Como a tensão entre Rússia e Ucrânia pode afetar a economia e os investimentos

A deflagração de um confronto militar entre os dois países pode piorar principalmente o cenário para a inflação na Europa
Pontos-chave:
  • A tensão geopolítica no Leste Europeu começa a afetar o apetite por risco
  • No Brasil, o principal impacto pode ser no preço dos combustíveis

O risco cada vez maior de um conflito armado entre Rússia e Ucrânia, com potencial de envolver Estados Unidos e outros países da Europa, tem deixado os investidores em alerta para os possíveis reflexos na economia global. A escalada de tensão ocorre em um momento em que o mundo ainda está no processo de retomada dos impactos da pandemia de covid-19 e que muitos governos começam a subir os juros básicos para lidar com a disparada da inflação.

Nas últimas semanas, Moscou ampliou os exercícios militares na fronteira ucraniana como forma de pressionar Kiev a desistir de não fazer parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental). A ameaça é uma forma de a Rúsia preservar o seu poder no Leste Europeu, ao mesmo tempo em que mantém a Ucrânia longe da influência da União Europeia.

Os Estados Unidos, diante das manobras russas, já prometeram uma resposta dura em caso de invasão do território ucraniano. Enquanto a diplomacia tenta evitar uma guerra, os agentes econômicos avaliam os potenciais impactos se o confronto por deflagrado.

Problema da inflação

“De imediato, o mais latente seria a questão da inflação, apertando bastante na Zona do Euro. Isso poderia pressionar ainda mais os preços de energia, principalmente do gás natural”, diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. “Com possíveis sanções em pauta, os maiores riscos econômicos estão focados na Europa, que depende da importação de petróleo e gás da Rússia. A diminuição na oferta dos combustíveis pode pressionar ainda mais a inflação europeia, que já está em patamares historicamente elevados”, considera João Leal, economista da gestora de investimentos Rio Bravo.

Economia mais fraca

“Naturalmente um aumento nos preços da energia poderia reverberar de forma global. Isso tem um efeito contracionista. Ou seja, pode contribuir para desacelerar a atividade econômica”, aponta Victor Beyruti. “Como teríamos Estados Unidos no jogo, podemos ver sanções contra os países, além de uma nova onda protecionista. Isso também é um ponto de preocupação e que pode prejudicar a economia global”, acrescenta o economista da Guide Investimentos. “Os temores de uma interrupção no comércio de energia entre a Rússia e a Europa seriam dolorosos para qualquer outro ator no grande palco da geopolítica, incluindo China e Estados Unidos”, avalia em relatório a gestora global de grandes fortunas Julius Baer.

E o Brasil com isso?

“A tensão geopolítica entre Ucrânia e Rússia começa a afetar o apetite por risco”, observa o Bradesco em relatório. “No Brasil, podemos observar uma pressão nos preços dos combustíveis”, indica João Leal, da Rio Bravo. “Uma nova desaceleração da economia global poderia afetar no Brasil a indústria exportadora, que tem uma grande representatividade no nosso PIB”, acrescenta Victor Beyruti. “Ao investidor, não é nada para entrar em pânico por enquanto. É algo para colocar no radar, mas com cautela. O principal ponto de atenção no cenário externo ainda segue a questão da subida dos juros e retirada dos estímulos nos Estados Unidos, que tem trazido muita volatilidade ao mercado doméstico”, completa o especialista da Guide.