O que o investidor pode esperar do balanço da Vale no segundo trimestre?

Mineradora divulga seu resultado financeiro na quinta-feira, após o fechamento do mercado

A queda nos preços do minério de ferro, atualmente em patamar próximo dos US$ 100 por tonelada, vai determinar um resultado operacional mais fraco para a Vale, no segundo trimestre do ano em relação a igual período de 2021, tanto em volumes quanto em receitas.

Consenso de mercado realizado pelo Valor reunindo projeções de seis bancos e corretoras indica que a Vale deve registrar receita média de US$ 11,45 bilhões de abril a junho, queda de 31,3% em relação a igual período do ano passado.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da mineradora ficou, de acordo com as projeções, em US$ 6,11 bilhões, em média, redução de 44,5% sobre o segundo trimestre de 2021, enquanto o lucro estimado situou-se em US$ 3,26 bilhões, queda de 57% sobre igual período do ano passado.

O resultado da mineradora será conhecido na quinta-feira (27) depois do fechamento do mercado.

O preço médio do minério de ferro de referência no mercado internacional ficou em US$ 138 por tonelada no segundo trimestre do ano, bem abaixo dos US$ 200 por tonelada do segundo trimestre de 2021.

Na ocasião, a Vale registrou um preço de venda realizado de US$ 202 por tonelada no trimestre. Agora as projeções de bancos são de que a mineradora registre uma queda “significativa” nos preços realizados no segundo trimestre de 2022.

A queda esperada da receita e do Ebitda da mineradora se relaciona, portanto, com preços mais baixos e também com volumes mais fracos de produção na comparação do segundo trimestre com igual período do ano anterior.

Relatório de produção divulgado pela empresa indicou a produção de 74,1 milhões de toneladas de minério de ferro no segundo trimestre deste ano, queda de 1,2% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, a queda na produção da commodity foi de 3,7%. Nos metais a queda de produção de janeiro a junho foi ainda maior: de 10,3% no níquel e de 25% no cobre, sempre nas comparações semestrais.

As vendas também caíram na comparação semestral: redução de 5,8% no minério de ferro, de 17,9% no níquel e de 30% no cobre. A queda esperada no preço realizado pela Vale no minério de ferro se explica não só pela redução das cotações do produto no mercado internacional, mas também pelo sistema de precificação da Vale.

Trata-se de um sistema complexo, com diversas modalidades de negociação, o que faz com que algumas vendas sejam registradas com preços provisórios. Como o preço do minério de ferro caiu ao longo do segundo trimestre, ficando mais baixo no fim do período, esse movimento tende a impactar negativamente o preço final realizado pela empresa.

Apesar dos números mais fracos, as perspectivas para a Vale continuam positivas, na avaliação dos bancos. De janeiro a junho, a empresa produziu 137,2 milhões de toneladas de minério de ferro, abaixo das 142,5 milhões do primeiro semestre de 2021, o que dá a queda de 3,7% anteriormente citada.

Significa que para atingir a meta de produção de minério de ferro revista para este ano a empresa terá que produzir, no segundo semestre, 173 milhões de toneladas. Se o fizer, atinge o piso da banda da meta, que situa-se agora entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas de minério de ferro em 2022.

O segundo semestre costuma ser mais forte do ponto de vista da produção por razões sazonais (no primeiro semestre chove mais, o que muitas vezes leva a interrupções da produção como aconteceu este ano, no 1º trimestre, em Minas Gerais). Atingir o piso da meta, portanto, deve ser um objetivo factível para a Vale.

No relatório de produção, a empresa anunciou a revisão dessa meta, reduzindo a ambição para o ano. A meta anterior era de 320 milhões a 335 milhões de toneladas de minério de ferro.

O mercado não chegou a se surpreender com a mudança pois considera que os sinais vindos da China, principal cliente da mineradora, indicavam esse caminho.

As siderúrgicas chinesas estão cortando produção como resultado de altos estoques e de problemas com as margens dos negócios. Há ainda a visão de investidores de que a Vale pode fazer embarques menores do que o previsto.

A mineradora vem repetindo há alguns anos o mantra de privilegiar margens sobre volumes, o que também ajuda a explicar o movimento. Tudo isso somado justifica, na visão do mercado, uma meta de produção menor da empresa para este ano.

Mesmo em um cenário de preços menores para o minério de ferro existe também o entendimento de que a Vale continuará sendo uma forte geradora de caixa (“cash cow”), com espaço para seguir sendo, ao mesmo tempo, uma das principais pagadoras de dividendos aos acionistas. A remuneração inclui dividendos, juros sobre capital próprio e programas de recompras de ações que estão em curso.

As recomendações dos bancos aos investidores, no caso da Vale, portanto, continuam sendo de compra das ações.

Para elaborar o consenso, o Valor reuniu projeções dos seguintes bancos: BTG, Itaú BBA, Bradesco BBI, JP Morgan, Citi e Scotia.