Doria desiste de ser candidato a presidente

'Entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB', disse ex-governador paulista, em anúncio feito nesta segunda-feira

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou nesta seguda feira desistência de sua pré-candidatura à Presidência da República neste ano. Em pronunciamento lido para a imprensa numa casa preparada para ser seu comitê de campanha, disse que aceita a realidade de não ser o nome preferido da cúpula de seu partido.

“Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”, disse. “Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção.”

Presidente do PSDB, Bruno Araújo diz que, com gesto de Doria, ideia de candidatura própria do partido é ‘assunto vencido’, mas não se compromete com candidatura de Simone Tebet (MDB) para representar a terceira via.

Doria afirmou que sai “com o sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros”.

“Saio como entrei na política: repleto de ideais, com a alma cheia de esperança e o coração pulsante, confiante na força do povo brasileiro que têm fé na vida e em Deus”, prosseguiu.

O ex-governador anunciou sua desistência dizendo que, “serenamente”, compreende e aceita a realidade que não é a escolha da cúpula do PSDB. “Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal”, disse.

Antes de anunciar a desistência, Doria falou da história de seu pai, fez uma retrospectiva de sua vida empresarial e política e mencionou suas vitórias nas prévias tucanas que disputou ao longo da carreira política. Falou também de seus feitos na prefeitura e no governo do Estado, cargo que renunciou para tentar disputar a Presidência.

O ex-governador não mencionou o nome da senadora Simone Tebet, pré-candidata a presidente que tenta se firmar numa possível aliança com o PSDB e o Cidadania. Durante o pronunciamento, afirmou que “o PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano”.

Após o anúncio, ele fez referências elogiosas ao governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que assumiu após a renúncia e que disputará a reeleição.

“Assim como, na saída da prefeitura, quando deixei o comando da cidade nas mãos do saudoso Bruno Covas, desta vez também, deixei o governo de São Paulo em boas mãos. Rodrigo Garcia está levando em frente um trabalho que começou com uma equipe de craques, e que certamente lhe renderá a vitória nas eleições deste ano. Rodrigo será, com muita justiça, reeleito governador de São Paulo”, afirmou.

Doria estava cercado da mulher, Bia Doria, do presidente do PSDB, Bruno Araújo, e de diversos apoiadores. Ao final do pronunciamento, alguns que o cercavam no palco começaram a chorar. Após o encerramento de sua fala, foi aplaudido pelos presentes.

Reação de Simone Tebet

Após a desistência, Tebet afirmou por meio de nota que o tucano nunca foi um adversário dela e que espera que ele contribua com o plano de governo. “Doria nunca foi adversário. Sempre foi aliado. Sua contribuição com a luta pela vacina jamais será esquecida”, disse, em nota enviada à imprensa.

A emedebista, que agora é a pré-candidata do grupo formado por MDB, PSDB e Cidadania, declarou que espera o apoio desses partidos à sua pré-candidatura. As direções nacionais das três siglas devem se reunir em Brasília na terça-feira para decidir se a apoiam. “Vamos trabalhar para unir todo o centro democrático. Gostaria muito de ter o PSDB e o Cidadania junto conosco”, afirmou.

Ainda na nota, Simone disse que o Brasil “é maior do que qualquer projeto individual” e que trabalhará para unir o país, com uma “reconstrução moral, institucional e política”. “O povo tem pressa e precisamos semear esperança”, afirmou.

Alianças regionais

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse que Doria mostrou ter compromisso com o Brasil. Segundo ele, após a saída de Doria, o caminho está livre para negociar alianças regionais que estavam travadas. Já na corrida ao Palácio do Planalto, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) ganhar força para ser a cabeça de chapa do bloco formado por PSDB, MDB e Cidadania.

“É preciso discutir as candidaturas regionais para reforçar o projeto nacional e o programa de governo. Sozinhos não iremos a lugar nenhum. Que esse nome, sendo o de Simone (para concorrer ao Planalto), represente projetos pelo país e fortalecimento de palanques importantes, como o Rio Grande do Sul, onde o MDB pode ser parceiro do PSDB”, disse Araújo.

Araújo afirmou ainda que Doria é um “artífice” desse projeto com MDB e Cidadania.