Brasil não se junta a coalizão para barrar comércio com Rússia

Medida poderia ampliar ainda mais o isolamento do regime de Vladimir Putin

O Brasil rechaçou com outros emergentes juntar-se a uma coalizão montada por países industrializados para barrar o comércio com a Rússia e ampliar o isolamento do regime de Vladimir Putin, conforme o Valor apurou.

Uma declaração dos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Austrália, Coreia do Sul e alguns outros países menores, como a Islândia, é esperada na cena comercial em Genebra.

O comissário de Comércio da UE, Valdis Dombrovskis, avisou que o G7 e parceiros “em breve deixarão de tratar a Rússia como uma Nação Mais Favorecida (MFN, na sigla em inglês) na Organização Mundial do Comércio (OMC), eliminando os principais benefícios comerciais (para produtos russos)”.

O Canadá foi o primeiro país do G20 a retirar o status de MFN para a Rússia, Bens importados da Rússia e Belarus passaram a ser submetidos a taxação de 35% no Canadá, comparado a alíquotas insignificantes até então.

“A invasão brutal da Rússia na Ucrânia deve ser combatida com todo o rigor do direito internacional, incluindo a lei comercial’, disse Dombrovskis. Para a UE, as sanções isolarão ainda mais a Rússia do sistema econômico global, elevando o custo da invasão de Putin na Ucrânia.

Na OMC, EUA, UE e Reino Unido exercem pressão política para imposição por mais países de um embargo contra exportações da Rússia, baseado num artigo da entidade sobre segurança nacional.

Mas, segundo fontes, não apenas economias emergentes recusaram se juntar à coalizão. Países como Suíça e Cingapura, que aplicaram sanções contra Moscou, também “pularam fora” dessa iniciativa. A avaliação é de que sanções contra Moscou no comércio de matérias-primas, por exemplo, agravariam a crise mundial.

Para certas fontes, há “qualificações e contrastes mesmo entre nações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apesar da forte condenação da Rússia pelos EUA, UE e Reino Unido”.

No caso do Brasil, a diplomacia vem reiterando que é preciso manter a Rússia na mesa de discussões nos foros multilaterais para pressioná-la quanto aos efeitos da guerra que prejudicam o mundo todo. E prefere focar na condenação russa no Conselho de Segurança, Assembleia Geral da ONU, no Conselho de Direitos Humanos.

O movimento de emergentes também no G20 parece lembrar a alguns comentaristas o Movimento Não-Alinhado do passado. Na verdade, como nota uma fonte, o Brasil nunca foi parte do “Non-Aligned Movement” (NAM), mas considera que faz todo o sentido o país não se alinhar automaticamente a nenhum polo.

Observa que o Brasil é uma democracia do hemisfério Ocidental, com economia de mercado, culturalmente próximo ao “Ocidente”, mas tem a Ásia como o maior parceiro comercial, com participação crescente das importações do Brasil. Enquanto isso, a Europa e EUA dificultam as exportações do agronegócio brasileiro. “Não temos alternativa boa senão ser um global player”, diz a fonte.

Na OMC, com o isolamento crescente da Rússia, uma questão agora essencial será a organização dos trabalhos de preparação da conferência de ministros de comércio dos mais de 160 países membros, marcada para junho em Genebra.

Pelo momento, sua realização não parece ameaçada. Mas será cada vez mais duro determinar qual será a “agenda possível ou desejável” da conferência, diante do racha crescente entre os países.

Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico