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Análise: QG de Bolsonaro teme ação de “radicais” na reta final e impacto no debate da Globo
Na reta final do primeiro turno e vendo a distância para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentar nas pesquisas, a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) vive um dilema interno, que opõe a ala liderada pelo centrão e a base mais ideológica do presidente, representada em larga medida pelo gabinete digital chefiado pelo filho Carlos Bolsonaro.
Enquanto o núcleo político tenta recolocar Bolsonaro na ofensiva de captura dos votos com base no antipetismo e no corpo-a-corpo dos dias que antecedem o pleito, integrantes do QG familiar, com respaldo de parlamentares mais radicais instalados nos partidos do bloco centrista, ensaiam uma operação barulhenta e com potencial explosivo.
É com respaldo desse segmento da campanha bolsonarista que podem vir à tona materiais levantados por interlocutores próximos do governo com questionamentos incisivos ao sistema eleitoral, com o objetivo de ampliar a desconfiança do resultado das urnas.
Na gênese dessa disputa de agenda prioritária na campanha, está, por exemplo, o inusitado pedido de férias (depois revisto) de Ciro Nogueira (Casa Civil) na semana passada.
Atores políticos dos partidos que sustentam a candidatura à reeleição são contrários à radicalização do discurso contra o TSE, sobretudo porque têm interesses práticos no período pós-eleitoral que nem sempre convergem com os pleitos dos bolsonaristas mais ideológicos.
Enquanto o grupo centrista vem cuidando da campanha tradicional, buscando associar o presidente à melhora dos fundamentos econômicos e aos programas sociais recém-lançados, outros setores do bolsonarismo mantiveram uma espécie de plano paralelo de contestação do sistema de votação, com base, em larga medida, em conteúdos de veracidade duvidosa e obtidos de forma obtusa.
“Desbolsonarização”
Em contraponto, os políticos articulam vacinas para evitar entraves com a Justiça Eleitoral, pois parcela expressiva dos dirigentes partidários estará com seu futuro resolvido a partir de domingo, independentemente do retrato das urnas.
Uma delas, que ganha tração nos bastidores de Brasília, é a possibilidade de redação de manifesto público e subscrito pelos caciques das siglas do centrão reconhecendo o resultado eleitoral tão logo ele seja anunciado pelo TSE.
A divulgação do documento foi pactuada há meses pelo bloco, mas voltou à tona nas conversas com ministros em meio a nova ofensiva de contestação eleitoral alimentada pelo núcleo ideológico.
Além da blindagem que busca criar com o Judiciário se Bolsonaro concretizar as ameaças de contestação, o gesto tem sido propagado em um momento da disputa em que lideranças do centrão, em conversas reservadas, dizem não nutrir mais expectativa de uma virada na corrida presidencial.
Nesse sentido, a nota em defesa do resultado tem sido tratada como o primeiro movimento concreto de “desbolsonarização” do arco partidário que deu sustentação ao governo, interessado em destravar conversas para compor uma eventual base de apoio do governo Lula e, principalmente, no caso do PP, manter a Câmara nas mãos de Arthur Lira.
Publicamente, a contrariedade do centrão com o movimento passa ainda pelo entendimento de que jogar dúvidas sobre o processo eleitoral passaria uma mensagem de derrota antecipada.
Sobretudo, afastaria o eleitorado do Sudeste, que o candidato à reeleição precisa atrair, e pode dificultar as sinalizações de apoio em palanques regionais em um eventual segundo turno. Tudo isso em um momento em que a campanha bolsonarista tem o desafio de convocar os apoiadores para irem às urnas domingo.
Último debate
O mesmo grupo que defende a estratégica belicosa de enfrentamento ao Judiciário é o que conseguiu mudar a direção da propaganda eleitoral de Bolsonaro na TV, migrando todos os programas para a linha ofensiva de ataques a Lula e ao PT, deixando a divulgação dos feitos sociais do governo em segundo plano.
Diante desses relatos, que chegaram ao conhecimento da Corte eleitoral, ministros celebraram a presença do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, na solenidade em que foram apresentadas as instalações do tribunal para acompanhamento da totalização dos votos.
Na visão de interlocutores de Alexandre de Moraes, o dirigente máximo do partido de Bolsonaro, que já manteve reuniões com ministros do tribunal outras vezes este ano, teria validado publicamente a transparência do processo, o que limitaria o alcance de eventuais pedidos de recontagem e auditorias com origem na legenda dirigida por Costa Neto.
Apesar da comemoração no tribunal, o PL acabou liberando nesta quarta-feira um relatório que aponta supostas 24 inconsistências e vulnerabilidades do sistema de votação e apuração, que podem servir de embasamento mais técnico para Bolsonaro questionar o resultado de domingo.
A expectativa agora é sobre o uso do material pelo presidente no debate da TV Globo, marcado para quinta-feira. A eventual exploração das conclusões desse relatório num evento com audiência esperada de 40 milhões de telespectadores seria interpretada como uma elevação substantiva na temperatura do enfrentamento político ao TSE a três dias do primeiro turno.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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