Clientes do Nubank já podem pedir para virar sócios do banco digital

De início, apenas clientes poderão pleitear um pedacinho do banco digital que está em processo de abertura de capital na Nyse (Bolsa de Nova York). Mas vale a pena entrar nesse IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês)?

O Nubank começa a distribuir suas ações nesta terça-feira (9). De início, apenas clientes poderão pleitear um pedacinho do banco digital que está em processo de abertura de capital na Nyse (Bolsa de Nova York). Mas vale a pena entrar nesse IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês)?

Para responder a esta pergunta, precisamos olhar para algumas características da oferta. A primeira delas é o preço.

Preço por ação

A previsão é que cada ação nos Estados Unidos saia a US$ 10,50 (R$ 57,88, segundo o câmbio da última sexta).

No Brasil, estes papéis serão negociados via BDRs (Brazilian Depositary Receipts, ou recibos depositários brasileiros). No caso do Nubank, estes recibos vão equivaler a um sexto de ação do banco na Nyse, o que reduz o valor inicial a R$ 9,82 de acordo com o prospecto (R$ 9,65 segundo a cotação do dólar de sexta), que é o ponto médio da faixa indicativa de preço do IPO.

Caso a oferta saia a este valor e todas as ações, inclusive dos lotes adicional e suplementar, sejam colocadas no mercado, o banco teria um valor de mercado (número de ações multiplicado pelo preço por ação) de US$ 48,9 bilhões (R$ 269,6 bilhões).

Comparando este valor com a capitalização de grandes bancos brasileiros, ele pode ficar um pouco salgado. O Itaú, mais valioso banco da B3, vale R$ 215 bilhões segundo a cotação de sexta (5). Já a XP, listada nos EUA, vale R$ 107,7 bilhões.

Valor de mercado dos maiores bancos brasileiros:

  • Itaú – R$ 215 bilhões
  • Bradesco – R$ 173 bilhões
  • Santander Brasil – R$ 127 bilhões
  • Banco do Brasil – R$ 82 bilhões

“Está caro, isso não tem a menor dúvida. É uma precificação que aponta que o Nubank viria a ser maior que o Itaú”, afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus.

Segundo ela, o valuation do IPO do Nubank tem um múltiplo, considerando sua receita, “puxado” e bem mais caro que o de pares já listados em Bolsa.

No terceiro trimestre deste na ano, o Nubank teve uma receita de R$ 2,5 bilhões, alta de 198% em relação a igual período de 2020. O resultado líquido foi um prejuízo de R$ 179,8 milhões.

O jovem banco ainda não deu lucro. Em 2020, teve prejuízo líquido de R$ 885,4 milhões. Em 2019 e em 2018, as perdas foram de R$ 364,9 milhões e de R$ 104,4 milhões, respectivamente.

“O valor que faz sentido é onde tem comprador. Esse preço [do IPO] está aí porque tem demanda para isso. De cara, parece um pouco irracional, mas existe gente querendo comprar”, afirma o analista e influenciador Marco Saravalle.

Um ponto de atenção, segundo Saravalle, é o risco de uma companhia já muito valorizada não ter espaço para uma forte alta.

“De US$ 50 bilhões [em valor de mercado], o Nubank vai pra onde? Qual vai ser a valorização? Para uma ação tão valorizada como essa cair 5% a 10% nos meses seguintes ao IPO, é fácil.”

O Nubank

Fundado em 2013, o Nubank tem crescido a uma velocidade impressionante. Segundo dados do terceiro trimestre de 2021, o banco tem uma média de 2,1 milhões de novos clientes por mês. No total, são 48,1 milhões de clientes, sendo 35,5 milhões deles ativos mensalmente.

“Nossa jornada começou em 2013 com um pequeno grupo de engenheiros e designers. Em 2014, lançamos nosso primeiro produto, um cartão de crédito roxo da bandeira Mastercard”, diz o banco em seu prospecto.

O Nubank ganhou destaque por oferecer cartões sem anuidade de forma totalmente digital. Segundo a empresa, isso possibilitou o acesso a “um espectro muito mais amplo de clientes – desde usuários de cartões mais sofisticados até aqueles que estão apenas começando”. Muitos deles, desbancarizados.

A empresa opera, além do Brasil, no México e na Colômbia, e já tem um escritório na Argentina para estudar o mercado local e eventualmente dar início a uma operação no país.

“No futuro, também podemos buscar expandir nossos negócios de forma seletiva expandindo para novos mercados internacionais, onde podemos fornecer serviços a milhões de consumidores enquanto inovamos de forma disruptiva os modelos legados de instituições financeiras tradicionais”, diz o Nubank no prospecto do seu IPO.

Segundo Larissa, da Empiricus, a expansão para outros países pode ser a grande guinada do Nubank. “México e Colômbia tem cerca de 30% de sua população desbancarizada, o dobro do Brasil”.

O banco estima que aproximadamente 5,1 milhões de pessoas tiveram o primeiro cartão de crédito ou a primeira conta bancária por meio dos seus serviços.

A qualidade do crédito e sua expansão são justamente os pontos de atenção na análise do Nubank. Empréstimos, financiamentos e cartões de créditos são a maior fonte de receita de bancos.

Segundo analistas, o Nubank precisa melhorar o tamanho e a qualidade de sua carteira de crédito. Para isso, o momento do IPO é oportuno.

Oferecer crédito requer um caixa robusto, por regras contábeis. No caso do Nubank, por ser regulado como uma fintech, essas regras são menos rígidas que as dos grandes bancos. Isso, porém, pode mudar. Há uma consulta pública em aberto no Banco Central para nivelar as regulações de bancos e fintechs. Neste caso, o Nubank teria que reservar uma quantia maior de dinheiro em caixa para cobrir eventuais calotes dos clientes, o que engessaria grande parte da receita do banco. Assim, a capitalização do IPO vem em boa hora.

Considerando o preço médio, o Nubank pode levantar R$16,8 bilhões com a oferta. Com o uso do lote suplementar de ações, a arrecadação sobe para R$ 20,2 bilhões.

“O Nubank aguenta uma inadimplência grande como os grandes bancos? É preciso analisar a qualidade do crédito”, diz Saravalle.

O público com uma faixa de renda menor e mais jovem, como o do Nubank, tende a ser mais inadimplente.

Outro ponto para fazer o IPO agora é a necessidade de vazão dos investidores mais antigos. Muitos fundos colocaram dinheiro no Nubank nos últimos anos, eles tem um certo prazo para a saída. O ideal, nestes tipos de aportes, é que a retirada seja em uma abertura de capital.

NuSócios

Quem é cliente do Nubank pode ser recompensado com uma BDR de graça. Para divulgar o IPO e angariar mais clientes, o banco lançou o NuSócios.

A partir desta terça, a adesão ao programa estará disponível no aplicativo do banco. Para ganhar a BDR, é preciso ter conta ativa. Ou seja, que o cliente tenha realizado ou recebido uma operação nos últimos 30 dias corridos.

Também é necessário estar com as contas em dia, com nenhum débito em aberto em operações de cartão crédito e/ou empréstimo por mais de oito dias corridos.

Quem ainda não é cliente, vai poder abrir conta a tempo de participar do programa. Com conta ativa e adimplente, a adesão estará disponível logo no dia seguinte.

Mas corre que a oferta é por tempo limitado. Neste caso, por dinheiro limitado. O Nubank estabeleceu um teto de R$ 180 milhões para presentear sua clientela. Com base no preço de R$9,82 por BDR, isso equivale a 18.329.939 papéis. Ou seja, menos de 4% da base de clientes. Caso a demanda seja grande, o banco pode aumentar este valor em em 25%.

Havendo mais pedidos pelo NuSócios do que BDRs, a ordem de chegada é que garante o destino do papel. Então prepare o aplicativo e o alarme!

Caso o correntista tenha sorte, ele terá que ter uma conta a NuInvest (antiga EasyInvest) para poder ter acesso à sua BDR. Mas, por um tempo, poderá apenas olhá-la de longe, dado o lock-up (cláusula que impede a venda do papel) de um ano. Apenas após 12 meses da oferta que ele poderá vender o papel na Bolsa de Valores.

Vale a pena comprar BDR do Nubank?

Ambos os especialistas recomendam cautela dos investidores interessados na oferta. Caso vejam tamanho potencial de crescimento no Nubank, vale entrar no IPO, mas com pouco dinheiro, de modo que os papéis representem uma parte bem pequena de uma carteira de investimentos já diversificada.

“Não entrar no IPO se não estiver preparado. É preciso estar pronto para encarar a volatilidade de um IPO, com uma eventual queda de 10%, por exemplo”, diz Saravalle.

O investimento em IPO é um dos mais arriscados da renda variável e indicado apenas para investidores mais agressivos.

“Para quem acredita que o Nubank vai ser o maior banco digital da América Latina, faz sentido o investimento. Para valer mil dólares por cliente, é preciso escalar o negócio e aumentar muito a rentabilidade. É um investimento em uma empresa que ainda não provou que o seu modelo de negócio funciona, porque ainda não deu lucro”, afirma Larissa.

A analista estima que, para aguardar um eventual resultado positivo do banco, o investidor teria que segurar a BDR por, no mínimo três a cinco anos. O que não quer dizer que o papel não venha a subir e se valorizar antes.


IPO Nubank

Preço por BDR: entre R$ 9,35 e R$ 10,29 (estimativa)

Ticker: NUBR33

Inscrição para o NuSócio: a partir de 9 de novembro

Período de reserva para comprar BDRs: a partir de 17 de novembro até 7 de dezembro

Início das negociações das BDRs na B3 (Bolsa de Valores brasileira): 9 de dezembro