Bolsonaro avança em solução para os combustíveis e sobe tom contra o STF

Incomodado com decisão do Supremo, presidente opta por um enfrentamento mais radical

A semana foi, sem dúvida, a mais tensa na relação entre os Poderes em Brasília desde setembro do ano passado, quando Jair Bolsonaro (PL) levou milhares às ruas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e depois fez um recuo intermediado pelo ex-presidente Michel Temer.

Desta vez, o presidente, incomodado com uma decisão do Supremo contra um deputado da sua base de apoio, optou por um enfrentamento mais radical, ameaçando descumprir ordens judiciais, reiterando sua desconfiança com o processo eleitoral e convocando seus apoiadores a novamente se manifestarem nas ruas, o que deve acontecer a partir de julho.

Isso ocorreu no dia em que o governo saía das cordas num outro tema super importante para a eleição, que é a inflação. Finalmente, depois de semanas de negociações, Bolsonaro, seus ministros e os líderes do Congresso chegaram a um entendimento para apresentar um pacote de medidas para reduzir o preço dos combustíveis.

Em suma, o governo propõe corte de impostos, de forma transitória, para aliviar o bolso do consumidor. A operação envolve sacrifícios nos estados, mas o clamor pela redução do diesel e do gás de cozinha deve prevalecer politicamente.

E Paulo Guedes teve motivos para comemorar na semana, principalmente com a concretização da privatização da Eletrobras e a sinalização de recuo nos índices de inflação em maio. Porém, o ministro escorregou e deixou escapar uma frase mal colocada em conversa com donos de supermercados em que ele sugeriu congelamento de preços até 2023, o que gerou enorme controvérsia, já que os aliados do centrão interpretaram a fala como um sinal de “desespero” por parte do chefe da equipe econômica.

Bolsonaro termina a semana tirando uma foto com Joe Biden na Cúpula das Américas, num encontro de forte conteúdo simbólico, mas efeito prático quase nulo. A conversa entre os dois líderes serviu basicamente para que o presidente brasileiro falasse com sua base aqui no país, repetindo os mantras de sempre, e o americano discursasse platitudes sobre a democracia e o meio ambiente, salvando uma reunião que estava fadada ao fracasso.

Com o líder nas pesquisas, Lula (PT), se recuperando da Covid-19, o assunto na campanha do PT foi a divulgação de uma prévia do programa de governo, que basicamente reedita as promessas do ex-presidente para a economia, bastante criticadas pelo mercado.

O PSDB indicou Tasso Jereisatti para ser vice na chapa de Simone Tebet, que passa a ser a “cara” da terceira via a partir de agora com uma missão hercúlea de romper a polarização eleitoral.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)