Binance: como a gigante de criptomoedas se tornou, segundo a Reuters, um porto seguro para hackers e fraudadores

Por cinco anos, a maior exchange de criptomoedas do mundo, serviu como canal para a lavagem de pelo menos US$ 2,35 bilhões em fundos ilícitos, diz a Reuters

A Reuters publicou na segunda-feira (6) uma reportagem sobre a Binance, maior exchange de criptoativos do mundo por volume de negociação, em que afirma que a corretora processou transações de hackers, fraudadores e traficantes de drogas de 2017 a 2021.

“Por cinco anos, a maior exchange de criptomoedas do mundo, a Binance, serviu como canal para a lavagem de pelo menos US$ 2,35 bilhões em fundos ilícitos”, diz a Reuters.

Com cerca de 120 milhões de usuários em todo o mundo, a Binance processa transações de criptomoedas no valor de centenas de bilhões de dólares por mês.

A agência de notícias disse que trabalhou com as empresas de análise de dados na blockchain Chainalysis e Crystal Blockchain para rastrear esses dados, ao mesmo tempo em que examinou registros judiciais e declarações de autoridades e órgãos reguladores em diferentes países.

Hoje, a Binance reagiu chamando a reportagem de “pérola sem fôlego”. A corretora de criptoativos disse ainda, em uma postagem em seu blog nesta terça-feira, que a reportagem da Reuters é “repleta de falsidades” e uma reunião de dados mal apurados.

A Binance está de olho nos investidores no Brasil. Em março, a exchange anunciou interesse em entrar no mercado brasileiro, por meio da assinatura de um Memorando de Entendimentos para a aquisição da Sim;Paul, corretora de investimentos tradicionais, criada em 2019, e autorizada pelo Banco Central e pela CVM desde meados de 2020.

A conclusão do negócio com a Sim;Paul ainda depende de aprovação das autoridades regulatórias brasileiras, inclusive o próprio Banco Central. Os valores envolvidos na aquisição não foram revelados.

“Nosso objetivo é ampliar a adoção de cripto globalmente com o propósito de gerar impacto positivo para os nossos usuários, a comunidade de cripto e blockchain, e para a sociedade como um todo”, disse Changpeng Zhao (CZ, como é mais conhecido), fundador e CEO da Binance, em comunicado à imprensa, em março, ocasião da assinatura do memorando para a aquisição da Sim;Paul.

A Binance, que registrou no Brasil a empresa B Fintech, que tem o próprio CZ como sócio, diz não ter presença oficial no Brasil. Os usuários da plataforma baseados no país fazem saques e depósitos por meio dos parceiros da corretora, como o banco digital Capitual.

Quem é o fundador da Binance?

O sino-canadense fundador e CEO da Binance, “CZ”, é hoje o homem mais rico do universo cripto e o 11º do mundo. Sua fortunada é estimada em US$ 96 bilhões. A cifra pode ser ainda maior. O levantamento do patrimônio feito pela Bloomberg não considera suas posses de criptoativos, que incluem, segundo a publicação, bitcoin e BNB, a criptomoeda criada pela corretora e que valorizou 1.300% em 2021.

Esta é a primeira vez que a lista “Bloomberg Billionaires Index” faz uma estimativa da fortuna de CZ, e o resultado o coloca como o homem mais rico da Ásia, à frente de Mukesh Ambani, indiano do ramo de energia. No ranking global, CZ fica pouco abaixo de nomes como Warren Buffett, oitavo colocado, com patrimônio estimado em US$ 116 bilhões. Claro, a fortuna dos bilionários do mundo cripto é extremamente volátil. Com a queda recente no preço do bitcoin e outras criptomoedas, isso tem reflexo imediato no patrimônio de CZ.

CZ, que já foi atendente do McDonald’s no Canadá, para onde mudou quando seu pai foi exilado da China, criou a corretora em 2017, e ela cresceu consideravelmente nesses cinco anos, tornando-se a maior do setor no mundo, mas não sem passar por diversas polêmicas.

Porto seguro para hackers e fraudadores, diz a Reuters

Segundo a investigação da Reuters, publicada na segunda, por cinco anos, de 2017 a 2021, a Binance serviu como canal para a lavagem de pelo menos US$ 2,35 bilhões em fundos ilícitos.

A plataforma de dados de criptomoedas Chainalysis, contratada por agências governamentais dos EUA para rastrear fluxos ilegais de criptoativos, concluiu em um relatório de 2020, que a Binance recebeu fundos de origem ilícita totalizando US$ 770 milhões somente em 2019, mais do que qualquer outra exchange de criptomoedas. CZ, o CEO da Binance, acusou a Chainalysis no Twitter de “má etiqueta nos negócios.”

Respondendo a perguntas escritas da Reuters, o diretor de comunicações Patrick Hillmann disse que a Binance não considera o cálculo da Reuters preciso. Ele não respondeu aos pedidos para fornecer os próprios números da Binance para os casos identificados na reportagem da Reuters.

Hillmann disse ainda que a Binance está construindo “a equipe forense cibernética mais sofisticada do planeta” e busca “melhorar ainda mais sua capacidade de detectar atividades ilegais de criptografia em nossa plataforma”.

A Binance foi banida da China, junto com toda a indústria cripto, e enfrentou problemas regulatórios e/ou legais em diversos países, como Itália, Singapura, Malásia, Reino Unido, Japão, Alemanha e nos Estados Unidos. A Binance é atualmente investigada pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) por violar as regras ao vender seu token BNB, quando a exchange estava decolando cinco anos atrás.

Em 2020, segundo a Bloomberg, a Binance gerou quase US$ 20 bilhões em receitas. Recentemente, a Binance, que é a maior corretora do mundo por volume de negociação, movimentou US$ 170 bilhões em um único dia. Num dia “fraco”, escreveu Exame em reportagem em janeiro, a plataforma movimenta US$ 40 bilhões — quatro vezes mais do que há dois anos.