Eletrobras finaliza processo de capitalização: ação fica em R$ 42, e privatização está selada

Ações da empresa privatizada serão negociadas a partir de segunda-feira na Bolsa de Valores
Pontos-chave:
  • A venda da maior empresa de energia da América Latina foi a maior privatização já realizada por meio da Bolsa no Brasil
  • Além de ter sido a segunda maior oferta de ações do mundo neste ano, a venda da Eletrobras também foi a maior operação na B3 desde a megacapitalização da Petrobras, em 2012, que movimentou US$ 70 bilhões

A Eletrobras finalizou o processo de capitalização nesta quinta-feira e, com isso, estará privatizada. O procedimento de bookbuilding (coleta de intenções de investimento para formar o preço) se encerrou e o preço por ação foi fixado em R$ 42, de acordo com fontes ligadas à operação. O pontapé inicial da empresa privatizada será a negociação das ações a partir de segunda-feira na B3.

A demanda total da operação chegou a R$ 68 bilhões, muito acima da oferta, e por isso haverá um rateio entre os interessados. Algumas ordens, porém, foram feitas com ação abaixo do valor estabelecido e os interessados precisam aumentar a oferta para entrarem no negócio.

Com o preço das ações nessa faixa, a privatização da maior empresa de energia da América Latina movimentou cerca de R$ 33,7 bilhões, considerando inclusive o lote suplementar. Houve uma forte disputa para fechar o preço por ação, que acabou estabelecido em R$ 42.

Os fundos internacionais tentaram puxar esse valor para baixo. O preço ficou dentro do estabelecido pelo Tribunal de Contas da União para garantir a privatização.

A venda da maior empresa de energia da América Latina foi a maior privatização já realizada por meio da Bolsa no Brasil. Além de ter sido a segunda maior oferta de ações do mundo neste ano, a venda da Eletrobras também foi a maior operação na B3 desde a megacapitalização da Petrobras, em 2012, que movimentou US$ 70 bilhões.

Até ontem, a demanda estava girando em torno de R$ 55 bilhões, mas esse valor subiu por conta da adesão de investidores institucionais ainda nesta quinta-feira. Isso foi feito pelos investidores-âncora, que são aqueles que garantem a operação.

O Fundo Soberano de Cingapura (GIC) atuou como investidor-âncora, assim como o fundo de pensão canadense CPPIB. Já Itaú e o 3G Radar, que têm posições relevantes de Eletrobras em seus portfólios, também fizeram grandes reservas. Na lista dos investidores que também reservaram papéis da Eletrobras estão gestoras como SPX, Squadra e Truxt.

A oferta também forte reforço do FGTS, cuja demanda chegou a R$ 9 bilhões, mas o teto da oferta era de R$ 6 bilhões. No total, 370 mil trabalhadores usaram o fundo de garantia para fazer reservas pelos papéis.

Os bancos que lideram a oferta foram BTG Pactual (líder), Bank of America, Goldman Sachs, Itaú BBA, XP, Bradesco BBI, Caixa Econômica Federal, Citi, Credit Suisse, JPMorgan, Morgan Stanley e Safra.

O secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, comemorou o resultado.

“Muita gente duvidou, mas em menos de dois anos conseguimos preparar uma medida provisória, aprovar no Congresso Nacional, estruturar a modelagem mais complexa já vista e garantir a maior privatização da história do Brasil”, disse o secretário ao GLOBO.

As ações preferenciais da Eletrobras fecharam esta quinta-feira cotadas a R$ 42,50, alta de 2%.

A privatização é um símbolo para o ministro da Economia, Paulo Guedes, e para o presidente Jair Bolsonaro. O governo, até agora, não tinha conseguido vender nenhuma grande estatal de controle direto da União.

Mesmo mantendo um discurso de defesa da venda de praticamente todas as empresas públicas, Guedes não conseguira até agora emplacar nenhuma grande privatização — mesmo tendo vendido subsidiárias e participações via BNDES, que somaram cerca de R$ 250 bilhões.

Governo deve ficar agora com 35% da Eletrobras

A privatização da Eletrobras se deu por meio de uma capitalização na Bolsa de Valores. Foi feita uma oferta de ações que não foi acompanhada pela União. Com isso, a participação da União na empresa é reduzida para menos de 50%. A estimativa é que o governo ficará com cerca de 35%, de acordo com fontes a par do assunto.

Depois, ao longo dos próximos meses, o governo pode vender parte das ações que lhe resta, aumentando a arrecadação — já que a tendência é que as ações se valorizem.

Mesmo ainda tendo maioria, a União perde o controle da empresa por conta do modelo de privatização. Para evitar que algum ente público ou privado tenha poder de controle sobre a Eletrobras, a lei que trata da privatização diz que nenhum acionista ou grupo de acionistas terá direito a mais de 10% dos votos.

Empresa privada, sem controlador

Dessa forma, a Eletrobras se torna uma corporação sem controlador definido, seguindo modelo de outras grandes empresas do setor elétrico ao redor do mundo.

No total, o governo calculou em R$ 67 bilhões os valores relacionados à privatização ao longo de dez anos, mas nem tudo vai para os cofres públicos. Desse valor, R$ 25,3 bilhões serão pagos pela Eletrobras privada ao Tesouro neste ano pelas outorgas das usinas hidrelétricas que terão os seus contratos alterados.

A Eletrobras precisará pagar esse valor 30 dias após a assinatura dos contratos das usinas. O dinheiro da capitalização será usado para este fim. O governo pretende usar a arrecadação extra para ajudar a pagar a conta da redução de impostos sobre os combustíveis.

Serão ainda destinados ainda R$ 32 bilhões para aliviar as contas de luz a partir deste ano por meio do fundo do setor elétrico, a Conta de Desenvolvimento Energética (CDE). Desse montante, R$ 5 bilhões serão pagos neste ano e é uma das apostas do governo para baratear as contas de luz neste ano.

A Eletrobras ainda irá aportar o restante, por volta de R$ 8 bilhões, ao longo de uma década para bancar a revitalização de bacias hidrográficas do Rio São Francisco, de rios de Minas Gerais e de Goiás, e para a geração de energia limpa na Amazônia.

Considerando os valores envolvidos, esta é a maior privatização da História do Brasil, desde a venda do sistema Telebras pelo governo Fernando Henrique Cardoso, em 1998.