Cinco pontos para o investidor ter no radar e encarar a volatilidade eleitoral

Do candidato preferido do mercado ao plano econômico e se o futuro presidente terá boas relações com o Congresso

O Brasil vai entrar 2022 com a economia andando de lado, a inflação ainda em um patamar elevado e a taxa Selic caminhando para os dois dígitos. Há também perspectivas externas nada favoráveis, como os temores contínuos de novas variantes do coronavírus, os sinais de que o PIB da China vai desacelerar e o iminente aumento dos juros nos Estados Unidos, que tende a pressionar o câmbio e derrubar as bolsas em países emergentes – como o nosso.

Todos esses fatores já tornam o próximo ano desafiador. Só que o investidor brasileiro vai ter que lidar com um outro componente capaz de injetar mais incertezas e trazer uma dose extra de volatidade aos mercados: a eleição presidencial.

A Inteligência Financeira conversou com dois especialistas para saber como se preparar para os próximos 12 meses que prometem fortes turbulências. “É um momento mais de cautela, de manter posições conservadoras”, considera Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research. “Não é um ano de aventuras”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. À IF, Marilia e Sergio destacam os principais eventos e situações que os investidores precisam ficar atentos e que podem ajudar na tomada de decisões.

1. A divulgação de pesquisas eleitorais

O mercado sempre tem um candidato preferido e fica olhando a evolução dos números na corrida presidencial, aponta Marilia Fontes. “Se sai uma pesquisa mais favorável, melhora o humor. Se sai um número pior, aí a tendência é de queda na Bolsa de Valores”, diz. A sócia-fundadora da Nord Research detalha que o mercado tradicionalmente prefere postulantes com “uma agenda liberal, reformista e que defenda a responsabilidade fiscal”. Por outro lado, há uma rejeição mais forte de candidatos com perfis “estatizantes, intervencionistas e gastadores”.

2. A equipe e as posições dos candidatos

Para ter uma noção mais clara do que que os presidenciáveis, se eleitos, pretendem fazer, Sérgio Vale recomenda prestar atenção nos assessores, consultores e conselheiros deles. “É uma forma de ter uma leitura mais correta, principalmente para entender qual é a proposta econômica”, observa. O economista-chefe da MB Associados cita como exemplo falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já adiantou a intenção de mexer na política preços da Petrobras. “Essa é uma decisão, em caso de vitória do Lula, que certamente vai afetar negativamente as ações da empresa”, comenta.

3. Relatórios das instituições financeiras

As pesquisas eleitorais dão um aperitivo do humor do mercado financeiro em um determinado momento, mas são os relatórios dos bancos, gestoras e casas especializadas que podem embasar e dar mais precisão às decisões de investimento. “As empresas do mercado contratam pesquisas privadas e falam com os candidatos. Por isso é fundamental buscar essas análises que podem valer muito dinheiro”, afirma Marilia Fontes.

4. A relação com o Congresso

Como destacado anteriormente, a Bolsa de Valores tende a se valorizar se o “queridinho” do mercado tiver chances reais de ser o nome escolhido pelos eleitores para subir a rampa do Palácio do Planalto. Sérgio Vale, no entanto, comenta que é preciso deixar no radar a avaliação de como pode ser a convivência entre o novo presidente e o Congresso. Ele usa o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos) para explicar a situação. “Em um primeiro momento, o Moro é um cenário de sonho para o mercado. Mas para a classe política é um pesadelo, já que deixou uma imagem negativa. Existe então a dúvida, caso o Moro vire presidente, se o Congresso vai deixar ele trabalhar”, diz. A observação do economista-chefe da MB Associados caminha no sentido de o futuro mandatário não ter força no Parlamento para aprovar projetos prioritários e ainda virar alvo de pautas-bomba que enfraqueceriam seu capital político.

5. O que vem depois das eleições

As projeções pessimistas para a economia em 2022 podem levar o debate eleitoral para um campo que o mercado financeiro torce o nariz, na avaliação de Marilia Fontes. “Como a atividade econômica vai estar fraca, os candidatos vão falar em estímulos para ganhar popularidade, e o mercado teme o populismo e a irresponsabilidade”, reforça. Por isso, a tomada de decisões mais arriscadas pode ser postergadas para o desfecho das eleições ou até mesmo para o primeiros meses de um novo governo, em 2023.