Dólar a R$ 5: hora de comprar?

Para quem tem dinheiro guardado ou tem de viajar a trabalho, os especialistas recomendam comprar dólares o quanto antes para aproveitar a cotação atual – já que ela pode não durar muito
Pontos-chave:
  • O dólar comercial voltou ao patamar “psicológico” de R$ 5 depois de ter se enfraquecido continuamente em relação ao real nos primeiros meses do ano

O dólar comercial voltou ao patamar “psicológico” de R$ 5 depois de ter se enfraquecido continuamente em relação ao real nos primeiros meses do ano, acumulando queda de 10,2% até 23 de fevereiro. É o menor nível da moeda desde americana frente ao real desde 2 de julho de 2021.

Nem o risco geopolítico causado pela tensão entre Rússia e Ucrânia — que em tese deveria levar os investidores a correrem para a divisa americana por se tratar de um “porto seguro” —, nem a perspectiva de uma forte alta de juros nos Estados Unidos — que poderia reverter os fluxos de capitais de emergentes para ativos americanos —  têm conseguido interromper o bom humor dos investidores com a moeda brasileira.

Mas afinal, o que dá suporte ao real?

Os analistas do mercado financeiro têm dado, principalmente, duas razões para justificar a apreciação do real, sendo a primeira o fato de que os mercados globais vêm atravessando uma fase de “rotação de carteiras” e a segunda o diferencial de juros da economia brasileira com o exterior.

O que é rotação de carteiras ou “portfólios”?

Os investidores têm mudado o perfil dos seus portfólios, migrando de ativos de “growth” ou crescimento (que têm potencial de gerar continuamente grandes retornos e operar com desempenho acima da média do mercado) para ativos de “value” ou valor (com potencial de maximização de retornos por serem considerados subvalorizados, ou seja, abaixo do que seria o seu valor intrínseco ou “real”).

Os investimentos em “growth” estão comumente associados às ações de tecnologia, que possuem a perspectiva de baterem a média do mercado consistentemente. Mas os agentes financeiros têm relegado, no começo de 2022, essas empresas ao segundo plano. Para ter uma ideia, o Nasdaq, índice de tecnologia de Wall Street, já amarga perdas de 15% no ano.

Ações de “techs”, que subiram muito durante a pandemia e em meio à ampla liquidez global advinda de juros em baixas históricas, vêm sofrendo bastante pelo processo de correção de “valuations” esticados. “Valuation é o valor real de uma empresa, seu valor intrínseco. Os sinais do Federal Reserve (Fed) de que haverá um ciclo de alta de juros mais rápido nos Estados Unidos também contribuíram com o ajuste nos preços de papéis de tecnologia e uma migração dos investidores para ativos de valor — caso predominante das ações brasileiras.

A entrada de recursos estrangeiros na B3 demostra a demanda de ativos de “value” desses investidores. O acumulado mensal de influxo alcançou R$ 23,31 bilhões e o anual chegou a R$ 55,80 bilhões, segundo dados da B3 até 18 de fevereiro.

O diferencial de juros

O segundo motivo para a apreciação do real é o diferencial de juros da economia brasileira com o exterior. A taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Banco Central hoje está em 10,75% e a mediana das expectativas dos economistas consultados pela autoridade monetária é de um juro de 12,25% ao fim do ano. Há quem projete uma Selic ainda maior, de 12,75% ou até mesmo acima de 13%, no término de 2022.

Os profissionais de mercado notam, assim, que o real retomou o status “carry trade” — operação financeira de arbitragem que consiste em obter retornos explorando a diferença entre as taxas de juros interna e externa.

O forte fluxo de capital estrangeiro, no entanto, não é considerado recorrente, mas sim um “smart money”, ou seja, oportunista, volátil, de natureza passageira, diferentemente do fluxo de investimento estrangeiro direto.

Vale pontuar também que esse aumento de juros brasileiros atrai fluxos de capital tanto de estrangeiros quanto de brasileiros, que, durante a época de Selic nas mínimas históricas, resolveram diversificar internacionalmente os seus portfólios com investimentos mais arriscados e, também, “dolarizar” a carteira — isto é, vincular uma parcela de seu patrimônio à moeda estrangeira.

O dólar deve continuar em queda?

Na avaliação dos especialistas, será preciso ter cautela a partir do segundo trimestre, quando as eleições no Brasil entrarão no foco dos investidores, fazendo com que o dólar volte a subir, afirmou Silvio Campos Neto, da Tendências.

É hora de comprar dólares?

Para quem tem dinheiro guardado ou tem de viajar a trabalho, os especialistas recomendam comprar dólares o quanto antes para aproveitar a cotação atual – já que ela pode não durar muito.

E de viajar ao exterior?

Segundo os especialistas, não. E para explicar a negativa, é necessário fazer uma ponderação: apesar de o dólar ter alcançado R$ 5, em 10 de fevereiro de 2020, ela valia R$ 4,32. Ou seja, a moeda norte-americana ainda está bastante valorizada no Brasil — encarecendo o custo de viagens internacionais e de compras no exterior.