Klabin em queda: ‘investimento alto’ em fábrica desagrada mercado

Reunião que aprovou o projeto foi marcada por discordâncias entre os conselheiros

O investimento de R$ 1,57 bilhão pela Klabin (KLBN4) em uma nova fábrica de papel ondulado em Piracicaba (SP) não deve ser bem recebido pelo mercado, dizem analistas da XP. Eles destacam que a ata da reunião que aprovou o projeto mostrou discordâncias entre os conselheiros.

“No geral, o tom dos comentários de alguns conselheiros foi negativo, questionando não apenas o projeto em si, mas outras questões como alocação de capital e mecanismos de incentivo para a diretoria”, escreve o analista André Vidal.

Ele afirma que a Klabin ainda precisa divulgar informações mais detalhadas sobre a decisão de investimento, como premissas de valor presente líquido e capex para melhor analisar a geração de valor que a fábrica pode trazer.

A XP tem recomendação de compra para as units de Klabin, com preço-alvo em R$ 31,20, potencial de alta de 56,2% sobre o fechamento de ontem. Nesta quinta-feira (21), os papéis perdiam perto de 5%, negociados na faixa de R$ 18,15.

Itaú BBA: investimento alto e não parece agregar valor

O projeto não parece agregar valor do ponto de vista financeiro, diz o Itaú BBA, em relatório, reconhecendo a maior resiliência de ganhos após a integração do papel “kraftliner” em caixas de papelão ondulado.

Os analistas Daniel Sasson, Marcelo Palhares e equipe escrevem que o investimento por tonelada de R$ 6,50 parece maior do que as operações de fusões e aquisições do setor no Brasil.

Segundo eles, por outro lado, a integração da nova planta com seu fornecimento de matéria-prima de “kraftliner” em caixas de papelão ondulado é positiva, reduzindo a volatilidade nos resultados. ”Notamos que a resiliência dos lucros geralmente exige múltiplos mais altos”, dizem, acrescentando que a Klabin pode adicionar mais capacidade ao mesmo local no futuro.

Os analistas destacam ainda que a transação terá um impacto limitado no endividamento da empresa, dado seu pequeno porte ante a atual posição de dívida líquida da Klabin de cerca de R$ 18 bilhões. Para eles, a alavancagem está em uma posição confortável e a recente gestão de passivos da empresa a deixou em uma posição de liquidez muito confortável.

O Itaú BBA tem recomendação de compra para Klabin, com preço-alvo de R$ 29.

O projeto da Klabin em Piracicaba

Em sua estratégia de expansão e de integração das atividades do negócio de papelão ondulado, a Klabin anunciou o projeto Figueira, que compreende a construção de uma nova unidade de papelão ondulado. O projeto, com previsão de investimentos de R$ 1,57 bilhão, será montado na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo.

Segundo a companhia, a nova fábrica ficará em um terreno com área de 950 mil m² e localização estratégica. A empresa informa que o local tem condições para receber futuros projetos de produção de papel reciclado e capacidade adicional de papelão ondulado.

Atualmente, a Klabin já tem uma unidade de embalagens de papelão ondulado e outra de papel reciclado em Piracicaba. O novo local situa-se a 10 km de distância.

A capacidade de produção anual da nova unidade será de 240 mil toneladas de caixas de papelão ondulado, informou a companhia em comunicado ao mercado. A Klabin diz que a fábrica terá instalação de duas máquinas onduladeiras e de nove impressoras, além de toda infraestrutura e áreas de apoio do site.

“Será a maior fábrica de caixas de papelão ondulado do país, com a mais moderna tecnologia e a de maior índice de produtividade”, disse ao Valor o diretor do negócio de embalagens da Klabin, Douglas Dalmasi.

O início de produção da fábrica está previsto para o segundo trimestre de 2024. O terreno já está comprado e as obras de terraplenagem começam agora, após aprovação do projeto pelo conselho de administração da companhia, que ocorreu hoje.

O desembolso vai ocorrer entre os anos de 2022 e 2024 e o investimento total inclui cerca de R$ 200 milhões de impostos recuperáveis. O Figueira será financiado pela geração de caixa da companhia, disse o executivo.

Conforme informou a Klabin, após otimizações dos ativos atuais, a capacidade líquida incremental de papelão ondulado da companhia será de aproximadamente 100 mil toneladas por ano (duas unidades antigas serão desativadas). Com este projeto e a adição de capacidade do Projeto de Horizonte, no Ceará, anunciado este ano, a capacidade nominal de conversão de papelão ondulado da Klabin será da ordem de 1,3 milhão de toneladas anuais.

Segundo Dalmasi, o projeto reforça ainda mais o modelo de integração da empresa — desde a floresta (plantada) de eucalipto e pinus, passando pela produção de papéis, no caso o kraftliner, até o consumidor final de embalagens.