O preço do bitcoin pode zerar? Nassim Taleb não descarta a hipótese

O investidor, matemático e autor de 'A Lógica do Cisne Negro' e 'Antifrágil' voltou a atacar o criptoativo

O investidor, matemático e escritor líbano-americano Nassim Taleb voltou a atacar as criptomoedas na quinta-feira (23). Pelo Twitter, o autor de “Antifrágil” e “A Lógica do Cisne Negro”, escreveu a expressão jornalística “inverno cripto” é “altamente enganadora”.

“A expressão jornalística ‘inverno cripto’ é altamente enganadora; implica sazonalidade e, talvez pior, uma reversão a alguma tendência. Não, seu inverno pode não ser transitório, e o que você chama de inverno pode se degradar em uma era glacial permanente e inevitável, repleta de extinções”, comentou.

Reprodução Twitter @nntaleb

No ano passado, Taleb já havia comprado uma briga com a comunidade investidora de criptoativos, quando publicou, no final de junho de 2021, o artigo ‘Bitcoin, coins and fragility’. Nele, Taleb, um pesquisador de probabilidade e ex-trader quantitativo de longa data, disse que o bitcoin vale “exatamente zero”, em parte porque requer um interesse contínuo para mantê-lo em seus patamares elevados de preço.

Segundo ele, o bitcoin falhou como moeda, meio de pagamento, reserva de valor e proteção contra a inflação. “[O bitcoin vale] exatamente zero”, afirmou Taleb no artigo. O artigo de 2021 de Taleb é baseado em métodos quantitativos de finanças e argumentos econômicos e analisam apenas o desempenho do bitcoin desde a sua criação.

Por outro lado, segue Taleb em seu artigo de 2021, o “ouro e outros metais preciosos não se degradam ao longo de um horizonte histórico e não requerem manutenção para atualizar suas propriedades físicas ao longo do tempo.”

Taleb cita o ouro pois há uma comparação frequente entre o bitcoin e o nobre metal. Mas, segundo Taleb, esta comparação é falha pois não atende critérios básicos de análise financeira. De acordo com Taleb, os metais preciosos perderam sua qualidade como meio de troca, embora o ouro mesmo sendo um ativo isento de dividendos (como outros metais ou pedras) mantenha algum status financeiro. Portanto, “pode-se esperar que as posses de ouro ou prata de alguém permaneçam fisicamente por pelo menos o próximo milênio. Além de ter algum valor econômico residual”, defende Taleb.

Alta volatilidade como característica essencial

O bitcoin foi criado em 2008 e sempre foi notoriamente volátil, embora tenha experimentado uma volatilidade extrema no período da pandemia de Covid-19, diante de um cenário de inflação acentuada em boa parte do mundo ocidental.

Taleb observou que em março de 2020, quando o mercados de ações em todo o mundo caiu repentinamente após a crescente instabilidade devido à pandemia do COVID-19, o bitcoin caiu mais do que as ações. Posteriormente, a criptomoeda se recuperou com a retomada do mercado, mas somente “após a injeção maciça de liquidez”. Isso é “evidência suficiente de que o bitcoin não pode ser usado como um ‘hedge‘ (ativo de proteção para operações financeiras) contra o risco sistêmico”, disse.

Taleb afirmou, ainda em seu artigo de 2021, que o bitcoin tende a responder à liquidez e que não está claro o que aconteceria se a internet sofresse uma interrupção regional, principalmente se ocorresse durante um colapso financeiro.

Taleb observou que o bitcoin “manteve uma volatilidade extremamente alta” entre 60% e 100% “ao longo de sua vida”, embora isso não signifique que uma criptomoeda não possa “deslocar o fiduciário” – isto é, dinheiro apoiado pelo governo que o emite mas não apoiado por uma mercadoria física como o ouro.

As pessoas também confundem o sucesso do bitcoin como moeda digital com o sucesso do bitcoin como investimento especulativo. Ser uma moeda exigiria que ela tivesse alguma estabilidade e usabilidade, disse Taleb.

No domingo (19), Taleb criticou mais uma vez o criptoativo, dizendo que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, estava em “negação” por acreditar que os investimentos em bitcoin estão seguros e vão “crescer imensamente após este bear market”.