “covid zero” pode permanecer em vigor na China.

Ben Cowling, professor de epidemiologia da Universidade de Hong Kong, que não participou do estudo, disse em entrevista ao “FT” que as estimativas não devem ser lidas como uma “recomendação” para manter a rígida política de combate à disseminação do vírus.