Forças Armadas protagonizam embate com TSE sobre eleições

Presidente Jair Bolsonaro vê militares como "fiscais" do pleito

A semana foi movimentada em Brasília, com novos capítulos da crise entre os Poderes e os militares ocupando cada vez mais protagonismo no noticiário político, o que não é trivial. As Forças Armadas, levadas por Jair Bolsonaro (PL) à condição de “fiscal” da segurança das eleições, papel que não é o dela, estão cada vez mais envolvidas na guerra que o presidente trava com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Embora o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, tenha tentado baixar a poeira e estabelecer uma ponte com o Judiciário no início da semana, o núcleo militar do governo continua dando as cartas e age para colocar ainda mais dúvida sobre o processo eleitoral. Inclusive, foi anunciada a contratação de uma empresa privada pelo partido de Bolsonaro para auditar as eleições, fato que acaba jogando mais incerteza sobre o cenário político.

Bolsonaro também voltou a fazer duras críticas à Petrobras e praticamente implorou à nova diretoria da empresa que não aumente o preço dos combustíveis novamente. O movimento preocupou o mercado, pois o presidente acabou de mudar o comando da estatal e nada indica que os rompantes populistas parem por aí.

Já a campanha de Lula (PT) teve altos e baixos e mais turbulência interna. O ex-presidente iniciou a semana brigando com Arthur Lira (PP), que é favorito para comandar a Câmara no primeiro biênio da próxima legislatura. Seguiu causando furor ao dizer à revista Time que não vai apresentar seu programa econômico antes da eleição. Na mesma entrevista, gerou estresse internacional ao culpar a Ucrânia pela guerra com a Rússia para desespero de quem queria um pouco mais de moderação do discurso do petista.

Na quarta-feira (6/5), o TSE encerrou o alistamento eleitoral com um recorde de cadastros de jovens, uma verdadeira corrida aos cartórios, o que deve levar o país a ter mais de 3 milhões de novos eleitores credenciados a ir às urnas. É bom lembrar que numa disputa apertada, como tende a ser a de outubro, essa diferença pode afetar o resultado. Em 2014, por exemplo, a então presidente Dilma Rousseff venceu Aécio Neves no segundo turno com 3,5 milhões de votos de margem.

Todo esse cenário, claro, joga mais incerteza no quadro eleitoral. Quem acompanha as análises do JOTA, sabe da nossa preocupação com o que chamamos de “terceiro turno”, que é um ambiente bastante hostil pós-eleição, com turbulências políticas e institucionais que possam contraminar a transição, a elaboração do Orçamento de 2023 e outros temas importantes para os tomadores de decisão. A pergunta que fica, diante de toda essa tensão entre os Poderes, é a seguinte: será que o tal terceiro turno, desta vez, está chegando antes mesmo do primeiro?

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA)